Fé e Política na Bíblia (Pt-2)

Na primeira parte deste artigo, tratamos, de forma resumida, a questão da fé na Sagrada Escritura. Nesta segunda parte do artigo vamos tratar da Política e de como podemos identificá-la na Palavra de Deus.

Política

O termo política tem sua origem na palavra grega polis que significa cidade, ou seja, a política é entendida como algo da coisa pública, que se refere às cidadãs e aos cidadãos, pessoas que vivem na cidade. Nesta perspectiva, ela deve ser algo conhecido e apropriado pela população, pois está conectada aos direitos inerentes a cada cidadão e cidadã.

Outra forma de ação política que se tem é a política partidária que é entendida como a forma política pela qual são eleitos candidatos para representar o povo nas duas esferas: o executivo e o legislativo. Nesse sentido, o primeiro tem por atribuição governar (administrar) e o segundo fazer as leis (legislar).

Nós todos estamos, de alguma forma, inseridos na política, queiramos ou não. No entanto, para a maioria da população, o tema da Política é visto como algo que não prende o interesse, pelo fato de verem, ou pensarem, que é tudo “farinha do mesmo saco”, ou que todos, que exercem algum cargo político, pensam apenas em dinheiro e não no bem comum da população.

Esse tipo de pensamento faz com que os brasileiros sejam um dos povos que possuem menos entendimento sobre política e, com isso, tenham dificuldades em fazer valer os seus direitos, começando por não terem uma visão do melhor candidato em quem votar e, quando votam neste ou naquele, não sabem quais as formas de cobrar as promessas de campanha feitas pelos que foram eleitos.

Os escândalos com desvios de dinheiro público, corrupção, influências, favorecimentos pessoais, luta pelo poder, jogo de interesses escusos, tudo isso repercute de maneira negativa na vida e na opinião da população, que como a enxergar que todos esses fatores fazem parte da natureza política e isso é um grave engano.

Na verdade, há interesse de uma parcela da classe política, para que a população tenha aversão as questões políticas, pois assim, eles podem agir da forma que quiserem, pois a população, de maneira geral, está “desligada” do que realmente acontece, tanto nas esferas do executivo como do legislativo.

No entanto, não somos livres para estar ou não em Política, e sim para adotar esta ou aquela posição Política, porém a atitude mais comum seja ficticiamente “apolítica” de não tomar expressamente nenhuma. Quem se posiciona politicamente, na verdade, está fazendo política “passivamente” com o poder estabelecido. Não cabe evitar o compromisso político alegando razões moralistas para fugir à dedicação à Política, “essa arte tão difícil e tão nobre” (GS 75) quando há condições para ela.

“A política é a forma mais perfeita da caridade”

Papa Pio XI (1857-1939)

Para uma sociedade que se professa, em sua maioria, cristã, a Bíblia é um instrumento que oferece exemplos de práticas Políticas justas e claras para todos e todas.

Uma das atividades que os cristãos devem fazer em sua vida é a participação. Essa participação pode ser feita em muitas esferas da vida, de modo especial da Política. Isso porque é nessa área que a participação pode fazer a diferença, é aí que se pode zelar pelo cumprimento da ética e se colocar a serviço de muitos.

A sociedade atual passa por um período de significativas mudanças, de modo que é preciso haver mais participação política na nova conjuntura do Estado, uma vez que o próprio Estado ainda não consegue assimilar essas mudanças de maneira imediata.

Um fator que deve ser observado, com muita atenção, no tocante à postura do político é a sua integridade com relação à corrupção, uma vez que nesse segmento social existem muitas possibilidades para que os que fazem da política venham a procurar realizar seus interesses pessoais por meio de alianças desonestas com os promotores da degradação do gênero humano em suas diversas formas (LGBTQI+, Negros e Negras, Quilombolas, Ribeirinhos, Povos Originários, Mulheres, Pobres, etc.). Isso se torna mais grave pelo fato de que essas pessoas políticas são eleitas por meio do voto do povo que a elas confiam uma atividade em seu nome e conferem autoridade para o exercício da Política.

Diante dessa nova perspectiva de ação política surge a participação, especialmente de pessoas engajadas nos ensinamentos de Jesus de Nazaré, como meio de tratar, de forma direta, esse assunto tão importante para a ação Política como para o processo de democratização da Política. A participação popular dever ser estimulada por todos os setores sociais, inclusive pela Igreja.

Isso é muito importante para a construção de uma cultura de participação popular, pois ajuda as pessoas a se articularem em grupos, fazendo-as participarem de uma maneira mais efetiva do processo de decisão dos rumos da sociedade. Esse é um viés que pode fornecer os caminhos mais acessíveis ao exercício da democratização da Política e participação na Política. Dessa forma o aspecto individualista cede lugar ao meio de ação coletiva, que trabalhe em favor da solidariedade que está centrada na mentalidade das pessoas, em que todos e todas são convidados/as a exercer no processo de transformação social e busca do Bem Comum.

O desafio de construir uma sociedade com maior nível de participação, envolvendo a resolução de problemas, não é fácil e exige bastante dedicação para que seja efetivado de modo satisfatório. Para que isso aconteça, é necessário que todas as pessoas batizadas, possam afirmar seu Batismo se comprometendo com a causa da sociedade também em sua vida.

O caminho para a construção de uma sociedade verdadeiramente inclusiva, que vai ao encontro de todas as camadas da sociedade, fazendo uma política pública participativa, só pode ser feito com muita luta e empenho dos envolvidos no tal projeto. Por essa razão, deve-se ter fé em que as coisas podem acontecer de maneira favorável e não fugir a luta.

A baliza principal no quesito de entendimento e de ação social é a Sagrada Escritura, somente assim, cristãos e cristãs compromissadas com seu Batismo, poderão ser sal da terra e luz do mundo (cf Mt 5,13-16), cumprindo o seguimento de Jesus de Nazaré sendo colaboradores da promoção do Reino de Deus, aqui e agora, um reino onde predomina a inclusão social, em que todos e todas são partícipes da formação do mesmo. É dessa forma que se pode construir uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.

Cidadania: dogma central da fé cristã

Liberdade é a palavra mais badalada de todos os tempos. Nos dia atuais, esta palavra se associa a outra palavra que se tornou importante: cidadania. Os dois vocábulos andam juntos: as duas caras da mesma moeda: dignidade humana.

Mas quanto mais cresce a consciência de dignidade do ser humano e, em consequência, os escritos sobre o valor de cada pessoa, proporcionalmente parecem crescer as estruturas e os mecanismos que negam na prática o que o pensar conquistou.

É grande o conflito que a humanidade vive e sempre viveu: a dicotomia entre a teoria e a práxis, o abismo entre o pensar e o agir.

Paulo diria: “Não consigo entender nem mesmo o que eu faço; pois não faço aquilo que eu quero, mas aquilo que mais detesto.” (Rm 7,15).

Mas o que é liberdade? como ela casa com cidadania?

Liberdade é a autonomia de decisão. Liberdade é correlacionada ao poder de decidir a fim de alcançar os objetivos que permitem a realização pessoal e, consequentemente, a felicidade.

A vocação à liberdade, ao poder de decisão, ao desejo de realização e felicidade esbarra em obstáculos; nos apercebemos que podemos não ser felizes, que somos incompletas, que até podemos fazer o mal no caminho da nossa própria realização.

A liberdade, a caridade, o poder-serviço questionam as estruturas do mal. Não podemos fugir do poder. O poder é. Nós somos poder. Não há como escapar: viver é poder. A questão é como exercer o poder: com autoritarismo ou participação; concentrando ou partilhando; dominando ou servindo.

O serviço é o jeito cristão de exercer o poder.

Ao falar de liberdade, de dignidade, de poder, estamos tocando o coração da pessoa humana. Ao trilhar esse caminho, podemos afirmar: a cidadania é o dogma central da fé cristã, é a boa notícia a ser anunciada e testemunhada. (PNV 137/138, de Sebastião A.G. Soares).

A Política na Sagrada Escritura

Uma vez que a Política faz parte de qualquer sociedade, ela não poderia estar ausente das narrativas bíblicas. Tanto a Política como a política são narradas nos diversos livros da Bíblia. Por ser impossível, neste espaço, vamos analisar, apenas, dois textos no Primeiro Testamento e um no Segundo Testamento. Na Sagrada Escritura, a Política é a ação que está voltada ao temor do Senhor e do serviço que se pode fazer em prol da justiça. Nesse caso, todos os que são detentores da autoridade devem agir justamente para que a Política seja um verdadeiro servir ao próximo.

A Política no Primeiro Testamento

Um texto que merece atenção está no Livro do Deuteronômio, que traz um belo ensinamento de como devem proceder todos os que se colocam para a ação Política.

14Quando tiver entrado na terra que YHWH seu Deus vai dar a você, e tiver tomado posse dela e nela viver, e você disser: ‘Quero nomear um rei para mim, assim como todas as nações que me rodeiam’, 15então você deverá nomear para si um rei que tenha sido escolhido por YHWH seu Deus. Um de seus irmãos é que você nomeará como seu rei. Não poderá nomear um estrangeiro, que não seja seu irmão. 16O rei não deverá multiplicar cavalos para si, nem fazer que o povo volte ao Egito, para aumentar sua cavalaria, pois YHWH disse a vocês: ‘Nunca mais voltem por esse caminho’. 17Ele também não deverá multiplicar o número de suas mulheres, para que sua mente não se desvie. E também não acumulará para si prata e ouro. 18Quando subir ao trono, ele mandará escrever num livro, para seu próprio uso, uma cópia desta lei, ditada pelos sacerdotes levitas. 19Ela ficará sempre com ele, que a lerá todos os dias de sua vida, para que aprenda a temer a YHWH seu Deus, observando todas as palavras desta lei e colocando estes estatutos em prática. 20Desse modo, ele não se levantará orgulhosamente sobre seus irmãos, nem se desviará desses mandamentos, nem para a direita nem para a esquerda. Assim, ele prolongará os dias do seu reinado, junto com seus filhos, no meio de Israel. (Dt 17,14-20).

O autor apresenta Deus dando as instruções de como o povo deve agir com relação à escolha de um rei para governa-lo. Essa narrativa traz ainda, algumas condições especiais para a nomeação do governante que terá o dever de acompanhar politicamente o povo eleito em sua ação Política.

A primeira questão centra-se na identidade do governante com o povo, jamais um estrangeiro, pois este tem outras formas de ver o mundo e a religião, ao passo que um membro do povo conhece toda a cultura civil e religiosa do povo eleito, de maneira a preservá-la.

Nos versículos 16 e 17, o rei, ao exercer seu poder, não pode ser um homem opulento, ou seja, não deve multiplicar seus bens às custas do povo; esse exemplo é bastante claro no que diz respeito à constituição de uma sociedade onde a justiça social não seja quebrada, de modo a promover equilíbrio entre os que detêm o poder e o povo.

A pedagogia da fidelidade aos Mandamentos de Deus, está nos versículos 18 a 20, pois o povo deverá escrever para si uma cópia do livro, a fim de que medite e não quebre a sua fidelidade ao projeto de justiça e igualdade de Deus. Essa meditação é sempre uma ação espiritual e ideológica de saber que o agente da Política deve ser aquele que se encontra fiel ao serviço do povo.

A humildade deve ser uma característica desse agente político, pois é nela que se pode encontrar a pessoa de Deus, ao mesmo tempo em que impede o orgulho diante de seus irmãos. Esse Deus que age como uma brisa leve motivando os que têm o poder a realizarem ações benéficas aos mais pobres. Essa é a pedagogia que Deus confere aos que estão no exercício da Política, que sempre estejam voltados a promover o bem e a justiça para com os seus irmãos.

Outro texto interessante se encontra no Livro da Sabedoria, que possui uma visão peculiar da atividade Política:

1Amem a justiça, vocês que governam a terra. Pensem corretamente no Senhor e o procurem de coração sincero. 2Pois ele se deixa encontrar por aqueles que não o tentam, e se manifesta para aqueles que não recusam acreditar nele. 3Os pensamentos tortuosos separam de Deus, e o poder dele, posto à prova, confunde os insensatos. 4A Sabedoria não entra na alma que pratica o mal, nem habita num corpo que é escravo do pecado. 5O Espírito Santo, que educa, foge da fraude, afasta-se dos pensamentos insensatos, e é expulso quando sobrevém a injustiça. (Sb 1,1-4).

O centro do texto se encontra Deus, que se revela àqueles aos quais não duvidam do seu poder e que possuem fé em sua soberania. Pois é do Senhor que procede todo o bem para aqueles que querem agir corretamente segundo a sua Palavra.

Importante destacar a citação que o autor sagrado coloca que todo aquele que rege seu governo aos povos deve estar sempre em sintonia com a justiça. Esse termo aparece em outros momentos: Dt 32,4; Is 5,16; Sl 119,137.  Esses textos apontam a justiça e a retidão do Senhor na condição de regente e juiz do povo.

Pode-se entender que há uma dimensão ética daqueles que se dedicam aos cargos políticos, uma vez que confessam sua fé e adesão ao projeto de Deus, o qual é Justo e Reto. Os governantes ou as autoridades políticas devem se espelhar em Deus para que suas ações também sejam pautadas pela justiça e retidão, de modo que são convidados a imitarem a bondade de Deus para com o povo sofrido que carece de justiça para suas vidas.A citação ainda coloca que a Sabedoria aqui contemplada pode ser entendida também como Espírito de Deus. Assim, o Santo Espírito do Senhor não pode ser concernente com ações erradas e corruptas, que estejam longe de sua justiça e retidão e que podem ser veículos de má ação política por parte do governante.

A Política no Segundo Testamento

No Segundo Testamento a ação Política está centrada na pessoa de Jesus Cristo o qual, na condição de Filho de Deus, soube fazer a opção pelos mais fracos e necessitados (cf Mt 11,25). A vida e ação de Jesus é sinônimo do Reino de Deus agindo na terra.No Evangelho Segundo Marcos, observamos o clima de rivalidade entre os discípulos sobre o que deveria ficar ao seu lado no Reino, Jesus mostrou que o maior é aquele que deve servir:

35Tiago e João, filhos de Zebedeu, foram a Jesus e lhe disseram: “Mestre, queremos que faças por nós o que vamos te pedir.” 36Jesus perguntou: “O que vocês querem que eu lhes conceda?” 37Eles responderam: “Quando estiveres na glória, deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda.” 41Quando os outros dez discípulos ouviram isso, começaram a ficar com raiva de Tiago e João. 42Jesus chamou-os e disse: “Vocês sabem: aqueles que se dizem governadores das nações têm poder sobre elas, e os seus dirigentes têm autoridade sobre elas. 43Mas entre vocês não deverá ser assim: quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se o servidor de vocês, 44e quem de vocês quiser ser o primeiro, deverá tornar-se o servo de todos. 45Porque o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos.” (Mc 10,35-37.41-45).

Jesus é colocado em uma situação de conflito entre os discípulos pelo fato de Tiago e João terem pedido a Jesus para estarem um à sua direita e outro à sua esquerda, no advento do Reino. Tal pedido está centrado no pensamento político do poderio dos impérios da época. Esse pensamento não se coaduna com o modo de se viver e relacionar da comunidade cristã presente na pessoa de Jesus.

Esse pedido de Tiago e João insere-se numa ótica de estrelismo e privilégios, que são os sentimentos de muitas pessoas que se encontram apegados ao poder e fazem desse poder o seu modelo de vida. Outro aspecto que pode ser observado nessa linha de entendimento da política é um processo de exclusão dos demais discípulos, o que também pode ser entendido como uma exclusão comunitária.

A lógica da Política de Jesus inverte a lógica de domínio tão divulgada e vivida em sua época, e que também é vivida nos dias atuais. Na concepção Política de Jesus, o agente Político não é aquele que governa a “ferro e fogo”, ou que gosta de ser destacado em seu trono. A concepção de Jesus com relação ao ser grande no Reino de Deus está voltada para aquele que serve, e, adverte os discípulo: “entre vocês não deverá ser assim: quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se o servidor de vocês” (Mc 10,43).

Com essa nova concepção da Política e das relações entre as pessoas, inspirada na ótica de Jesus, podem-se gerar novos pensamentos de inclusão junto aos demais membros da sociedade. Em Jesus, tudo o que está afastado da esfera da justiça e de inclusão é resgatado pela sua coerência com a manifestação do Reino de Deus. Esta ética cristã deve estar presente em todos aqueles que, de fato, querem trabalhar no serviço ao próximo, colaborando para a construção do Reino, aqui e agora.

Conclui-se que a Bíblia pode proporcionar ao ser humano moderno uma aplicação da política que atenda às suas necessidades, conduzindo homens e mulheres a uma nova configuração política, em que a base dessa ação é pautada na ética da justiça, na retidão e no serviço ao povo. Portanto, a fé serve como elo entre a fidelidade a Deus e ao povo de modo que ajude no processo de entendimento, vivência e construção de uma nova conjuntura política de inclusão, justiça, fraternidade e solidariedade a todas e a todos.

Nesta perspectiva, a participação democrática na política deve ser alvo das pessoas cristãs, que devem se inserir no debate sobre a função do Estado, buscando ajudar o processo de democracia e participação de todos na construção de um Estado que atenda às novas exigências e ampare as pessoas presentes no pequenos grupos, de modo especial os mais necessitados.

Textos complementares para reflexão

Projeto de Deus e a tentação da dominação: Gn 3,1-24

Vamos refletir sobre o momento em que a humanidade abandona o projeto de justiça, amor e dignidade por um projeto de poder e dominação.

A serpente é o símbolo do sistema opressor, do sistema que corrompe a humanidade oferecendo um poder ilusório, que se quer acima dos reinados e das nações. Antigamente a serpente era identificada com os impérios, que é o oposto ao projeto de Deus. O projeto de Deus é um projeto de fartura, em que todas as pessoas têm o que comer e possuem terra e moradia, é o paraíso. No projeto do império, a terra, a riqueza e o alimento são para alguns, gerando uma multidão de escravos e oprimidos.

Idolatria e imperialismo X Resistência popular: Dn 3,1-23

Um rei poderoso constrói uma estátua de ouro e manda todos os povos a adorarem, mas os judeus não aceitam isso, pois só adoram a Deus. Adorar o ídolo de ouro do rei significa ficar submisso ao seu domínio imperialista. Quem segue a Deus não permite ser dominado por nenhum rei, nem por seus ídolos.

Água: patrimônio da humanidade e da biodiversidade: Ez 47,1-12

Oito por cento da água doce do mundo estão em território brasileiro, mas só três por cento da água brasileira está no nordeste.

Temos a maior rede de bacias fluviais do mundo, mas os rios, como o São Francisco, dom de Deus, dádiva da natureza, estão com os dias contados. Água é um bem raro e escasso e assim deve ser tratado. A população mundial está crescendo, e os mananciais de água estão sendo destruídos e contaminados; falta água potável para, cerca de, 40% da humanidade.

Vão acontecer guerras pela água, e a água será um bem mais precioso que pedras raras. Está em andamento a estratégia dos impérios para controlar os grandes mananciais de água do mundo.

Portanto, toda defesa da água é uma luta sábia, justa e santa.

Depois de séculos destruindo a natureza, voltamos ao começo. Os antigos afirmavam que eram quatro elementos vitais da natureza: terra, água, ar e fogo.

A luta já é pela defesa da água, da terra, e do ar, porque a vida na mãe terra corre perigo. 

Pão: Conquista de dignidade e liberdade: Ex 16,13-30

O que há de mais central na vida de cada pessoa é o pão de cada dia; sua presença na mesa de cada família é fundamental para que haja vida digna, vida cidadã, sinal de justiça que gera paz.

O capítulo 16 do Livro do Êxodo é um grande discurso de esperança para o povo hebreu a caminho da terra da promessa. Diversas dificuldades vão surgindo ao longo do caminho, foi preciso muita fé e criatividade para não abandonar o projeto do Êxodo. Mas por mais dura que fosse a caminhada libertadora pelo deserto, nunca podia faltar pão. Jamais ele poderia ser acumulado, pois sabemos que fome existe quando alguém possui demais e não reparte.

Ainda no deserto o povo ansiava por libertar a terra ainda nas mãos dos reis cananeus, surgiu essa tentação de também acumular. Aquilo que tinha sido conquista e alegria da caminhada tornou-se mesquinharia e desconfiança.

Vamos ler At 2,42 e 4,35 e comparar com o texto do Êxodo.

Vejamos o que diz o Concílio Vaticano II sobre a atuação de leigos e leigas na Política. O documento de que trata, referida atuação é o Decreto Apostolicam Actuositatem, sobre o Apostolado dos Leigos.

Um imenso campo de apostolado se abre na ordem nacional e internacional, em que são sobretudo os leigos os administradores da sabedoria cristã. Os católicos sintam-se obrigados a promover o bem comum na dedicação à pátria e no fiel cumprimento dos deveres civis, e façam valer o peso da sua opinião de modo a que o poder civil se exerça com justiça e as leis correspondam aos preceitos morais e ao bem comum. Os católicos peritos nos negócios públicos e firmes, como devem ser, na fé e doutrina cristã, não recusem participar neles uma vez que, exercendo-os dignamente, podem atender ao bem comum e, ao mesmo tempo, abrir caminho ao. Evangelho.

Empenhem-se os católicos em cooperar. com todos os homens de boa vontade para promover tudo o que é verdadeiro, tudo o que é justo, tudo o que é santo, tudo o que é digno de ser amado (cfr. Fl. 4,8). Dialoguem com eles, indo ao seu encontro com prudência e bondade. E investiguem em conjunto o modo de organizar as instituições sociais e públicas segundo o espírito do Evangelho.

Entre os sinais do nosso tempo, é digno de especial menção aquele crescente e inelutável sentido de solidariedade entre todos os povos que o apostolado dos leigos tem por encargo promover ativamente e converter em sincero e verdadeiro afeto fraternal. Além disso, devem os leigos ter consciência da realidade internacional e das questões e soluções, doutrinais ou práticas, que nela se originam, sobretudo quanto aos povos em desenvolvimento.

Lembrem-se todos aqueles que trabalham em nações estrangeiras ou lhes prestam auxílio, que as relações entre os povos devem ser um verdadeiro convívio fraterno em que ambas as partes simultaneamente dão e recebem. Aqueles, porém, que viajam ou por causa de obras internacionais, ou por negócios ou por motivo de descanso, lembrem-se que são também, em toda a parte, pregoeiros itinerantes de Cristo e procedam como tais.

Apostolicam Actuositatem 14
Referências
BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2010.
BÍBLIA DO PEREGRINO. 2ª Ed. São Paulo: Paulus, 2006.
DORES, Maria das. Bíblia e Política – Análise e pontos concretos para a vivência política à luz dos ensinamentos da Bíblia. São Leopoldo: CEBI, 2017.
IWASHITA, Pedro. Feliz aquela que acreditou (Lc 1,45), a fé de Maria como Paradigma, in Pensar a fé teologicamente. SILVA, Maria Freire da; XAVIER, Donizete José; Orgs. São Paulo: Paulinas, 2007.
XAVIER, Donizete José. A dimensão social da fé in Pensar a fé teologicamente. SILVA, Maria Freire da; XAVIER, Donizete José; Orgs. São Paulo: Paulinas, 2007.

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