Estamos nos aproximando da festa do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Para bem festejarmos esta importante festa cristã, é preciso que nos preparemos para isso, assim a Igreja em sua milenar sabedoria instituiu um tempo propício para nos preparar para acolher o maior presente que a humanidade já recebeu: é Deus que se fez um de nós, veio morar conosco, em Jesus Cristo. “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1,14).
Este tempo propício tem o nome de Advento, (etimologia latina, no termo adventum, que significa vinda ou chegada, no cristianismo tem o sentido da vinda de Jesus, o Messias) que se inicia quatro domingos anteriores ao dia de Natal. Dando assim início a um novo ano litúrgico.
O presente artigo tratará do Tempo do Advento com viés litúrgico e teológico, com a intenção de que ao viver este tempo especial, possamos, cristãs e cristãos, celebrarmos com maior profundidade, alegria, paz e esperança.
A história e o significado do tempo do Advento
As verdadeiras origens do Advento são incertas e as notícias que nos chegaram são escassas. É necessário distinguir elementos relativos a prática ascéticas de outros povos, de caráter propriamente litúrgico: um Advento como tempo de preparação ao Natal e um Advento que celebra a vinda gloriosa de Cristo (Advento escatológico). O Advento é tempo litúrgico típico do Ocidente; o Oriente tem somente uma breve preparação de poucos dias para o Natal.
Tem se notícias do Advento desde o Século IV e este tempo se caracteriza tanto em sentido escatológico quanto como preparação ao Natal. Sobre o significado originário do Advento muito se tem discutido, preferindo alguns optar pela tese do Advento natalício, outros pela tese do Advento escatológico. A reforma litúrgica do Concílio Vaticano II (CV II) quis, intencionalmente, conservar ambas as características de preparação para o Natal e de espera para a segunda vinda de Cristo.
A estrutura litúrgica do Advento no Missal de Paulo VI
O Advento consta de quatro domingos. Este tempo litúrgico, embora conservando sua unidade, como vemos pelos textos litúrgico e principalmente pela leitura quase cotidiana do profeta Isaias, é formado por dois períodos: 1> do primeiro domingo do Advento (neste ano de 2020 será dia 29/11) até 16 de dezembro dá-se maior evidência ao aspecto escatológico e procura-se orientar as almas para a espera gloriosa de Cristo; 2> do dia 17 de dezembro até o dia 24, tanto na missa quanto na liturgia das horas, todos os textos orientam-se mais diretamente à preparação do Natal. Os dois prefácios do Advento exprimem bem as características dos dois movimentos. Neste tempo litúrgico emergem três figuras bíblicas, características do Advento: o profeta Isaias, João Batista e Maria.
Tradição antiquíssima e universal escolheu para o Advento a leitura do profeta Isaias porque nele, mais do que nos outros profetas, se encontra um eco da grande esperança que confortou o povo eleito durante os séculos duros e decisivos da sua história. As páginas mais significativas do livro de Isaias são proclamadas durante o Advento e constituem um anúncio de esperança perene para as pessoas de todos os tempos.
João Batista é o último dos profetas e resume na sua pessoa e na sua palavra toda a história anterior no momento em que desemboca no seu cumprimento. Encarna bem o espírito do Advento. Ele é o sinal da intervenção de Deus em favor do seu povo; como precursor do Messias, tem a missão de preparar os caminhos do Senhor (cf Is 40,3), de oferecer a Israel o “conhecimento da salvação” (cf Lc 1,77-78) e, sobretudo, de apontar Cristo já presente no meio do seu povo (cf Jo 1,29-34).
O Advento, enfim, é o tempo litúrgico em que se dá destaque, de maneira feliz, à cooperação de Maria no mistério da redenção. Isto acontece como que ‘de dentro para fora’, interiormente, na celebração e, não, por superposição ou por acréscimo devocionista. Não é justo, porém, chamar o Advento de o melhor ‘mês de Maria’, exatamente porque este tempo litúrgico é essencialmente celebração do mistério da vinda do Senhor, mistério a que se acha particularmente ligada a cooperação de Maria.
A solenidade da Imaculada Conceição, celebrada no princípio do Advento (8 de Dezembro), não significa parênteses ou ruptura da unidade deste tempo litúrgico, mas é parte do mistério, Maria Imaculada é o protótipo da humanidade redimida, o fruto mais excelso da vinda redentora de Cristo. Nela, como canta o prefácio da solenidade, Deus nos deu “as primícias da Igreja, esposa de Cristo sem ruga e sem mancha, resplandecente de beleza”.
A teologia do Advento
O Advento possui seu conteúdo teológico bem rico; com efeito, ele considera todo o mistério da vinda do Senhor na história até a sua conclusão. Os diversos aspectos do mistério servem de recordação recíproca e se fundem em admirável unidade.
O Advento lembra, antes de tudo, a ‘dimensão histórico-sacramental’ da salvação. O Deus do Advento é o Deus da história, o Deus que veio plenamente para a salvação do homem em Jesus de Nazaré, em quem se revela a face do Pai (cf Jo14,9). A dimensão histórica da revelação recorda a concretude da salvação plena das pessoas, de todas as pessoas; portanto, o nexo intrínseco entre evangelização e promoção humana.
O Advento é o tempo litúrgico em que se evidencia fortemente a ‘dimensão escatológica’ do mistério cristão. Deus nos reservou para a salvação (cf 1Ts 5,9), mas trata-se de uma herança que se revelará apenas no fim dos tempos (cf 1Pd 1,5). A história é o lugar da realização das promessas de Deus e está voltada para o “Dia do Senhor” (cf 1Cor 1,8.5,5). Cristo veio na nossa carne, manifestou-se e revelou-se como ressuscitado, depois da morte, aos apóstolos e às testemunhas previamente escolhidas por Deus (cf At 10,40-42), e aparecerá glorioso no fim dos tempos (At 1,11). A Igreja na sua peregrinação terrena, vive continuamente a tensão do já da salvação toda realizada em Cristo e o ainda não da sua realização em nós e da sua plena manifestação na vinda gloriosa do Senhor juiz e salvador.
O Advento, enfim, ao mesmo tempo que nos revela as verdadeiras, profundas e misteriosas dimensões da vinda de Deus, recorda também o compromisso missionário da Igreja e de toda cristã e de todo cristão para o Advento do reino de Deus. A missão da Igreja em face do anúncio do evangelho a todas as nações é essencialmente baseada no mistério da vinda de Cristo, enviado pelo Pai; sobre a vinda do Espírito Santo, mandando pelo Pai e pelo, (ou para o) Filho.
A espiritualidade do Advento
A comunidade cristã, com a liturgia do Advento, é chamada a viver algumas atitudes essenciais à expressão evangélica da vida: a espera vigilante e jubilosa, a esperança, a conversão. A atitude de espera caracteriza a Igreja, a cristã e o cristão porque o Deus da revelação é o Deus da promessa que em Cristo manifestou toda a sua fidelidade à pessoa humana (cf 2Cor 1,20). Durante o Advento a Igreja não repete a parte dos judeus que esperavam o Messias prometido, mas vive a espera de Israel em níveis de realidade, que é Cristo. Agora vemos “como num espelho”, mas virá o dia em que “veremos face a face” (cf. 1Cor 13,12). A Igreja vive esta espera na vigilância e na alegria. Por isso, reza: “Maranathá: Vem, Senhor Jesus” (Ap 22,17-20).
O Advento, por conseguinte, celebra o “Deus da esperança” (Rm 15,13) e vive a alegre esperança (cf Rm 8,24-25). O canto que caracteriza o Advento, desde o primeiro domingo, é o Sl 25 (24): “A ti, Senhor, eu me elevo, ó meu Deus…”
Deus que entra na história põe em causa do ser humano, questiona-o. A vinda de Deus em Cristo requer contínua conversão: a novidade do evangelho é luz que exige despertar pronto e decidido do sono (cf Rm 13,11-14). O tempo do Advento, sobretudo através da pregação de João Batista, é convite à conversão para preparar os caminhos do Senhor e acolher o Senhor que vem. O Advento, enfim, educa para viver a atitude dos ‘pobres do Senhor’, mansos, humildes, disponíveis, e que Jesus proclamou bem aventurados (cf Mt 5,3-12).
A pastoral do Advento
A pastoral do Advento, não ignorando que este período, na nossa sociedade industrial, consumista, hedonista, individualista, coincide com o lançamento comercial da famigerada “operação natal”, justamente por isso, deve comprometer-se a transmitir os valores e as atitudes que estejam de acordo com a visão escatológica transcendental da vida. O Advento, com a sua mensagem de espera e de esperança diante da vinda do Senhor, deve formar comunidades cristãs e crentes individualmente que se proponham como sinais alternativos para uma sociedade em que as áreas do desespero parecem mais vastas do que as da fome e do subdesenvolvimento. A autêntica tomada de consciência, a verdadeira conscientização, da dimensão escatológica transcendente da vida cristã não deve diminuir, porém aumentar e fortalecer o compromisso com a redenção da história e a preparação, através dos serviços às pessoas prestado aqui na terra, considerando-a a matéria para o Reino de Deus. Na verdade, Cristo, com a força do seu Espírito, age e opera no coração das pessoas, não só para suscitar o desejo do mundo futuro, como também para inspirar, purificar e fortalecer o compromisso com a finalidade de tornar mais humana a vida terrena (cf Constituição Pastoral Gaudium et Spes 38 – CVII).
Se a pastoral for guiada e iluminada por estas perspectivas teológicas profundas e estimulantes, encontrará, na liturgia do tempo do Advento, o meio necessário e a ocasião propícia para enriquecer os cristãos e construir comunidades que saibam ser a alma do mundo.
Deus entra em nossas casas
Nestes tempos tão tenebrosos de Covid-19, requisita de todos a precaução e o cuidado para não ser contaminado pelo vírus, não permitindo que muitas pessoas, especialmente as idosas, participassem da preparação espiritual para bem celebrar o Natal de Nosso Senhor, na comunidade, com os grupos de rua que promovem e realizam e promovem a Novena de Natal.
No entanto, o distanciamento social, não pode servir de pretexto para não se preparar e bem viver este tempo litúrgico tão especial do Advento. Assim procure no seu lar, com seus familiares, viverem com fé, alegria e esperança estes dias. Certamente encontrarão, pela criatividade maneiras de refletir, rezar e acolher mais uma vez o Mistério da Encarnação e o Nascimento do Filho de Deus em nosso meio. Nos dias atuais, a tecnologia nos ajuda a aproximarmo-nos das pessoas distantes, como se diria: “juntos mas separados”, pode ser uma maneira de se preparar para este Natal do Senhor Jesus. Deus aproxima-se de todos e que se encontrar onde se passam os momentos mais importantes e singelos da vida, Ele quer nos encontrar em nossas casas.
Que cada pessoa esteja plenamente disposta a acolher Jesus em suas casas. Ele veio ao encontro de todas as pessoas: migrantes, perseguidas, excluídas, oprimidas, que sofrem preconceitos diversos. Acolhamos Deus que vem ao nosso encontro das mais variadas formas humanas em nossa realidade cotidiana.
Desejamos, um feliz e santo tempo do Advento.
4 respostas em “Advento”
Que texto lindo, e muito elucidativo, compreender o advento o que há de vir, de voltar, são as promessas de Deus atravéz de seus escolhidos, profeta Isaías, João Batista o precursor que vem preparando os caminhos do Senhor, que atravéz do sim de Maria vem se tornar um de nós, por amor a nós. Belo texto prof. Jairo Fedel. Obrigada. Ameiiiiii
Muito obrigada professor Jairo. Tenho recordações gratificantes de Novenas de Natal desde que meus filhos eram bem pequenos até o ano passado, quando nos reunimos com muitas pessoas pelas casas da minha vizinhança. Sua reflexão me ajudou a me sentir menos frustrada por não poder me reunir novamente com tantas pessoas queridas! Estaremos todos/todas unidas pela mesma esperança! Jesus vem ao nosso encontro neste Natal, através do seu Santo Espírito!
Excelente texto. Não só esclarece as origens do advento comonnos convida a viver a importância de estarmos sempre preparados para Jesus Cristo…
Muito oportuno o ensino sobre o Advento! Obrigado, Jairo Fedel, sempre didático!