No mês de outubro celebramos, no Brasil desde 1972, a Campanha Missionária. Neste ano, mesmo vivendo um tempo diferente, em que o mundo passa por uma pandemia que mudou nossas relações, a Campanha Missionária em 2020 quer ser um sinal de esperança para tantas vidas doadas de forma solidária. O tema escolhido: “A vida é missão” e o lema “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8), irão nos ajudar no crescimento da consciência missionária.
Arte da Campanha Missionária
A arte da Campanha Missionária de 2020 foi idealizada tendo como conceito base a missão como janela aberta para a vida. A imagem da janela representa a capacidade do ser humano interagir com o mundo ao seu redor e, assim despertar o real e generoso interesse para com o seu semelhante. A janela aberta representa a atitude de acolhida para com o mundo, uma ponte que nos coloca em diálogo com os desafios da vida para além de nossas fronteiras pessoais.
No centro desta janela aberta para a vida, é apresentada a figura do Papa Francisco, que tem a missão encarnada em sua vida, não somente como Pastor da Igreja universal, mas, antes de tudo, cristão, vocacionado e homem dedicado ao bem dos seus irmãos. Nesta imagem, o Papa é representado na espontaneidade, postura de quem acolhe, se envolve e cuida. Ele se coloca como exemplo de doação pelos valores do Reino e, nesta época, tão carente de referenciais, nos dá o exemplo de uma vida onde a missão se entrelaça com as mais simples situações do quotidiano e se coloca em sintonia com os ensinamentos de Jesus.
A moldura desta construção conceitual para a Campanha Missionária 2020, é um fundo branco, como uma tela de pintura, que tem a intenção de mostrar a centralidade desta vida, que ganha sentido e cor somente na medida em que é vivida como missão, como doação e entrega aos irmãos.
Nesta tela em branco, o toque do pincel traz as marcas do artista. Todos são chamados a deixar a própria marca nos horizontes desta vida em missão. Nosso modo único de lidar com as situações, nossos talentos e capacidades, a serviço do Reino de Deus, fazem toda a diferença e podem colorir a vida em tons extraordinários e inesperados (Pontifícias Obras Missionárias – POM).
O objetivo da Campanha Missionária é […]
Despertar a consciência da missão Ad gentes e o sentido missionário da nossa adesão de fé a Jesus Cristo; fé recebida como dom gratuito no Batismo. A palavra missão significa “envio” da pessoa que não guarda para si essa “Boa Notícia”, e sai de si mesmo para evangelizar o outro, para anunciar Jesus Cristo. O termo Ad quer dizer “para”. E gentes vem do latim, que quer dizer os “gentios, pagãos”, aquelas pessoas que não conhecem Jesus Cristo, ou que sempre O recusaram.
“Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8)
A Igreja do Brasil tem se dedicado a ir em missão por todo o nosso território, mas também, a lugares longínquos, às nações mais pobres e às mais ricas, fazendo, muitas vezes, o caminho inverso ao que fez a Igreja séculos atrás, e evangelizando quem outrora nos evangelizou. Muitos desses países convivem com uma crise de fé. Países de onde saíram os primeiros santos, as primeiras referências da Igreja, mas que, hoje, experimentam escassez de vocações.
O ato, pelo qual somos feitos filhos de Deus, sempre é eclesial, nunca individual. Da comunhão com Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, nasce uma vida nova partilhada com muitos outros irmãos e irmãs. A vida é o bem fundamental e básico em relação a todos os demais bens e valores da pessoa. Para a ética, a vida é um bem, mais que um valor. Deus, ao contemplar a criação, “viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31).
Nós, cristãos, somos convidados a defender e cuidar da vida em todas as suas dimensões. Jesus de Nazaré definiu sua ação no mundo como o Divino Cuidador: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo10,10). Esse também deve ser o compromisso de todos os missionários e missionárias, pois a vida é missão.
A ação missionária é o paradigma de toda a obra da igreja
Ser discípulo missionário está muito além de cumprir tarefas ou fazer coisas. O Papa Francisco lembra que “a missão no coração do povo não é uma parte da minha vida, ou ornamento a ser posto de lado. É algo que não posso arrancar do meu coração” (EG, 27).
João Paulo II, na Carta Encíclica Redemptoris Missio, convida-nos a reconhecer que não se pode perder de vista o anúncio evangélico àqueles que estão longe de Cristo, “porque esta é a tarefa primária da Igreja” (RMi 34). Afirma que “a atividade missionária ainda hoje representa o máximo desafio para a Igreja” (RMi 40) e que “a causa missionária deve ser (…) a primeira de todas as causas” (RMi 80). Se levarmos a sério estas palavras, reconheceremos que a ação missionária é o paradigma de toda a obra da Igreja. “Esta é propriamente a missão Ad gentes” (cf. AG 6).
A evangelização está essencialmente relacionada com: “a proclamação do Evangelho àqueles que não conhecem Jesus Cristo ou que sempre O recusaram”. Muitos deles buscam secretamente a Deus, movidos pela nostalgia do seu rosto, mesmo em países de antiga tradição cristã. Todos têm o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o dever de o anunciar, sem excluir ninguém; não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível. A Igreja não cresce por proselitismo, mas “por atração” (cf. EG 14).
A evangelização no mundo de hoje
O mundo precisa ouvir a mensagem do evangelho eterno (Ap 14,6) e isto é bom motivo para se praticar a evangelização. Mas, o que significa evangelizar? Quais as implicações do evangelho? Como expressar a fé bíblica e cristã no mundo pós-moderno?
Evangelizar é apresentar um anúncio jubiloso; proclamar a Boa Nova. É a proclamação de uma mensagem de alegria. Em outras palavras: evangelizar (do grego euangelizomai) significa trazer ou anunciar o evangelho (euangelion), a boa nova, ou seja, o anúncio da salvação efetuada em Jesus Cristo através de Sua morte e confirmada na humilhação de Sua sepultura e no triunfo de Sua ressurreição.
É a ressurreição que confere à mensagem de Cristo, e a toda a sua ação e missão, um alcance universal. Os discípulos constatam que o Reino já está presente na pessoa de Jesus (Mc 1,14-15) e que, pouco a pouco, vai-se instaurando, no homem e no mundo, por uma misteriosa ligação com a Sua pessoa. Sobre o anúncio de Jesus Cristo, com o qual o Reino se identifica, se concentra a pregação da Igreja primitiva.
O Reino de Deus não é um conceito, uma doutrina, um programa sujeito a livre elaboração, mas é, acima de tudo, uma Pessoa que tem o nome e o rosto de Jesus de Nazaré, imagem do Deus invisível. Se separarmos o Reino, de Jesus, ficaremos sem o Reino de Deus por Ele pregado, acabando por se distorcer, quer o sentido do Reino, que corre o risco de se transformar numa meta puramente humana ou ideológica, quer a identidade de Cristo, que deixa de aparecer como o Senhor, a quem tudo se deve submeter (cf. RMi 16-19).
Porém, a pregação do Evangelho no mundo de hoje, com relação à firme convicção e apresentação da verdade, não deve ser diferente daquela ocorrida no tempo dos Apóstolos. Os Apóstolos, movidos pelo Espírito Santo, convidaram todos a mudarem de vida, a converterem-se e a receberem o batismo. A conversão e o batismo inserem o fiel onde já existe a Igreja constituída, ou então, implicam na constituição de novas comunidades, desde que essas, reconheçam Jesus, Senhor e Salvador.
Com a mensagem evangélica, a Igreja oferece uma força libertadora e criadora de desenvolvimento, exatamente porque leva à conversão do coração e da mentalidade; faz reconhecer a dignidade de cada pessoa; predispõe à solidariedade, ao compromisso e ao serviço dos irmãos; insere o homem no projeto de Deus, que é a construção do Reino de paz e de justiça, já a partir desta vida (cf. AG 3.11.15).
A força do Kerigma
Todavia, as estratégias do anúncio (Kerigma), podem diferir de um contexto para outro, de uma cultura para outra. Deve-se pregar a Palavra de Deus com brandura e amor, mas, também, com firmeza e integridade, tal qual a apresentaria o próprio Jesus. O revestimento do Espírito Santo, para a pregação do Evangelho eterno, se torna uma realidade à medida em que nos colocamos a Seu serviço e nos propomos a vivê-lo, apresentando-o aos outros com amor e abnegação, para que vejam, entendam e aceitem, não apenas através de nossas palavras, mas pela sonoridade de nossos atos, levando as pessoas à verdadeira conversão (cf. RMi 87).
Nesse sentido, o Papa Paulo VI, na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, nos deixou uma belíssima lição, a de que “não haverá nunca evangelização verdadeira se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem anunciados. […] Dar a conhecer Jesus Cristo e o seu Evangelho àqueles que não os conhecem é precisamente, a partir da manhã do Pentecostes, o programa fundamental que a Igreja assumiu como algo recebido do seu Fundador” (EN 22.51).
O Dia Mundial das Missões deveria manter-nos acordados. Será que nós acreditamos que a mensagem de Cristo se dirige a todos os homens, de todas as nações, quaisquer que sejam as suas situações, as suas alegrias, os seus sofrimentos, as suas questões, os seus projetos? Se a mensagem de Cristo é universal, é necessário que aqueles que dela se beneficiarem não a guardem só para si, devem anunciá-la, gritá-la, e dar àqueles que partirem para a anunciar, os meios necessários. Esta mensagem não consiste, apenas, em palavras para escutar, mas numa Palavra que faz viver, que volta a erguer, que dá felicidade. Então, estejamos preocupados com a propagação do Evangelho ,em toda a parte, e para todos.
Referências: BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002. BÍBLIA do Peregrino. São Paulo: Paulus, 3ª edição, 2017. CONCÍLIO VATICANO II. Decreto Ad Gentes – AG. 1965. PAULO VI. Exortação Apostólica Evangelli Nuntiandi – EN. São Paulo: Paulinas, 1986. JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptoris Missio – Rmi. São Paulo: Loyola, 1991. PAPA FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium - EG. São Paulo: Paulinas, 2013.
Uma resposta em “A vida é missão”
De fato somos chamados à anunciar com nossa vida, o evangelho deve chegar à toda a humanidade e nós temos tbm essa responsabilidade, que Cristo seja conhecido por todos os homens.