A Igreja, no Brasil, celebra, de 9 a 15 de agosto, a Semana Nacional da Família, evento promovido pela Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF).
Com o tema “Eu e minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24,15), a Igreja quer indicar a necessidade, da família, vivenciar uma profunda experiência de Jesus e da sua Palavra. O objetivo é transmitir esperança para que as famílias consigam enfrentar os desafios e as dificuldades que encontram em seu caminho.
Neste ano, mais do que nunca, em virtude das dificuldades provocadas pela pandemia, a Igreja quer valorizar e refletir sobre o protagonismo da igreja doméstica. Nesses tempos difíceis que estamos vivendo, percebemos mais nitidamente a importância da evangelização dentro de nossas casas.
Edificar sobre a rocha ou sobre a areia?
Reflitamos um pouco sobre essa realidade a partir da imagem da construção de uma casa, narrada pelo evangelista Mateus (Mt 7,24-27). A imagem coloca logo em evidência a ambiguidade e o risco desta tarefa: há quem constrói sobre a rocha e quem constrói sobre a areia, vejamos:
“Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; mas ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. Porém, todo aquele que escuta estas minhas palavras e não as põe em prática poderá comparar-se ao insensato que edificou a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; ela desmoronou-se, e grande foi a sua ruína”.
Mt 7, 24-27
A imagem usada por Jesus é nítida, direta e, por isso eficaz. Aquelas duas casas… Podemos vê-las surgir, lutando contra o vento e a chuva e, enfim, uma reduz-se a um monte de escombros e a outra permanece em pé depois da tempestade.
Jesus nos chama a atenção para um detalhe: ambos os construtores são pessoas que conheceram Jesus Cristo e ouviram sua Palavra. A única diferença é que um coloca em prática as palavras de Jesus, o outro não.
A parábola apresentada é sobre a concretude e a coerência cristã: a coerência entre as palavras e os fatos, entre a profissão de fé e a prática da vida. Assim ao concluir o seu discurso, conhecido como “o sermão da montanha”, Jesus nos dá uma importante mensagem.
Está claro que Jesus está usando uma figura de linguagem para nos ensinar que esta casa é a nossa família, é a nossa vida; e que muitas vezes não temos o devido cuidado e prudência para construí-la sobre uma base sólida, sobre um alicerce firme, sobre a rocha.
Dedicamos o devido tempo ao nosso crescimento espiritual?
Costumamos planejar nossas viagens, nossos estudos, nossos negócios, mas nem sempre planejamos nossa vida familiar; por isso tantas famílias acabam destruídas pelas tempestades; tantos desencontros, desacertos, mágoas, revoltas, decepções, traições; e diante de tantas circunstâncias adversas, não tendo alicerçado o casamento na rocha, ele não se sustenta, sucumbe, a família não se mantém.
Mas “Quem é essa rocha?”. O salmista, no salmo 127 nos diz que: “Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os construtores”. Esta rocha é Jesus Cristo, é o próprio Deus. A existência de quem constrói sua família sobre essa rocha é como uma bela casa, robusta e acolhedora na qual se sente a alegria, porque nela vem morar o Deus de toda consolação, como prometeu Jesus: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e o meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos morada” (Jo 14,23).
Ventos, chuvas, tentações, dificuldades, contrariedades e sofrimentos não estarão ausentes da vida de uma família cristã; poderão, até por um instante submergi-la, mas passada a prova ela ainda estará lá, de pé, como a casa alicerçada na rocha. O que distingue uma família alicerçada na rocha de uma alicerçada sobre a areia não são as situações que se apresentam durante a vida, mas como elas reagirão a essas situações.
Poder contar com amigos de caminhada na fé, estar ligados a uma comunidade cristã ou a um movimento que ajuda a reconhecer a presença de Jesus Cristo e a alimentar-se de sua Palavra, constituem caminhos para responder positivamente a esses desafios, construindo uma unidade ainda mais profunda.
Quem sustenta nossa vida é Deus, quem nos segura pela mão é Deus, quem nos dá paciência e força para enfrentar as grandes provas da vida é Deus, quem nos dá vitória nas tentações é Deus, quem nos põe de pé é Deus. A sua família, a minha família, a nossa família precisa de Deus, precisa da rocha que é Jesus Cristo.
Dirijamos, pois, a ele, nossas orações para que vindo a nós na Eucaristia, nos ensine a colocar em prática a sua Palavra e alicerce conosco nossa família.
Referências BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002. BÍBLIA do Peregrino. São Paulo: Paulus, 3ª edição, 2017. CANTALAMESSA, Raniero, O Verbo se faz carne, São Paulo: Editora Ave-Maria, 2012. CARTER, Warren. O Evangelho de São Mateus: Comentário sociopolítico e religioso a partir das margens. São Paulo: Paulus, 2002. GALLAZI, Sandro. O Evangelho de Mateus: Uma leitura a partir dos pequeninos, São Paulo: Fonte Editorial/Santuário, 2013. GRENZER, Mathias. A Bíblia: salmos, São Paulo: Paulinas, 2017
3 respostas em “Família alicerçada sobre a Rocha”
esse estudo me ajudou muito em uma palestra
Muito boa a abordagem. Texto límpido. Parabéns, Luiz Camolesi.
Como a palavra de Deus é sempre atual não é mesmo !!!! Vc explicou de forma rápida e profunda a necessidade de tentarmos colocar em prática Deus no dia a dia da nossa vida familiar. Muito bom !!