Evangelização hoje: nas pegadas do Apóstolo Paulo

Mas afinal quem foi Paulo?

O italiano Giuseppe Barbaglio (1934-2007), conceituado teólogo, especialista na figura e nos ensinamentos do Apóstolo Paulo, dá uma pista, dizendo que:

[…] “de todos os personagens do Novo Testamento […], incluindo Jesus, o que se dá a conhecer mais claramente, o mais acessível, é, sem dúvida, Paulo. Suas numerosas cartas nos permitem conhecer […] seu pensamento, sua ação missionária […], sua personalidade”.

BARBAGLIO, 1989, p. 15

Paulo foi um homem “do povo de Israel, da tribo de Benjamim, um hebreu nascido de hebreus” (cf. Fl 3,5; At 21,39; 22,3; Rm 11,1). Ele teve o hebraico como língua materna e obteve a formação escolar básica na sinagoga de Tarso. Era escriba e fariseu, provavelmente solteiro (1 Cor 7,8), possuía cidadania romana e era versado na língua grega.

O evangelista Lucas o apresenta, no livro dos Atos dos Apóstolos, quando narra a morte de Estevão. “Saulo consentiu com a morte dele. E fez-se naquele dia uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém…” (At 8,1).

Logo depois, no Capítulo 9, Lucas apresenta o primeiro relato de sua conversão (At 9,1-24).

“Algum tempo após a morte de Estevão, Paulo, ainda fariseu, com permissão do sumo sacerdote foi a Damasco capturar os seguidores do Caminho, como eram chamados os primeiros cristãos, convertidos. Nessa viagem, ele teve uma visão de Jesus Ressuscitado que o cegou. Então, os seus companheiros de viagem, o levaram para Damasco, onde Paulo permaneceu cego por três dias”.

MATOS, 2007, p. 931-948

Mas é somente no Capítulo 13, do mesmo livro, que Lucas narra a ação do Espírito Santo, que unge e envia Paulo em missão. Tem início, assim, a saga daquele que é considerado uma das colunas da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Apóstolo dos gentios começa a penetrar no mistério que lhe foi revelado pelo próprio Jesus, quando se dirigia para Damasco. “Essa experiência leva Paulo a compreender que o movimento do Caminho é continuidade, concretização histórica da memória profética de Javé libertador, e da utopia de Jesus de Nazaré: reconstruir a ‘casa’, a Igreja, assembleia de cristãos” (FRIGERIO, 2010).

“O centro da pregação de Paulo é a consciência de que o tempo escatológico da salvação prometida no Antigo Testamento foi inaugurado com a vinda de Cristo a este mundo. É a partir deste mitte (do alemão “centro”) que ele desenvolve seu ministério. Paulo concentra-se em sua carta nos eventos da morte, ressurreição e exaltação de Cristo, fazendo pouca menção dos seus ensinamentos, milagres e demais obras, o que o torna o maior expositor das implicações da obra realizada por Jesus”.

LOPES, 2020

“Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho”! (1Cor 9,16). Paulo assume, destemidamente, sua missão, e parte, por caminhos diferentes dos trilhados por Pedro e os outros apóstolos, para anunciar a Boa Notícia. E, em sua itinerância, fazendo sua a utopia de Jesus, vai abrindo caminhos, ousando, se arriscando no Senhor a fim de “anunciar a todas as nações, tribos, línguas e povos a mensagem do evangelho eterno” (cf. Apocalipse14,6).

Mas, o que significa evangelizar?

Evangelizar significa apresentar um anúncio jubiloso; proclamar boas notícias. É a proclamação de uma mensagem de alegria. Em outras palavras, evangelizar (do grego euangelizomai) significa: “trazer ou anunciar o evangelho (euangelion)”; o anúncio da salvação, efetuada em Jesus Cristo, por meio de Sua morte, e confirmada na humilhação de Sua sepultura e no triunfo de Sua ressurreição.

“Paulo adota o sistema de itinerância e de apoio das casas, mas não quer depender das pessoas. Cria espécies de cooperativas de trabalhadores. Como ele era fabricante de tendas, reunia os tecelões e aí, trabalhando, pregava o evangelho: ou, se preferirmos, pregando o evangelho, trabalhava”.

FRIGERIO, 2010

Na comunidade de Filipos, Paulo partilha o chamado que “Deus nos dirige em Jesus Cristo” (cf. 3,3-11) e a experiência de ser transformado por esse chamado. Quando exorta a comunidade a imitá-lo, exorta-a a juntar-se a ele para responder a esse chamado e permitir que Cristo lhe transforme a vida. E, ser transformado por Cristo, significa abandonar muitas coisas e lançar-se para a frente, para o novo, movido pela ação do Espírito Santo (cf. PUNTEL, 2010).

Paulo se deixou guiar pelo Espírito Santo…

Paulo viveu do Espírito Santo, agiu sob sua influência, tinha a força e a luz que vinham Dele e, então, ousou sair da sua zona de conforto. Saiu do ambiente judaico e abriu caminho novo. Deixou-se guiar pela força da Palavra, pela força do Espírito, pela força dos acontecimentos. Saiu da mesmice e, com seu anúncio, provocou experiências humanas e comunitárias inéditas para seu tempo.

“Num mundo onde tudo falava de escravidão, Paulo, com ousadia, anuncia o evangelho da liberdade: “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). Paulo ousou falar de liberdade, pois a experiência que ele estava vivendo era de profunda liberdade. Experiência de liberdade que o torna capaz de ler seu momento histórico, que lhe faz intuir e traçar o caminho: criar uma linguagem, um pensar, um crer alternativo ao sistema vigente”.

FRIGERIO, 2010

A evangelização de hoje deve fixar seu olhar naquele que é sempre o mesmo…

A evangelização ao longo dos séculos sempre foi um grande desafio. Desde Paulo, cada geração se deparou com as dificuldades próprias de sua época. Hoje, para enfrentar esse desafio, a Igreja conta com imensa experiência adquirida através dos tempos. Assim, a evangelização no mundo de hoje, se inicia com o anúncio do Evangelho de Jesus Cristo, que é o mesmo, ontem, hoje e sempre. Talvez seja necessário fazer isso com maior convicção e sabendo que, na medida em que nós anunciamos o evangelho, tornamos credível também o estilo de vida dos cristãos.

“Porém, esta é também a igreja que deve olhar para o futuro, não somente o presente. É uma igreja que não deve viver de nostalgia pelos tempos passados. É uma igreja que não deve viver de metas que não poderão jamais ser atingidas. É uma igreja chamada a viver o presente que lhe é dado lendo os sinais dos tempos, que são sinais de amor que Deus dá ao mundo, e buscar fazer destes sinais uma vida vivida no amor e na misericórdia”.

FISICHELLA, 2017

Oxalá o apóstolo Paulo seja o grande inspirador para o evangelizador contemporâneo!

Referências:
BARBAGLIO, Giuseppe. As cartas de Paulo. São Paulo: Loyola, 1989.
BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.
Bíblia do Peregrino. São Paulo: Paulus, 3ª edição, 2017.
COMBLIN, José. Atos dos Apóstolos. São Paulo: Fonte Editorial, 2012.
FISICHELLA, Rino. A evangelização deste tempo é um grande desafio. Disponível em: https://www.diocesesa.org.br/2017/02/a-evangelizacao-deste-tempo-e-um-grande-desafio-diz-dom-rino-fisichella/. Acesso em 01/junho/2020.
FRIGERIO, Tea. - Paulo Apóstolo e a evangelização no mundo urbano. Revista Vida Pastoral - Ano: 60 - Número: 330 – Nov-Dez/2019.
LOPES, Augustus Nicodemus. Teologia Paulina. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/360343494/Teologia-Paulina-Apostila-Pr-Augusto-Nicodemus-pdf. Acesso em 28/maio/2020.
MATOS, Keila. O que a história registrou sobre Paulo, Corinto, A Igreja e as mulheres no século I. FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 17, n. 9/10, p. 931-948, set./out. 2007.
PUNTEL, Joana. - Paulo e a comunicação do Evangelho em seu tempo e na atual cultura da comunicação. Revista Vida Pastoral - Ano: 51 - Número: 270 - Jan-Fev/2010.

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Uma resposta em “Evangelização hoje: nas pegadas do Apóstolo Paulo”

De fato é o kerigma que nos falta, nós chamados a ser cristãos precisamos testemunhar o amor e a misericórdia infinita de Deus que quer salvar a todos, anunciar que existe um Deus onisciente, onipresente que nos ama incondicionalmente. A paz irmão.

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