A juventude tem nas costas a esperança de uma geração para qual o tempo vai se esgotando. Nesse sentido, é dada aos jovens a tarefa de construir uma nova sociedade, como também uma nova Igreja. Eles estão recebendo, porém, as condições necessárias para fazer melhor aquilo que nós mesmos muitas vezes não conseguimos? Para evitar exemplos abstratos, gostaria de partilhar um pouco da minha própria história.
Eu devia ter uns 13 ou 14 anos quando fui “obrigado” por minha querida mãe a fazer a Crisma na paróquia. Acredito que esse foi o ingresso de muitos de nós na Igreja – obrigado às mamães (risos). Eu não era muito de frequentar a Igreja; no entanto, fui acolhido, fiz amizades e comecei a ter a paróquia como um lugar bacana para se conviver. Aos poucos, fiz daquele espaço a minha segunda casa. O ser humano é reconhecidamente gregário. Tem quem, por exemplo, se encontre num grupo de pessoas com o mesmo gosto musical; outros preferem estar próximos de quem torce para o mesmo time; outros, ainda, se identificam com pessoas da mesma religião – e isso era o que estava acontecendo comigo.
Hoje, escuto murmúrios de que o jovem não está mais na Igreja. Contudo – reflita – como os nossos jovens estão sendo acolhidos em nossas comunidades? O grande atrativo que a Igreja pode oferecer é, sem dúvidas, Jesus Cristo. No entanto, o anúncio desta Boa Nova precisa ser adaptado aos diversos públicos. Caso contrário, continuaremos contando com a autoridade das mães que obrigam os filhos a irem para a Igreja. Enfim, voltemos à minha história…
Ampliando o horizonte
A visão que eu estava construindo da instituição Igreja era bastante limitada e se resumia na perspectiva da minha paróquia, do meu grupo, da minha pastoral. Não que isso seja ruim, mas se essa compreensão não fosse alargada, provavelmente eu seria mais um para as estatísticas de “católico não praticante”. Foi em 2001, quando me tornei colaborador na fundação pontifícia “Ajuda à Igreja que Sofre” (ACN), que passei a conhecer uma Igreja para além dos muros da minha paróquia. E como só se ama o que se conhece, também o meu amor pela Igreja aumentou. Sim. Eu precisei buscar fora da paróquia um entendimento maior e melhor sobre o que é a Igreja Católica.
Começava um novo período da minha vida, marcado por uma dupla dúvida vocacional: ser padre ou casar. Eu imaginava que, se me tornasse padre, poderia ajudar muita gente; se me casasse, a minha ação seria limitada à família, para poucas pessoas. Eu me angustiei demais por causa disso. No fim eu precisei ser sincero comigo mesmo e venceu a opção pela relação a dois, pelo Matrimônio, por constituir uma família. Entretanto, mesmo depois de casado, aquela dúvida vocacional voltou na minha vida, mas agora transformada. Foi aí que conheci melhor o ministério diaconal.
Hoje eu sustento junto com toda a minha família esses dois chamados: o casamento e o diaconato permanente. A vocação – do Matrimônio ao sacerdócio – é coisa séria e carece de bons exemplos: de padres que testemunhem que vale a pena uma vida toda para Deus e de casais que possam comprovar que a família não é, de fato, uma instituição falida.
Refletindo sobre a minha própria história, percebo que é injusto cobrar um mundo melhor somente da juventude. E se tocarmos apenas a vida de fé, então precisamos rever a nossa acolhida e o espaço que damos aos jovens, como efetivamos a eles o querigma [a letra pela letra ou a doutrina experienciada na caridade evangélica], qual formação oferecemos para que eles tenham mais certezas e menos dúvidas e, principalmente, como temos testemunhado a tudo isso.
Artigo publicado no jornal 'O São Paulo' [Ano 68 | Edição 3455 | 12 a 18 de julho de 2023] da Arquidiocese de São Paulo » https://osaopaulo.org.br/cidadania/jovens-igreja-e-vocacao/