A influência das relações sociais no Cristo

Já está comprovado pela antropologia de que por meio das relações sociais se compreende o perfil do ser humano. Todos os especialistas concordam que o ambiente influencia diretamente no comportamento social do indivíduo. No entanto, essas afirmações já conhecidas se tornam novas e admiráveis quando aplicadas na pessoa de Jesus. Poderia Ele, o filho de Deus, ter sido influenciado pelo seu convívio social? Seus discípulos, sua família, amigos… será que estes ajudaram a moldar a personalidade do Cristo?

O contexto que atingiu Jesus

Jürgen Moltmann, teólogo protestante alemão de grande influência no século XX (e atualmente), faz uma análise mais detalhada da vida que Jesus viveu e percebe que houve sim uma transformação interior pelo convívio exterior. Ou seja, Jesus não estava alienado as coisas de seu tempo, pelo contrário, ele foi sendo moldado conforme a própria realidade da sua vida.

Moltmann destaca a importância das mulheres especialmente nos evangelhos sinóticos, e lembra: todas mulheres que se relacionaram com Jesus deixaram uma marca, da mesma forma com que Ele as marcou. Da mesma forma os pobres marcaram Jesus de maneira profunda, sobretudo quando se apresentam como ovelhas sem pastor, sem alguém que se importe com eles. Isso será determinante nas ações futuras de Cristo.

Um Deus de relação

A Igreja tem responsabilidade na forma como Jesus foi apresentado ao mundo; muito mais na sua dimensão teológica, depois escatológica para, por último, trazer à tona Sua humanidade – vivida em sociedade. Essa última dimensão revoluciona o conceito, ou melhor, a experiência com Deus.

Ainda é uma novidade relacionar a experiência de Deus como ser humano, pelo menos ao que se refere a sua prática, sobretudo na relação que teve com os mais necessitados e sofredores. É em vista desta “imitação de Cristo” que o Papa Francisco tem se esforçado para renovar a face da Igreja e, assim, apresentar uma nova dimensão relacional do humano com o divino (escondido no outro).

Não poucas vezes Francisco orienta para que a Igreja abra suas portas para o diálogo; levando adiante a sua Boa Nova, mas preparada também para receber o que legitimamente há de bom no mundo.

Abramo-nos as portas

Nesta perspectiva, devemos reconhecer que não somos detentores da verdade absoluta e, dessa maneira, perdemos se ficarmos fechados ao mundo. A não sociabilização faz-nos perder um alargamento das experiências relacionais (com o próprio Deus) e nos conduz a uma parcialidade reducionista daquilo que entendemos da Criação e do Criador.

Em outras palavras, faz bem seguir o exemplo de Jesus, que se deixou tocar, se deixou influenciar e absorveu o ensinamento da vida. Precisamos nos abrir à possibilidade de sermos afetados pela novidade do outro. Isto não significa perda de identidade, mas um acréscimo considerável naquilo que nos dá sentido e que constitui o nosso ser.

Jesus, sendo Deus, viveu plenamente sua humanidade, afetando e deixando-se afetar pela humanidade daqueles que estavam ao seu redor. Ele deu o exemplo para que o sigamos nessa aventura de ganho certo. Abramo-nos as portas!

Referência
MOLTMANN, J. O Caminho de Jesus Cristo: cristologia em dimensões messiânicas. Santo André: Academia Cristã, 2009. pp. 227-233

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