Você se utiliza de algum recurso mnemônico (auxiliar de memória) para as atividades do dia a dia? De uns tempos para cá, passei a usar. Condicionei-me.
Ao me preparar à oração, observo sempre os três passos:
- Reconciliação com o próximo;
- Reconciliação com Deus;
- Reconciliação comigo mesmo.
Sem observá-los, não tem como.
Está internalizado. Encarnado.
Há algum tempo, desde que conheci a oração dos cinco dedos do Papa Francisco, que não é algo novo (muitos a conhecem) ao pensar em orar, automaticamente, vem-me à mente a figura dos cinco dedos:
- O polegar que fica mais próximo, lembra-me os de casa, os amigos mais chegados;
- O indicador, os que me apontam caminhos;
- O do meio, maior de todos, os que governam;
- O anelar que é o mais fraco, os desprotegidos;
- O menorzinho, eu, por último.
Confesso que o dedo do meio, o maior, me deixou intrigado. Lembra-me os que detêm o poder político. Deles, quase sempre me esqueço. Lembro-me, amiúde, das vítimas de suas atitudes egoístas e dolosas, gerando cada vez mais riquezas para si e aos seus aliados, todos travestidos de bons mocinhos. Trabalho, moradia, saúde, educação, segurança, transporte e saneamento básico que realmente interessam aos menos favorecidos, ficam somente como promessas em épocas de eleições. Voltando à oração, falha minha – eles precisam sempre ser lembrados nas orações para que possam exercer um bom mandato.
O Papa Paulo VI ensinava “Política é uma das mais altas expressões da caridade cristã!” É quem mais pode fazer pelos que os outros dedos evocam por deterem o poder político. Portanto, não use o dedo do meio para ofender ou protestar contra os governantes. Não o mostre apontando sozinho para o alto nos momentos de revolta! Olhe-o com serenidade. Considere-o no diálogo com o interlocutor. Use-o, tão somente, como recurso mnemônico! Boa oração faço ao olhar aos cinco dedos. Completa. Aciona os cinco sentidos. Pronto! Encarnado está. Enraizado para sempre!
Houve um tempo em que encontrava facilidade para decorar poemas e orações na base da repetição. Assim foi que memorizei a Oração de Exorcismo autorizada a publicação (texto completo) pelo Papa Leão XIII, inclusive permitido aos leigos. É aquela oração que inclui, antes do Exorcismo propriamente dito, parte do Salmo 67, Salmo 34, Súplica a São Miguel Arcanjo além de vários versículos do Novo Testamento… Rezávamos (eu e a esposa) todo dia.
Trabalhávamos o dia todo. Veio-nos o primogênito como bênção de Deus. Toda manhã levava-o à casa da avó materna. Eu ia rezando em voz alta, a bendita oração do exorcismo que é muito longa. A mulher participava, logicamente, orando em voz baixa e em momentos do sinal da cruz e outros gestos. A oração ocupava boa parte do tempo do trajeto: do Tatuapé para a Mooca.
Certo dia, sinal fechado, eu rezando com voz firme! Aproximou-se uma pessoa para me entregar um folheto. Abaixei o vidro, continuando a oração em voz alta para não perder o fio da meada. Ela me entregou o folheto da propaganda e me olhou com os olhos arregalados e cara de espanto! Foi justamente na hora em que eu orava com bastante firmeza: “Vai-te embora Satanás! Inventor e mestre de enganos, inimigo da salvação humana!” Ela deu um salto olímpico para trás.
O sinal ficou verde. Engatei a primeira marcha e saí. E dei continuidade à oração: “Cede lugar a Cristo, em quem nada encontraste de maldade…” O inimigo não se aproxima… convicto estou.
Cuidado, tudo tem a sua hora e seu lugar! A direção e a vida exigem atenção contínua. E o nosso “próximo” mais ainda! Sempre tem preferência. Não o assuste com o seu exorcizar ou o louvor. Deus não é surdo. É Amor. Ouve tudo. Em voz baixa ou no silêncio, a oração sempre é eficaz. E não escandaliza nem assusta ninguém!
Deixei para trás um sinal de maldade, não doloso, mas culposo. Preguei-lhe um susto, sem querer. Certamente Deus há de me perdoar. Desde esse dia, sempre ao passar no local, em pensamento, revivo a cena. Inevitável. Nunca mais vi a pessoa que fora vítima de minha imprudência. A rua tem nome de Padre e o local fica bem próximo ao viaduto sob o qual passava. Agora, o viaduto tem um santo nome “Dom Luciano Mendes de Almeida”.
A ele, com quem convivi durante o tempo que foi Bispo Auxiliar na Região Belém, peço a intercessão para que a entregadora do folheto não tenha ficado com sequelas do susto do exorcismo!
E eu (o dedo mindinho) mais atento, especialmente, nos momentos de oração – diálogo com o Altíssimo!
15 respostas em “Entregadora de folheto “exorcizada””
Irineu Uebara, esta crônica está perfeita (como todas as outras). Porém não posso passar sem deixar apenas uma crítica … onde estava neste momento seu filho caçula que, depois de alguns anos, seria o filho do meio ? Eu estava lá … só espero que nas próximas crônicas que você fizer (terapia do grito dentro do carro; final do Morumbi lotada e você com o boné do Banco Nacional; golpe mortal nos bodes no Hotel Alpino; caminho entre os desfiladeiros em Monte Verde, etc. ) eu seja lembrado kkkkkkkk !!!! Obs: a oração quase que não termina, pois todos dentro do carro estavam chorando de tanto rir !!!!!
Parabéns Irineu.
Deus te abençoe!
Texto muito bom, preciso aprender orar em família para juntos sentirmos a graça. É possível orar e vibrar de alegria só mesmo tempo, além de chegarmos perto de Deus e ver o qnto fica feliz tb. Irineu como sempre parabéns, vc tá cada dia melhor.
Hahaha muito bom mesmo, faz q não sorria gostosamente. Texto muito proveitoso, ao mesmo tempo q oramos nos alertamos, uma coisa ainda tenho q aprender é oração em família com graça. Parabéns Irineu.
Ótimo Irineu ,
Como sempre gostei da crônica, imaginei.a cena e não pude deixar de rir.
Ah! O dedo do meio, o maior como é difícil a gente não criticar ,não apontar nos dias de hoje para os nossos governantes que só pensam em encher seus próprios bolsos.
Cabe aqui .mais uma boa reflexão!
Lembro-me bem desse dia: foi tragicômico!
Texto perfeito, de tão grande riqueza pelo momento de oração em família, mas que arrancou- me uma boa risada !!
Imagino o susto da entregadora de folhetos! Lembrei-me do que me aconteceu há alguns anos , estava em meio aos afazeres da casa rezando o terço contado nos dedos, pois na época com as crianças pequenas nem sempre tinha a opção de parar para rezar, quando o telefone tocou e ao atender ao invés de alô eu disse “Ave Maria”, confesso que fiquei constrangida!! Mas com certeza não assustei quem estava do outro lado da linha, no máximo fui chamada de beata!
Parabéns Irineu pelo testemunho de viver as coisas santas, com uma boa pitada de humor!!
Irineu que Deus abençoe essa sua facilidade para escrever. Ótimo texto, que nos refletir sobre o momento triste e caótico que vivemos!
Irineu, pelas suas palavras dá pra imaginar a cena! Ela realmente deve ter levado um susto! kkkk
O que fica, entretanto, é o belo exemplo do exercício de oração em família, em qualquer lugar e situação. Isso não tem preço! Que todos os filhos possam lembrar sempre das orações que aprenderam com o testemunho de seus pais.
Caí na gargalhada. Só você mesmo Irineu. Como será que Deus assistiu a este episódio da sua vida? Você olhou pra trás para ver se ela estava fazendo o sinal da cruz?
Parabéns Irilberto. Arte de um narrativa do outro. Ouvindo a Crônica lembrei-me que no Termo Deus, tem um “eu” na palavra Calma, tem “alma”; palavra “Mar” tem ar, que é o combustível da vida. Daí a pergunta: como ficou a entregador de folder ao ser comparada a Satanás? Coitada, mal sabia ou podia pensar que ao entregar um simples folheto, poderia ter sido tão violentamente arremessada ao inferno! Deve ter pensado: o nissei orava ou blasfemava ao chamar- me de Lúcifer? O que uma palavra mal dita pode provocar!?
Valeu Gilberteu ou Irinerto..
A oração tem poder 🙏🙏🙏
Não me contive😂tive que dar uma risadinha 😅
Lembrei logo de um amigo, da RCC, andando na sua moto, no sol escaldante de Picos-PI… Ele anda orando em línguas.
Há quem diga que ele é louco 😂
Também quero dizer: vai de retro, satanás. Me colocar a serviço de Deus e, com muita atenção não ofender nem assustar a ninguém.
Como é importante a oração! Parabéns por mais um texto excelente!
Obs: não pude deixar de dar risada com a história da entregadora de folhetos, que susto ela deve ter levado rsrs
Oração em família, seja na igreja, em casa e até no carro é o que importa! A oração do exorcismo, lembro de muitas partes dela, é tão longa que me espantava como alguém poderia tê-la guardada em mente. Hoje, algumas décadas depois, percebo que é possível com força de vontade, repetição e memorização. O “credo” também é longo – não que seja comparável à oração do exorcismo -, mas para nós cristãos é como se fosse os “parabéns a você” para uma criança. O inimigo, infelizmente, está em todo o lugar e se estava com a entregadora de folhetos certamente a deixou…rs.. O que nunca nos deixará é essa fiel lembrança, tal como narrada. Aliás, faltou um pequeno detalhe: explicar como é possível rezar e rir ao mesmo tempo!