O Nefrologista, após analisar os exames, diz:

Os seus rins estão com a mínima capacidade de funcionamento. O senhor precisa escolher entre a hemodiálise e a diálise peritoneal. Estude o que considera melhor e depois decida.

Vocês sabem o que é diálise peritoneal?

Alguns não sabem. Eu também não sabia até há pouco tempo, quando o médico pediu para eu fazer a opção. Tanto quanto à hemodiálise a diálise peritoneal serve ao mesmo propósito: executar as funções dos rins que estão com insuficiência crônica, quase inoperantes.

Saí baqueado da consulta. Apesar de saber que era normal ao portador de doença renal crônica. Mesmo assim, a notícia choca!

Decisão tomada: diálise peritoneal em domicílio. Agora o treinamento de uma semana.

Instruções do enfermeiro que dá o treinamento, conforme o meu leigo entendimento:

Em primeiro lugar, sempre, isso tem que ficar bem gravado: Drenagem.

O cateter implantado no sub abdômen é conectado à mangueira.

Os rins, filtros, insuficientes para a sua função, depois de lesionados não mais se regeneram, prescreve a Medicina, daí a necessidade da diálise peritoneal. O líquido alojado no peritônio carrega “impurezas” e precisa ser substituído. Este líquido que é drenado vai para baixo pela força da gravidade e se aloja na bolsa inferior. O melhor é esvaziar totalmente, dure o tempo que durar. Fecha-se o clamp da drenagem e o cateter, então, lá da bolsa instalada no Alto, pela força gravitacional, faz a infusão da nova solução.

A infusão é mais rápida. Depois, desconecta-se tudo e a permanência interior do novo, alongada, propicia-lhe ritmo normal até a próxima operação.

Nenhuma máquina comanda o processo – tudo manual. Há apenas uma peça que funciona como organizador. Controla a drenagem e a infusão, por ele passam as mangueirinhas das duas bolsas, da inferior vazia que fica ao nível do chão no início e cheia no final da drenagem e da superior instalada no Alto cheia no início e vazia no final da infusão.

Sob uma nova ótica

A observação dos processos de “diálise peritoneal” cristalizou conceitos importantes.

É preciso esvaziar-se de si por completo para que Deus ocupe todo o espaço do seu ser. É o primeiro passo, sempre, para quem deseja ser cristão. Significa esvaziar-se por completo do ciúme, do orgulho, do egoísmo, enfim do “eu” para abrir espaço ao Amor que vem do Altíssimo!

A caridade (o Amor) é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. (I Cor 13,4)

Primeiro é preciso fazer drenagem das tendências e vontades humanas antes de pedir a presença de Deus em nossa vida. Ele é sempre presente. O passado, o presente e o futuro são dimensões da vida humana. Deus é. O tempo de Deus é todo o tempo. Sem começo e sem fim. É eternidade.

Esse processo do esvaziamento ou drenagem é um tanto quanto demorado. Exige disponibilidade, paciência e resignação, como outras passagens difíceis na nossa vida.

Lembro-me bem, do espírito imundo que sai da casa, mas não encontrando lugar para descanso, volta e encontrando a casa vazia, lá se instala com mais outros sete, piores do que ele. (Mateus 12, 43-45 e Lucas 11, 24-26)

A casa deve ser sempre livre de tudo que é tóxico e impuro. Cheia de Deus para que o inimigo nela não se instale.

Na diálise o líquido novo, a solução pura que substituirá a que carrega substâncias nocivas excedentes do corpo é o bem se instalando. E procede do Alto (da bolsa cheia que irá preencher o peritônio). Há, então, o processo de infusão que nos lembra a infusão do Espírito Santo através dos sacramentos, especialmente, pelo Batismo que é o sacramento da iniciação cristã.

Tudo isso recorda o conselho: Pensem nas coisas do alto, e não nas coisas da terra (Colossenses 3, 2).

E por aí vai à imaginação e o olhar teológico do escriba.
Sim. É isso mesmo!

A vida é aula. Do nascer ao por do sol, há sempre um aprendizado.

Apesar de a vida apresentar lição constante, nem todos prestam atenção às aulas. Tem gente que fecha os olhos, nada pergunta, não pesquisa, desliga-se e, por isso, nunca aprende. E o pior de tudo, põe a culpa no Professor. Esquece-se da postura que a vida exige. A lição é dada, o ensinamento presente, se há ausência do aluno o processo fica inconcluso.

Na volta da Clínica para casa, um novo estalo bíblico: Não posso me esquecer da cura dos dez leprosos (cf. Lucas 17, 12 – 19) proclamo como o samaritano, o único dentre os dez que volta para agradecer a Jesus que operou a cura.

Obrigado, Senhor!
Por todo o conforto e resignação que a Sua Graça me proporciona.

Agora, uma indagação:
Você tem refletido sobre os acontecimentos de sua vida à luz da Palavra de Deus?