Antes do episódio da multiplicação dos pães, houve uma certa tensão entre os discípulos de Jesus: “Onde vamos comprar pão?” De fato havia ali uma multidão. Não havia comércio aberto nem dinheiro para a compra do alimento necessário. A alma estava repleta de Deus, mas o físico reclamava. O povo que seguia Jesus estava cansado e a volta para casa seria difícil. Uma refeição aliviaria e renovaria as forças para o retorno. Nesse ponto ainda estava um tanto obscuro a novidade da partilha, da fração do pão – isso sem negar a existência real de um milagre de Jesus. De qualquer modo, a primeira vista, não havia como atender ao pedido do Mestre para dar de comer ao povo.
Antes que o milagre viesse a acontecer, André – um dos doze e irmão de Pedro – apresenta um jovem a Jesus, dizendo: “Aqui há um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?” (cf Jo 6,9). Bem sabemos a continuação da história: Jesus abençoa o alimento e entrega aos outros, gerando uma onda de repetição: aqueles que tinham uma reserva de alimento em suas bolsas dividiram com aqueles que estavam desprovidos. Já aqui temos elementos para gastarmos uma longa reflexão, mas há outra forma de abordar esta perícope do Evangelho de João. Enquanto os outros evangelistas apresentam apenas a oferta (cinco pães e dois peixes) o Evangelho de João apresenta o ofertante: André leva até Jesus um jovem que possuía cinco pães e dois peixes. Esta perspectiva da narrativa pode ser atualizada em muitas realidades do nosso tempo.
André não ofuscou o jovem dizendo que “temos” aqui cinco pães e dois peixes, como se o bem do outro fosse, a partir de agora, apropriação “nossa”. Pelo contrário, André apresenta o jovem à Jesus como o dono dos bens disponíveis. E somente este pode oferecer, na gratuidade e amor, aquilo que possui. Foi isso o que aconteceu em seguida. Outro ponto é a promoção do jovem. André indiretamente evidencia o jovem como aquele que pode ir além das necessidades daquele momento. André assume as suas próprias limitações frente a problemática, e eleva alguém que pode ir além a tudo aquilo. Talvez se esperasse mais dos apóstolos por estarem sempre perto do Mestre. Por isso colocar um jovem como parte da solução do problema, acima das possibilidades dos apóstolos, é um ato de grande humildade.
Quanto ensinamento nessa pequena passagem. André nos questiona. Este apóstolo nos leva a refletir sobre nossa vida social e religiosa. Será mesmo que, quando possível, promovemos as outras pessoas e seus dons ou procuramos ofuscá-las no desespero de nos fazer o centro? Será mesmo que nos bastamos a ponto de inutilizar a participação das outras pessoas ao redor? O advento é também um bom momento para perscrutar nosso coração em busca de um maior conhecimento de nós mesmos.
A exemplo do apóstolo André, sejamos humildes para aceitar nossos limites e reconhecer que precisamos do outro no caminho da plenitude humana, rumo à Eternidade. Deus mesmo nos ajudará!
2 respostas em “A exemplo do apóstolo André”
O Apóstolo André, foi digno em não ofuscar o jovem que tinha cinco pães e dois peixes, mas com amor e gratuidade no coração, ele assumiu suas limitações, para promover indiretamente com justiça aquele jovem! Assim resolvendo uma problemática diante do Mestre, com o seu ato de humildade… Que esta reflexão seja testemunho, para as nossas vidas, vivenciadas em Pastorais! Em especial neste Tempo do Advento, possamos enxergar os nossos irmãos, com justiça, reconhecimento e discernimento, avaliando sempre as nossas ações, em busca de nossas conversões!
Perfeita reflexão, totalmente aderente a muitas realidades, inclusive em Pastorais