É na Vigília Pascal, durante a Noite das Noites, noite santa que sucede o dia do grande silêncio, o Sábado Santo, que Deus rompe o silêncio da morte e resgata seu Filho Amado. Essa é noite solene em que se celebra o Cristo Ressuscitado, a noite em que esperamos a aurora escatológica da luz, o amanhecer sem entardecer, que não tem fim, um dia eterno sem ocaso.
A Vigília Pascal é a festa das festas, a Vigília das vigílias, a noite das noites
A Vigília Pascal é o centro de todas as Eucaristias e a fonte de todas as liturgias. Da noite da Páscoa, toda a espiritualidade da Igreja primitiva partia. Essa noite, a noite santa, a noite sacramental, a noite do memorial do Cristo Ressuscitado dos mortos, é o centro de toda a Liturgia.
Nessa noite, “Mãe de todas as vigílias”, como Santo Agostinho a chamava, irrompemos de júbilo e anunciamos: Cristo, nossa Páscoa, está ressuscitado. Aleluia, Aleluia, Aleluia. É com esse brado de alegria e esperança que, os cristãos de todos os tempos, saúdam a Páscoa do Senhor. O mesmo grito que, na boca de São Paulo, se torna desafio: “Onde está, ó morte, a tua vitória?” (l Cor 15, 55).
Páscoa é, com efeito, a festa das festas, dia em que a esperança é transformada em certeza. O mundo esperava o domínio sobre a dor, a morte e o pecado; hoje sabe que a dor é redenção, a morte é apenas preâmbulo de ressurreição, a ferida do pecado pode ser curada com a transfusão do sangue de Cristo na nossa vida pelo Batismo. Páscoa é o tempo de anunciar essa certeza a todos os homens (c.f. FONSECA).
Assim nos ensina o Papa Francisco na celebração do REGINA COELI[1] de 2015: Este é o anúncio que a Igreja repete desde o primeiro dia: “Cristo ressuscitou!”. E, n’Ele, pelo Batismo, também nós ressuscitamos, passamos da morte para a vida, da escravidão do pecado para a liberdade do amor. Eis a Boa Nova que somos chamados a anunciar, animados pelo Espírito Santo, a todos os homens e em todos os ambientes. A fé na ressurreição de Jesus e a esperança de que Ele nos trouxe é o dom mais belo que o cristão pode e deve oferecer aos irmãos. Por conseguinte, a todos e a cada um não nos cansemos de repetir: “Cristo ressuscitou!” Repitamos todos juntos, “Cristo ressuscitou!” Repitamos com as palavras, mas sobretudo com o testemunho da nossa vida.
Deus sabe que o homem é um ser necessitado d’Ele, sabe que esse ser precisa, desesperadamente, da Boa Nova. Sabe que a consciência sobre a própria finitude gera no homem angústias e reflexões. Ao se deparar com a morte, o homem sofre a dor e o medo do desconhecido. A ressurreição de Cristo vem romper essa angústia, transformando o medo em alegria. Esta é a fé que proclamamos: “Cristo, nossa Páscoa, está ressuscitado”.
Mas afinal, o que é a fé?
O Catecismo define a fé como uma resposta do ser humano a Deus que se revela e se oferece. A resposta humana de fé não é, porém, ato primeiro, mas ato segundo. O ato primeiro é a revelação de Deus e a oferta que Deus faz de si mesmo ao homem. A resposta do homem é uma reação à proposta de Deus (c.f. Parágrafos 26-49).
O homem sempre desejou encontrar o sentido da sua existência e da sua história. A fé nos abre para o mundo do sentido. Como resposta à proposta divina, a fé proporciona ao homem a experiência do que, realmente, vale a pena. Ela indica e mostra que a vida tem um sentido profundo e verdadeiro. A fé em Cristo faz o homem Viver. Fé significa abrir-se à vida, Vida em plenitude, Vida que se identifica com Deus. Encontrar a Vida, encontrar o Sentido, encontrar Deus: a fé é tudo isso!
A Revelação divina é uma iniciativa amorosa de Deus, que deseja estabelecer, com o ser humano, uma comunhão de vida. Deus vem ao nosso encontro como AMOR que se propõe, como LIBERDADE que se oferece, como GRAÇA que, quer fazer de nós, os interlocutores de um diálogo de amizade. Portanto, é a própria revelação divina que reclama a livre e responsável resposta do homem, resposta essa que nós chamamos de fé (c.f. AKAMINE)
Cristo Verdadeiramente ressuscitou
A base e o fundamento da fé cristã é a ressurreição de Cristo. O apóstolo Paulo, compreendendo a importância dessa questão, declara: “[…] se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e vã a nossa fé” (1Cor 15,14).
A ressurreição de Cristo assume o caráter de grande revelação sobre como Deus é, quais serão os seus planos para o mundo e qual será o destino de todo ser humano; a sua mensagem central culmina na confirmação de que, apesar de todas as estruturas de morte que marcam a história do mundo, a vida, finalmente, triunfará sobre toda morte e toda negatividade, porque Deus é o Deus da vida. Disso Deus deu seu testemunho ao ressuscitar seu Filho da morte. Foi nesse momento que o próprio Deus demonstrou a todos a sua força. Ele transformou a aparente aniquilação em nova vida, ressuscitando Jesus da morte (At 2,32).
Ressurreição é, segundo o teólogo Garcia Rubio, a ação divina que revela a oposição da experiência do fracasso na cruz. Ela não significa uma restituição a uma vida novamente submetida ao tempo e ao espaço. Ela é a superação da morte real e o aprofundamento numa nova dimensão, onde Deus cria uma vida nova. O significado da ressurreição de Jesus possui, para a existência humana, um sentido que penetra nas dimensões da escatologia, da cristologia, do tratado da salvação, e enfim de todo o edifício teológico. Este evento, em especial, mostra a face do Deus solidário com o sofrimento humano, que deixa latente a vitória do seu poder sobre a morte e o pecado. Assim podemos afirmar que Deus revela-se amor, pelo testemunho de sua cruz e de sua ressurreição (c.f. Rubio. 2014, p. 103-118).
A ressurreição confirma para todos os homens de todos os tempos o fato de que: a morte, a destruição e o ódio não teriam a última palavra. Deus é mais forte que tudo isso, e tal convicção recebe a sua confirmação pelo fato de ele ter ressuscitado o seu Filho. Dessa forma, a ressurreição permanece sendo, até o fim da história, a base e o ponto central de tudo aquilo em que, por nossa fé, acreditamos (c.f. BLANK, 2012).
O Papa Bento XVI, na Carta Encíclica Spes Salvi, escreve sobre a
importância da fé e da esperança para aqueles que a perderam por causa da dor e do sofrimento.
“É importante saber: eu posso sempre continuar a esperar, ainda que, pela minha vida ou pelo momento histórico que estou a viver,
BENTO. 2007, p. 54-57
aparentemente não tenha qualquer motivo para esperar […]
Podemos procurar limitar o sofrimento e lutar contra ele, mas não
podemos eliminá-lo. […] Não é o evitar o sofrimento, a fuga diante da
dor, que cura o homem, mas a capacidade de aceitar a tribulação e
nela amadurecer, de encontrar o seu sentido através de união com
Cristo, que sofreu com infinito amor”.
Por isso, a jubilosa notícia da Ressurreição, deveria transparecer no nosso rosto, nos nossos sentimentos e atitudes, no modo com que tratamos os outros. Anunciamos a ressurreição de Cristo quando a sua luz ilumina os momentos obscuros da nossa existência e podemos partilhá-la com os outros; quando sabemos sorrir com quem sorri e chorar com quem chora; quando caminhamos ao lado de quem está triste e corre o risco de perder a esperança; quando narramos a nossa experiência de fé a quem está em busca de sentido e de felicidade. Com o nosso comportamento, com o nosso testemunho, com a nossa vida, dizemos: “Cristo, nossa Páscoa, está ressuscitado”. Aleluia, Aleluia, Aleluia. Digamos com toda a alma.
NOTAS 1 A Oração do Regina Caeli ou Regina Coeli (Rainha do Céu) provavelmente remonta-se ao século X ou XI, associa o mistério da encarnação do Senhor (quem merecestes trazer em vosso seio) com o evento pascal (ressuscitou como disse). O "convite à alegria" (Alegrai-Vos) que a Igreja dirige à Mãe pela ressurreição do Filho recorda e depende do "convite à alegria" ("Alegra-te, cheia de graça": Lc 1, 28) que Gabriel dirigiu à humilde Serva do Senhor, chamada a ser mãe do Messias nosso Salvador. https://opusdei.org/pt-br/article/a-oracao-do-regina-caeli/ Acesso em 20 de março de 2021.
REFERÊNCIAS BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002. BÍBLIA do Peregrino. São Paulo: Paulus, 3ª edição, 2017. AKAMINE, Julio Endi. A Revelação divina e a fé. < http://arquisp.org.br/regiaolapa/vigario-episcopal/artigos/a-revelacao-divina-e-a-fe> Acesso em 19 de março de 2021. BENTO, Papa. Carta Encíclica Spe Salvi. Sobre a Esperança cristã. São Paulo: Paulinas, 2007. BLANK, Renold. A Ressurreição de Cristo e a compreensão da Ressurreição hoje. Revista Vida Pastoral - Ano: 53 - Número: 284 FONSECA, Fernando. Páscoa – o Senhor ressuscitou! Aleluia! https://www.dehonianos.org/portal/category/tempo-pascal/ Acesso em 24 de março de 2021. PAGOLA, José Antonio. O Caminho aberto por Jesus: Lucas. Petrópolis: Vozes, 2012. RUBIO, Afonso Garcia. O encontro com Jesus Cristo vivo. Paulinas: 2014.
Uma resposta em “Ressuscitou! Aleluia!”
Amém!! Está ressuscitado aquele que é o autor da vida, belíssima reflexão, vamos incorporar e viver essa ressurreição mais do que nunca em nossos dias, onde a cultura da morte impera.