Ó Luz Eterna, superior a toda luz criada, lançai do alto um raio que penetre todo o íntimo de meu coração. Purificai, alegrai, iluminai e vivificai a minha alma com todas as potências, para que a Vós se una em transportes de alegria.
Imitação de Cristo. Livro III, Cap. 34, nº 3.
Definindo Espiritualidade
Espiritualidade designa, de modo geral, o conjunto das perspectivas e das atividades humanas voltadas para tudo o que o ser humano busca como verdade, bem, beleza, justiça, paz: realidades ou valores que estão no horizonte da vida humana, sustentam-na e se manifestam no dia a dia. Na tradição judaico-cristã, essas realidades ou valores vêm de Deus e nos orientam para Deus, que é Espírito e Amor. Essas formas de agir são denominadas espirituais, em contraste com os modos materiais de agir, comandados exclusiva ou principalmente pela busca do poder, da riqueza ou do prazer, mais ou menos à revelia da consideração de Deus, cujo desejo está inscrito no coração de todo ser humano, e que nos une a todos e a todas como irmãos e irmãs, em comunhão, como filhos e filhas de um mesmo Pai.
A espiritualidade corresponde às exigências da verdade profunda do que é o ser humano: seu fundamento primeiro, portanto, é antropológico. Toda pessoa é chamada a uma vida espiritual. Sob esse aspecto, devemos levar em conta a espiritualidade em sentido amplo, iluminando-a com as exigências da espiritualidade de Jesus, homem reconhecido como Verbo encarnado, que está na raiz da nossa história pessoal e das comunidades cristãs, as quais, nas mais diversas tradições culturais, se caracterizam pela busca da fidelidade à Verdade, à Justiça e ao Amor, no seguimento de Jesus, em quem reconhecemos a Verdade de Deus que vem à nós.
O desejo de Deus é a expressão concreta da capacidade que a pessoa tem de conhecer e amar a Deus, mesmo naqueles que não o reconhecem explicitamente. Como tal, esse desejo está na raiz de toda a espiritualidade humana.
A Espiritualidade Cristã
Partindo da realidade da vida, e levando em conta as fontes bíblicas, que se resumem na centralidade de Jesus, indicamos quatro elementos que se podem considerar os eixos determinantes da espiritualidade Cristã:
- Nossa condição de criaturas, tendo inscrito no íntimo de nós mesmos o desejo de Deus.
- A forma de viver resultante de nossa vocação à comunhão com Deus, acolhendo os caminhos de Deus, a partir da experiência do povo reunido em torno da vinda ao mundo do Verbo encarnado.
- A experiência de nossa condição existencial, chamados a nos realizarmos a partir do coração, guiados pela inteligência e sustentados pela vontade.
- O efetivo trilhar dos caminhos que nos conduzem à progressiva e plena participação na vida de comunhão com Deus.
Empecilhos e desafios à vida espiritual
I. Superficialidade versus interioridade:
O que predomina no mundo de hoje não é a vida interior que demanda profundidade, mas impera a superficialidade; não a interioridade, mas a exterioridade. Perturbado por muitos ruídos e carregado de ocupações e preocupações. É o rádio, a televisão, o celular, a internet, shows, e até showsmissas. Tudo ganha mais e mais proeminência, velocidade, miniaturalização e a maior comunicação possível.
Como criar tempo, espaço e condições para encontrar-se consigo com Deus, consigo mesmo e escutar o que Ele tem a dizer, e o que vem de dentro do coração?
O efeito final desse modo de viver, que constitui a cultura dominante, é, não raro, um imenso vazio, surgindo medo difuso, síndrome do pânico e outros sintomas semelhantes.
II. A espetacularização do religioso
Há tempos se percebe à volta e à revitalização de todo tipo de religião, de caminhos espirituais e de esoterismos. Nesse retorno do religioso ou místico há elementos positivos, pois fez com que as pessoas descobrissem uma dimensão tornada invisível no mundo moderno, sendo portadora de sentido de vida.
Entretanto muitas dessas experiências foram apropriadas pelo mercado, que de tudo faz negócio e oportunidade de ganho. A religião se transformou em mercadoria. Exploram-se carências humanas, sentimentos de abandono e de fragilidade para oferecerem remédios imediatos e miraculosos. Organizam-se verdadeiros espetáculos religiosos com famosos pregadores, alguns cantores, todos verdadeiros artistas do entretenimento religioso, através da televisão ou de concentrações que reúnem milhares e milhares de pessoas.
Há inúmeros segmentos da Igreja Católica Romana, como os movimentos carismáticos e os novos movimentos laicais de “evangelização”, criaram programas de rádio, mas especialmente de televisão, nos quais se faz a “aeróbica de Deus” e se usam símbolos poderosos que eletrizam multidões. Em tal campo, a diferença entre as expressões neopentecostais e as carismáticas católicas da mesma natureza são muito similares. Fundamentalmente obedecem à mesma lógica e a mesma encenação midiática.
Nessa exteriorização toda, onde fica o encontro pessoal com Deus? A percepção de nossa conexão com o Todo Maior? A comunhão com todos os demais seres, nos quais o Espírito também atua? Como nos relacionamos com cuidado e responsabilidade com a Mãe Terra e com seus filhos e filhas sofridos? Há escuta do eu profundo?
Frequentar cultos, participar de shows religiosos, cantar e dançar diante do altar de Deus não constitui espiritualidade. Tudo isso não passa de pobre expressão religiosa, construção cultural, diferente da cultura local.
Espiritualidade é a dimensão do profundo humano, aquilo que chamamos de vida interior.
III. Porém há um fenômeno global, de uma busca sincera e sofrida de vida interior. Pessoas que se encontram para questionar o sentido da vida, para submeter à crítica nosso paradigma cultural consumista, produtor de injustiças sociais e dilapidador da natureza; para se perguntarem sobre o destino da humanidade, hoje globalizada; sobre o futuro de nosso planeta, submetido a grandes transformações devido à crise ecológica e climática irrefreável. Como redefinir a família hoje, especialmente por causa da falta da figura do pai: como rezar, meditar e entrar em comunhão com Deus?
Trocam-se experiências, comentam-se textos espirituais da grande tradição da humanidade ou de modernos, abre-se o coração aos outros para externar angústias e conquistas, forma-se eventualmente pequenas comunidades de eleição e de destino…
Para esses, a espiritualidade e a vida interior são de grande significação. Como efeito surge certo distanciamento do mundo, uma crescente aversão ao consumismo de bens materiais e o cultivo de bens imateriais como o silêncio, a oração, a meditação, a música, a arte, o belo… o apoio a alguma iniciativa humanitária ou mesmo a participação na vida de alguma comunidade carente.
Vida interior
Para nosso estudo, vida interior significa profundidade humana. Então, a vida interior, o profundo emerge quando a pessoa para, quando faz silêncio, quando passa a olhar para dentro de si, quando pensa seriamente, quando coloca-se questões decisivas como:
Que sentido tem minha vida?
O que estou fazendo aqui?
Que significado tem esse universo de coisas, de aparelhos de trabalhos, de prazeres, de sofrimentos, de lutas e vitórias?
Qual o meu lugar junto aos demais seres, com a Criação de Deus?
O que posso esperar para além desta vida, já que vejo tantos amigos próximos morrerem, às vezes, de forma absurda: no trânsito, por bala perdida, de uma doença voraz, covid19?
Afinal, por que estou neste planeta, tão belo e tão maltratado?
Quem oferece respostas para tantas perguntas?
Geralmente as religiões sempre se ocupam destas questões. As filosofias antigas e modernas estão sempre às voltas com tais interrogações existenciais. A sabedoria dos povos se formou tentando elaborar visões e lições a partir desses questionamentos.
Mas voltamos a afirmar: não basta frequentar cultos, aderir a um caminho espiritual e se alimentar de ritos e símbolos se estes não produzem dentro da pessoa uma experiência de sentido, uma comoção nova, uma percepção do todo do qual somos parte e uma mudança vital.
Vida interior não é monopólio das religiões e dos caminhos espirituais; estes vêm depois. Vida interior é uma dimensão do ser humano, por isso é universal.
As religiões cumprem sua missão quando suscitam e alimentam a vida interior de seus seguidores, mas elas não a substituem. A grande patologia presente em setores importantes das religiões e das igrejas é a autoafirmação, ou seja, consideram-se fins em si mesmas, quando são meios e espaços a serviço da vida interior. Quando ocupam seus fiéis com doutrinas, ritos e mandamentos e não criam neles condições para um encontro pessoal com Deus, fazendo a viagem para o seu interior, rumo ao coração, as religiões se desnaturam e se pervertem. Elas podem significar uma grande escravização que se revela pelo fundamentalismo e pelo terrorismo de base religiosa.
A vida interior representa, atualmente, a dimensão esquecida da humanidade. Importa resgatá-la, pois nela se encontra o segredo da felicidade, da responsabilidade diante de toda a vida, do cuidado para com toda a Criação, especialmente com o Planeta Terra e o Outro. Ela significa o sagrado em nós, que nos propicia o sentimento de dignidade, de respeito e de reverência.
O efeito mais imediato dessa vida interior é a paz e a serenidade. São forças que permitem enfrentar os problemas cotidianos da vida sem perder a cabeça ou estressar-se demasiadamente. É uma atmosfera de sentido que sustenta as pessoas, mesmo diante das tragédias ou grandes decepções; é aquilo que confere peso e densidade. O cultivo permanente da vida interior produz irradiação sobre as pessoas, um efeito de tranquilidade e de pacificação. As pessoas se sentem bem e encontram repouso junto àqueles que têm vida interior.
Ter vida interior, como é sabido e repetido, é não ter mais solidão, em seu sentido negativo, que é um dos maiores inimigos da pessoa, pois lhe desenraíza de sua conexão universal, dando-lhe o sentimento de desamparo e fazendo-a vivenciar o inferno. A vida interior é uma antecipação do céu com todas as suas doçuras.
Lembrando que a vida interior, não é uma alienação, ou fechar os olhos, a tudo que acontece ao redor, nem abandonar os fatos que influenciam a vida de uma comunidade, de uma sociedade, do país, do mundo; pelo contrário, através da vida interior, se é capaz de discernir o que se passa no mundo, e com a força da vivência, da experiência adquirida pela contemplação, oração meditativa, se é capaz de modificar para melhor, o seu entorno, criando, assim, uma “onda” espiritual de bem estar, de paz, que influência tudo e todos, que nos circundam.
Há muitos caminhos e métodos para alimentar a vida interior, e a humanidade é rica deles, precisamos valorizá-los, cada pessoa precisa discernir qual é o mais adequado para si.
Ouso apresentar dois métodos, ou técnicas, baseados em metodologia cristã, adequados para nossos tempos acelerados e distraídos: a leitura orante, ou conhecida também como Lectio divina; e os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, estes requerem um acompanhamento por pessoas mais preparadas para que o exercitante não caia em “armadilhas” espirituais, como diz o próprio Santo Inácio.
Leitura Orante da Bíblia ou Lectio Divina
A Lectio Divina é um método de oração muito praticado na Igreja desde os seus primórdios e, segundo D. Garcia M. Colombás, “ler, escutar, reter, aprofundar, viver a Palavra de Deus contida na Escritura, mergulhar nela com fé e amor: nisso consiste essencialmente a Lectio Divina”. O primeiro a utilizar a expressão Lectio Divina foi Orígenes – teólogo e escritor cristão (aproximadamente 185-253 d.C.) -, que afirmava que, para ler a Bíblia com proveito, é necessário fazê-lo com atenção, constância e oração. Tempos depois, a Lectio Divina transformou-se na coluna vertebral da vida religiosa. As regras monásticas de São Pacômio, Santo Agostinho, São Basílio e São Bento fizeram dessa prática, junto ao trabalho manual e a liturgia, a tripla base da vida monástica. A sistematização da Lectio Divina em quatro escalas provém do século XII.
O Concílio Vaticano II, em seu decreto Dei Verbum 25, ratificou e promoveu com todo o peso de sua autoridade, a restauração da Lectio Divina, que teve um período de esquecimento por vários séculos na Igreja. O Concílio exorta igualmente, com ardor e insistência, a todos os fiéis cristãos, especialmente aos religiosos, que, pela frequente leitura das divinas Escrituras, alcancem esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo (Fl 3,8). Porquanto “ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo” (São Jerônimo).
Embora seja uma oração individual, também pode ser praticada em grupo. As leituras bíblicas mais indicadas para a Lectio Divina são basicamente os Salmos e os Evangelhos, de forma especial que seja da liturgia diária, e não a esmo ao abrir a bíblia em qualquer página como se fosse o periquito do realejo. É bom deixar bem claro que não existe uma evidente distinção ou zona fronteiriça entre os quatro diferentes degraus da Lectio Divina. Eles chegam a se confundir um com o outro e a se completar. Cada degrau simplesmente segue o anterior. Inicie a Lectio Divina, invocando o Espírito Santo.
Degraus da Lectio Divina
1) Lectio (Leitura)
O leitor-orante está iniciando o primeiro degrau ou passo da Lectio Divina. Portanto, de preferência, deve estar com o corpo bem relaxado e acomodado. Também a mente deve estar livre de quaisquer preocupações ou inquietações. Deve ser escolhido um texto bíblico, de preferência curto, o evangelho do dia é sempre a leitura mais indicada. Ele deve ser lido bem lenta, pausada e cuidadosamente (ser ouvido interiormente) com toda a atenção. O leitor-orante deve apropriar-se das palavras como se Deus as dissesse para ele, naquele momento. A leitura do texto bíblico pode ser repetida quantas vezes se fizer necessário, até que ela faça morada no coração de quem a lê. O leitor-orante não pode se esquecer de que ele é um ouvinte da Palavra de Deus e, como tal, deverá sentir-se tocado pelos mesmos sentimentos com os quais o texto lido foi escrito. É necessário deixar-se envolver pelo texto. Ele deve responder à seguinte pergunta durante a leitura: O que diz o texto?
2) Meditatio (Meditação)
Superado com êxito o primeiro degrau ou passo da Lectio Divina, o leitor-orante dá início ao segundo degrau ou passo da mesma. É preciso deixar o texto bíblico agir nele e, para que isso aconteça, faz-se necessário “ruminar, mastigar, digerir” a Palavra de Deus até descobrir o que é que Deus está falando com ele. Neste momento particular, pode-se imitar a atitude de Samuel: “Fala, Senhor, que teu servo escuta” (1Sm 3, 1-10ss). Para isso é necessário dialogar com o texto, fazendo com que ele participe da vida do leitor-orante: a vida ilumina o texto e o texto ilumina a vida.
Trata-se aqui de uma atualização do texto para mim mesmo, por isso a pergunta a ser respondida é: O que diz o texto para mim hoje, agora?
3) Oratio (Oração)
O terceiro degrau ou passo da Lectio Divina é a oração. Nos dois degraus ou passos anteriores era a Palavra de Deus que se manifestava ao leitor-orante. Era ela que conduzia o diálogo: era dela que vinham as respostas. Agora, acontece o contrário. O leitor-orante é o protagonista do diálogo oracional. Se antes era Deus quem lhe fazia a proposta, agora, através da oração, é ele quem responde a Deus. Ele passa a conversar com Deus a partir do texto bíblico. Sua resposta – oração ou diálogo com Deus – pode ser uma súplica, uma ação de graças, uma petição etc. Aqui poderá ser imitada a atitude de Maria: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). A pergunta que se deve fazer é: O que o texto me faz dizer a Deus?
4) Contemplatio (Contemplação)
O último degrau ou passo da Lectio Divina é a contemplação, que por assim dizer é o resultado natural a que se chega pelos passos percorridos anteriormente. Agora as palavras já não se fazem necessárias. Basta o silêncio oracional. É preciso calar-se e entregar-se a Deus. É preciso permitir que seja Ele a agir. É um momento de adoração. A vida, o mundo, as pessoas passam a ser vistos a partir dos critérios de Deus. A visão de tudo se dá a partir de Deus.
Referindo-se aos diferentes degraus ou passos da Lectio Divina, o monge Guigo II afirmava em forma de resumo: “A Leitura procura a doçura bem-aventurada; a Meditação encontra-a; a Oração pede-a e a Contemplação saboreia-a. A Leitura conduz o alimento à boca; a Meditação mastiga-o e digere-o; a Oração formula o desejo e a Contemplação atinge o gosto e a doçura; a Contemplação é uma elevação do espírito acima de mim mesmo; suspensa em Deus, ela saboreia as alegrias da doçura eterna”1.
Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola
Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola (EE) são um instrumento pedagógico para ajudar a pessoa a tomar consciência de si mesma, dos talentos que lhe confiou o Criador, reavivar os sonhos e projetos, situar-se pessoalmente na história da Salvação deixando-se interpelar por Cristo para o seu seguimento.
Os EE caracterizam mais por sua pedagogia que por um conteúdo teológico; e esta pedagogia busca acompanhar a pessoa na sua “experiência de Deus”.
Por isso, antes que propor uma teologia, S. Inácio, nos EE, se interessa pela pessoa que tem diante de si. É importante que tal pessoa possa “aproveitar-se”, que seja capaz de liberdade para seguir o desejo profundo que a anima, aberta à “variedade dos espíritos”.
Ainda que sejam profundamente teocêntricos e cristocêntrica, os EE põem o ser humano no centro. A pedagogia que propõem não tem seu ponto de partida numa estrutura eclesiástica ou num “corpo teológico” particular, mas na experiência mesma da pessoa.
Procede por indução, a partir da realidade vivida de maneira única por uma pessoa precisa, sem outro instrumento específico que o discernimento. Tem em conta uma situação, um desejo, uma vontade, algumas possibilidades.
Apoiada sobre estes fatos ela conduz à experiência imediata de Deus, descobrindo sua presença ativa na pessoa mesma. Funda-se sobre uma convicção: a Vontade divina não existe independentemente desta pessoa e de suas circunstâncias, como se fosse uma entidade externa, que subsistisse por si mesma.
A originalidade do processo inaciano consiste na possibilidade da pessoa de encontrar a Deus em si mesma, através daquilo que ela vive. S. Inácio não confunde Deus com algo no fundo do ser humano, à maneira panteísta.
Deus existe em si mesmo, é o Criador e Senhor de quem “é próprio entrar, sair, causar moções na alma, atraindo-a toda ao amor de sua divina majestade” (EE. 330). Ele age a partir do interior da pessoa, como uma força, um dinamismo, uma vitalidade.
Para “entrar em Exercícios”, precisamos tornar-nos um pouco “beduínos do deserto”, nômades do Absoluto, livres e desprendidos das coisas materiais. Como os beduínos, as pessoas contemplativas são calmas e tranquilas2.
O roteiro que segue abaixo, deve ser a prática diária do exercitante. Santo Inácio estruturou os EE após sua experiência mística às margens do Rio Manresa. Inicialmente são feitos em 30 dias de retiro, onde, com acompanhamento espiritual de uma pessoa especialmente preparada para isso, vai encaminhado o exercitante na sua trajetória em busca de “em tudo amar e servir para maior gloria de Deus”.
Um caminho para rezar…
Em ambas técnicas, o resultado final deve ser sempre se dispor à vontade de Deus; não se pode sair da oração meditativa, ou contemplativa, sem o desejo de “em tudo amar e servir” no dizeres de Santo Inácio. Há que se ir ao encontro do outro, especialmente do excluído, do sofrido, do pobre; do carente, existem muitas pessoas carentes de ouvidos que as ouçam, de pobres que a única coisa que possuem é riqueza material; para esses deve-se levar uma palavra amiga, que preencha o vazio de seus corações e suas almas.
Os efeitos da oração contemplativa, deve perdurar por todo o tempo, até a próxima oração, só assim alcançará a plenitude da Vida.
“É por uma graça privilegiada que o P. Inácio concebeu esse estilo de oração. De outra parte, ele sentia e contemplava a presença de Deus em todas as coisas. Contemplativo na ação, ele compreendia a dimensão espiritual de todas as suas ações e de todos os seus encontros. O que lhe fazia dizer: ‘é necessário encontrar Deus em todas as coisas’.”
Padre Nadal
Encerremos com a oração de Santo Inácio de Loyola:
Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade e a minha memória também.
O meu entendimento e toda a minha vontade, tudo o que tenho e possuo vós me destes com amor.
Todos os dons que me destes com gratidão vos devolvo.
Disponde deles, Senhor, segundo a vossa vontade.
Dai-me somente o vosso amor, vossa graça.
Isto me basta, nada mais quero pedir.
Notas 1) http://www.mosteirosaojoao.org.br/lectio-divina.php Acesso em 04/07/2020 2) Texto do Pe. Luis Renato, SJ (Equipe do EVC - Mosteiro de Itaici)
Referências BALTHASAR, Hans Urs von. Quem é cristão? 2ª Ed. São Paulo: Fonte Editorial, 2010. BOFF, Leonardo. Meditação da luz: o caminho da simplicidade. Petrópolis, Vozes, 2010. CATÃO, Francisco. Espiritualidade cristã. São Paulo: Paulinas; Valência (Espanha): Siquem, 2009. (Coleção livros básicos de teologia; 14). KEMPIS, Tomás de. Imitação de Cristo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016. LOYOLA, Inácio. Exercícios Espirituais. 13ª Ed. São Paulo: Loyola, 2013.