A importância do outro

Você pode também escutar esta crônica na voz de “Gilberto Macedo”

Como é o meu comportamento no caótico trânsito dessa “Paulicéia Desvairada?” Não precisa responder, só refletir…

Esta indagação me surgiu após presenciar um tresloucado motorista que fazia um ziguezague entre os carros, numa operação de alto risco a uma velocidade acima da permitida numa conhecida avenida na zona leste da cidade.

 Este escriba, no volante, estava absorto em decifrar alguns enigmas sobre o processo de tomada de decisão dos que estão no poder, nos tempos da destruidora pandemia que flagela o mundo todo.  O Brasil é um países mais populosos do mundo. Fica em sexto lugar, atrás da China, Índia, Estados Unidos, Indonésia, Paquistão e Nigéria. A curiosidade que me aguçou o espírito deveu-se à informação de que a Indonésia, diferentemente dos demais países, começou o seu processo de vacinação pelas pessoas de 18 a 59 anos que é a parcela ativa da sociedade que embora menos vulnerável possui maior possibilidade de espalhar o vírus. Os acima de 60 anos ficaram para depois.

Lembrei-me também do seguinte episódio: “Na Segunda Guerra, aviões militares retornavam das missões cheios de buracos de balas. Era preciso blindar mais as áreas danificadas.

“Não! disse Abraham Wald, um matemático famoso por conta desse episódio – o certo é blindar as partes SEM FUROS dos aviões que voltaram, pois os que  não voltaram foram os atingidos ali. Não olhe para quem voltou, mas para quem não voltou!”.

Assim, por um momento, pensei mesmo, que a vacinação poderia começar pelos que espalham o vírus e não pelos que, passivamente, são infectados. Afinal, os que estão com idade acima de noventa anos, com raríssimas exceções, não ficam perambulando por aí, frequentando locais de grandes aglomerações ou baladas. Permanecem “confinados” em seus lares e querem mais é sossego e silêncio. Não sei… Só pensei cá com os meus botões!

Ah! Voltando ao caso daquele aventureiro do trânsito… Como esperado ele acabou batendo na traseira de outro veículo e virou aquele quiproquó!  Muitos pararam para assistir à cena. A curiosidade sempre é grande nessas ocorrências.

Lembrei-me de um episódio particular que muitos já conhecem: extremamente vexatório!

No trânsito, era impaciente e nervoso!  Não aceitava ser “cortado”, irritava-me com gente que buzinava por um motivo qualquer. Até hoje não sei a razão de tantos buzinarem por tão pouco.  Nem sou fã de buzinaço. Acho irritante e inoperante.

Enxergava defeitos nos outros com olhos frontais de águia! Em mim, jamais- olhos laterais de galinha.

Certa noite, na movimentada avenida marginal do Tietê, voltando do supermercado pela faixa da esquerda algo me irritou profundamente: do carro de trás, um sinal de farol alto, dois, três… Era noite.  Reduzi bruscamente a velocidade e com a mão esquerda movimentando de trás para frente sobre a cabeça mandava o recado “passa por cima, apressado”!

Vitorioso pela atitude heroica entrei pela alça direita no viaduto. Encontrei o trânsito totalmente engarrafado.  O motorista “apressado” avizinhou o carro, abaixou o vidro e me disse educadamente: Desculpe meu amigo, eu não queria passar por cima de você! Só queria avisar que o seu carro está com um pneu furado!

Um frio percorreu a espinha. O mundo pareceu desabar sobre a minha cabeça. Não sabia onde enfiar a cara de pateta! Envergonhadíssimo pela estupidez! Com aquela cara de quem cometeu uma tremenda besteira, pedi perdão, unindo a palma das mãos!  Ele aceitou. Foi logo embora. Não me humilhou mais, apesar de merecer uma carraspança.

– Ufa, ainda bem!

Estacionei sobre a calçada, demorei em trocar o pneu. A hora não custava a passar. Começou a chover e esfriar. Clima e tempo consoante o meu humilhado e apequenado ser.

Naquele momento e circunstância me toquei… e me troquei por outro figurino: tolerante e dócil no trânsito (mesmo quando tinha motivo de protesto!).

Confesso que desde então, não encontrei ninguém, no trânsito da vida, mais paciencioso do que eu!  Igual sim. Mais não!

Recebi a graça do perdão, aprendi e a acolhi em meu ser.

Aprendo muito com o outro e, principalmente como o grande Outro: Deus!

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14 respostas em “A importância do outro”

Simplesmente obrigado Dr. Irineu. Aprendi que nunca vou saber tudo. Posso dizer, até tenho resposta pra tudo, porém nunca ignorar ou desprezar todos os sinais; alguns sim, mas todos nunca.

Bom dia Irineu ! Já estava com saudades das suas reflexões…Belo texto que nos faz questionar sobre esta questão de “prioridades” Por um lado os idosas são os mais afetados clinicamente quando pega o virus chegando até o obto,por outro lado a população que esta inserida no mercado de trabalho corre mais risco de entrar em contato com o virus…Idependente da idade a jovens,adultos e criança que tambem perdão a vida…Vale sim termos um olhar critico fazer esta reflexão não depende de nós estabelecer os critireios de prioridade ,por que no fundo todos idependente de cor,raça ,sexo,condiçõa economica e social merece ser vacinados..Diante de Deus cada um é unico todos nós somos prioridade no olhar do Deus misericordioso…Tudo que esta acontecendo hoje é consequencia das escolhas humana.Focamos no olhar misericordioso de Deus diante da humanidade na certeza que fomos e somos prioridade do misterio da criação.A oração e nossas ações se encarrega de colocar as coisas tudo em seu devido lugar.Creio que em muito breve todos vão ser vacinados e aquele abraço acolhedor que esta guardado iremos praticar em ação na missão a qual o Senhor nos confiou…Saudades dos encontros,das acolhidas, das partilhas de vida e aprendizado no Centro Pastoral.
#SUS@SALVAVIDAS #EUACREDITONAVACINA #somostodosprioridade…
Abraços !

A lógica da prioridade sobre a vacinação é bastante discutível. Também não entendo o porquê profissionais da saúde JOVENS e que não possuam COMORBIDADES estão sendo vacinados antes de idosos com comorbidades. Acredito que os pais e/ou avós desses profissionais é que deveriam ter essa prioridade mas é uma discussão que tem várias particularidades e peculiaridades, ou seja, não teríamos uma verdade absoluta e indiscutível. Enquanto isso só nos resta orar para que Deus, nosso Senhor Jesus Cristo, continue protegendo nossos familiares e conhecidos do grupo de risco e para que o milagre da multiplicação recaia sobre as doses disponíveis. Já em relação ao julgamento equivocado que virou aprendizado e ocasionou mudança de comportamento, talvez a lição que fica é a de que devemos pensar, refletir e analisar muito bem antes de julgar quem quer que seja: nem tudo é o que parece ser e nem todos agem da mesma forma!

Amigo Irineu, penso como vc sobre as vacinas, desde o início tenho falado que os primeiros a serem vacinados deveriam ser os que estão na ativa os que são obrigados a usar os transportes coletivos para trabalhar, os mais novos.
Sua paciência adquirida …prestar atenção no outro antes de julgar, são ensinamentos para reflexão !! Muito obrigada por esse momento!.
Grande abraço

Perfeito!
Meu amigo Irineu de paciência admirável, feliz é aquele que aprende com seus erros e replica para sociedade refletir e não cair na pilha das situações e armadilhas do dia a dia.
Paciência sempre que possível.
Abraço.

Sr Irineu. Quem me dera ter apenas um dedinho mindinho da sua paciência. É eu juro que tento. Sou totalmente estressado no trânsito. Mas um dia aprendo . Como sempre, linda a sua reflexão e certeira .

Que belo exemplo desse motorista tão generoso…e assim vamos vivendo e aprendendo…
De tudo nessa vida tiramos algum proveito

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