Nas pegadas de Frei Carlos Josaphat

Quando jovem, já revelei algumas vezes, dizia que não queria viver mais do que sessenta anos. Depois de ultrapassar a marca dos sessenta anos, vi-me obrigado a repensar essa questão de “idade certa para morrer”. Dado que não é um assunto que seja do nosso domínio, tudo fica circunscrito a divagações e brincadeiras. Nem dá pra imaginar algo diferente. Pois…

“Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai.”

Mt 24,36

Assim, afirmei: Agora, já que me foi dado essa ventura de estar na terceira idade, não quero morrer tão cedo. Quem sabe, aos noventa e nove anos?!

Agora, vejo com pesar que lá em Goiânia, cidade onde vivem alguns amigos dos tempos da Comunidade de Jovens Cristãos (CJC) em Andradina, faleceu o Frei Carlos Josaphat, aos noventa e nove anos! Ele ficou conhecido nos anos sessentas pelo seu empenho social e político, escrevia num semanário que fundara com apoio da Juventude Universitária Católica (JUC), propagava a militância social sendo alvo de católicos conservadores que nunca aceitaram a sua ardorosa defesa do engajamento político. Enfim, era considerado um “padre comuna” pelas suas homilias. Estudou a Suma Teológica de Tomás de Aquino quanto ao aspecto da Justiça e interpretava o pensamento do Santo Filósofo a respeito das coisas privadas sob “leis justas e de costumes virtuosos (…) a utilizar as riquezas tendo em vista o bem comum”.

Cinco dias após o seu nonagésimo nono aniversário, 09 de novembro de 2020, faleceu.

Frei Carlos Josaphat deixou um legado admirável e inspirador a todos quantos se dignam a lutar em prol de uma justiça que propicie, desde já, o desfrute de uma vida com dignidade em que haja presenças da fraternidade e da solidariedade no seio da sociedade como algo comum. Muitas vezes, por isso, incompreendido e perseguido pelas autoridades, inclusive, religiosas. Teólogo, Professor Doutor de Ética da Comunicação. Escreveu dezenas de livros. Suas palestras encantavam a todo o público. Cheias de fervor, fé e caridade! Assisti a duas palestras dele no âmbito da Pontifícia Universidade Católica (SP) da qual era “Doutor Honoris Causa”. Contagiantes.

Pensei cá com os meus botões, longe de imaginar qualquer traço de comparação com o Doutor Frei Carlos Josaphat, mas inspirado no legado.

Aproveito e convido os leitores a fazerem a auto-análise:

  1. O que as pessoas encontrarão em meu baú particular quando eu deixar esta vida?
  2. Será que encontrarão a fidelidade tão apregoada?
  3. O amor estará entranhado em toda a obra realizada?
  4. A paz tão proclamada estará por certo protegida?
  5. Os sonhos tão buscados quando jovem foram vividos na plenitude?
  6. Soube viver de verdade o amor ao próximo?
  7. A emoção falou mais alto do que a razão em alguns episódios?
  8. Se eu não existisse o que o mundo perderia?
  9. Fiz o bem quando requisitado ou me omiti?
  10. Professei a fé com o testemunho de vida?
  11. A quem mais me dediquei: ao dinheiro ou às obras?

A vida comporta perguntas. Dúvida constante impulsiona à busca! Quando menos se espera, descobre-se uma força interior que jamais imaginara existir.

São misteriosos os caminhos percorridos pelos cinco bilhões de tecidos ou os duzentos trilhões de células do corpo humano. Essa contagem das células me parece com a idade que se atribui a alguns objetos encontrados pelos arqueólogos: um bilhão e quatrocentos milhões de anos! Não acredito e nem duvido! Simplesmente, fico a pensar como se fez a medição ou a apuração. Deve ter o método científico que ateste a constatação. Mesmo assim, resta-nos o mistério.

Grande a complexidade da formação do corpo humano. Ainda assim, tem gente que se julga um pequenino e insignificante ser tal qual a bactéria – unicelular. Tem uma só célula. Cuidado! Pensar assim pode provocar grandes tragédias!

Sim, é isso mesmo! Cuidado para não ser uma bactéria que se encontra em toda parte: no ar, na água, na terra e no organismo humano causando doenças e morte!

Metamorfoseie-se! Mexa-se! Anime-se!
Faça valer à pena viver neste mundo que tanto necessita de gente disposta a fazer a diferença!
Você não é unicelular!
Você é um ser especial.
Você é filho.
É fruto de intensa relação amorosa.
Volte à origem.
Encontre a razão que tanto procura!

Quando Deus fez o homem Ele viu que não era simplesmente bom, como afirma o relato da criação a cada obra. Ele viu que era “muito bom”. Se eu fosse hebreu e hagiógrafo naqueles tempos mosaicos redigiria assim: Ele viu que era “ótimo”.

Não O decepcionemos!

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19 respostas em “Nas pegadas de Frei Carlos Josaphat”

Sensacional…com um texto assim já pode disputar os “Top Ten” dos livros de autoajuda. Que se cuidem Dr. Augusto Cury, psicólogos, etc. Os psiquiatras não seriam afetados pois possuem o poder da “tarja preta”. Sobre as questões da auto-análise, talvez o melhor momento de fazê-las seja quando sentirmos “aquela paz interior” que um dia chegará para todos. Por enquanto é viver, errar, aprender, acertar, cair, levantar e assim por diante…

-“A vida comporta perguntas.
-Dúvida constante impulsiona à busca! 
-Quando menos se espera, descobre-se uma força interior que jamais imaginara existir.”

Meu querido Amigo Irineu sempre nos brindando com pérolas!

Como disse acima o João Elias, a quem ainda não conheço, logo logo, teremos uma coleção de pérolas encartadas em livro.

Sucesso Amigo!

IRINEU, muito interessante está crônica que nos leva a muitos questionamentos, inquietações e reflexões!
Exercer a fraternidade, e solidariedade com seriedade sempre, pois a vida é um sopro, então não deixar uma boa ação, um compromisso, para mais tarde ,para amanhã, porque o depois pode ser tarde demais!
Um abraço com carinho!

Olá Irineu sempre muito boas e provocativas suas reflexão…Confesso que as perguntas sugeridas dispertou em mim uma certa inquetude…Tive uma certa resitencia porque não tinha pensado esta hipotese…
Mas penso como disse nosso amigo e irmão Diacono Celso no seu tema que defendeu no exame de teologia.
” O Reino de Deus no Aqui Agora”
Pois o Senhor é bastante generoso conosco nos proporcia a vivencia do Reino no nosso cotidiano.Seja nas relações familiares,nas relações de trabalho,nas realações sociais…Devemos esta atentos e viver a dimensão do reino intensamente e aproveitar o abraço do amigo,irmão ,pai mãe,familiares.Pois o abraço quando é reciprico e verdadeiro é a forma mais palpavel que encontramos de abraçar a Deus.
Que possamos ser este sinal permanente do amor e misericordia de Deus a todas as pessoas pelas quais iremos nos encontrar porque são as nossas relaçoes socias e atitude que iremos oferecer a Deus no dia que fomos chamados para participar do banquete do Senhor.
Obrigada pelo texto provocativo pois em orações vou colocar no coração de Deus as limitações que impede ser este sinal continuo da presença de Deus.

Irineu importante e profundas suas reflexões é o próprio Deus falando através de suas palavras. Agora, qual será o dia que voltaremos a casa do Pai é mistério de Deus e acredito que Ele quer que cumpramos a nossa missão enquanto discípulos que somos. Ele sempre nos dá mais uma chance a cada dia, mesmo que sejamos como Saulo que foi transformado em Paulo. “Tudo posso naquele que me fortalece”. Minha força vem de Deus, portanto não estou só nesta missão e isso faz com que me levante e ande e continue cada vez melhor. Até que chegue o dia mais feliz da minha vida que será quando voltar a casa do Pai. Obrigada pela sua catequese, sempre importante aprender.

Meu irmão, amigo Irineu meu carinho. Que fantástico, nos apresentando mais um dos pilares da Santa Igreja e com certeza arrastou uns para a comunhão e unidade com o Senhor. Ainda bem que não sabemos tudo e; nem o que nos espera precisamemente (100%). Viva a parábola…!

Amigo Irineu, seus textos sempre me encantam. Suas perguntas para auto analise me fez refletir e desejar fazer nascer um novo ser humano!
Uma boa lição de casa.
Obrigada
Grande abraço!

Já estamos na terceira idade, não diria que é a melhor e muito menos que é a pior.
Cada fase da idade comporta suas próprias alegrias e tristezas, o importante é saber viver cada uma dessas fases da melhor maneira possível, aproveitando cada segundo delas.
Nós não sabemos quando vamos morrer e por isso cada segundo deve ser bem aproveitado e de preferência seguindo os mandamentos de Deus.

Vou tomar como minhas, com a devida vênia, as palavras do Reginaldo Ferreira e fazer uma auto análise, já que também estou na melhor idade. Em pondo na balança, acredito que fui e estou sendo, mais positivo do que negativo.
Também espero que o Pai se esqueça, por enquanto, da lista de chamada em que consta o meu nome e, me dê forças para continuar a servi-Lo e honrando seu santo nome.
Frei Carlos já está na glória e, só nos resta seguir os seus passos.
Parabéns pela crônica.

Irineu suas perguntas para autoanalise são tocantes, com certeza vou me questionar e procurar respostas.
O tempo passa rápido e precisamos refletir e tentar corrigir nossas falhas no dia a dia com o próximo e procurar fazer o bem não importa a quem.
Abraço.

Bom dia!!!
Aprender e nos transformarmos e algo que e do ser humano, temos que provar pra Nos mesmos que somos capazes de evoluir sempre tentando melhorar, abraco amigo ,Deus e contigo.

O meu cesto tem frutos bons, regulares e fracos. Os bons de hj são a transformação dos outros. Antes não existia a possibilidade dessa mudança, nós dias de hj através de aprendizado e reflexões no amor ao próximo já consigo sentir q o tempo foi e, é necessário para absorvermos essa graça de Deus. Parabéns Irineu vc tem parte nisso…

Irineu suas perguntas para autoanalise são tocantes, com certeza vou me questionar e procurar respostas.
O tempo passa rápido e precisamos refletir e tentar corrigir nossas falhas no dia a dia com o próximo e procurar fazer o bem não importa a quem.
Abraço.

Precisamos fazer a diferença. Somos filhos e filhos amados do Pai, que nos criou a Sua Imagem e semelhança, não por acaso.
Vc elencou perguntas que vou meditar e procurar responder a cada uma . Vc me ajuda nessa empreitada??

Irineu, creio que não demorará e você nos presitigiará com um livro. Sua capacidade de transformar as letras em belos e importantes textos, precisa ser registrado na literatura brasileira e principalmente para nós católicos. Parabéns!

Admiro sua competência e facilidade para transformar as letras em excelentes textos.

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