Você tem alguma frustração ou sente que algo lhe faltou?
Lógico que sim. Isso é natural. A nossa vida é uma busca constante, não é mesmo?
Nasci e vivi numa chácara onde tinha gado leiteiro, porcos que forneciam banha e carne, uma bela horta e um pomar maravilhoso! Sem contar o córrego piscoso.
Sempre uso a expressão – tinha tudo. Pés de fruta os mais diversos: caqui, carambola, cajamanga, jambo, manga, laranja, abacaxi, tangerina, mexerica, limão.
Paro a descrição por aqui e, no íntimo, sinto não poder dizer que tinha jaboticaba. Às vezes, mais detalhista, digo que só não tinha jaboticabeiras, uma pena. Lembro-me que tinha uma chácara famosa onde a plantação de jaboticabeiras era abundante. Chácara Tóquio! De japoneses, é lógico. Um show de pomar. Os caules das jaboticabeiras roubam a cena.
Metamorfoseiam-se. Ora flores, ora frutos. Ora branco, ora roxo. Beleza em todo o tempo da longa vida. Demoram em dar frutos as jaboticabeiras, depois não param e só aumenta a produção com a idade. Quanto mais velha, maior a produção. E dizem que só existe jaboticaba no Brasil. Lógico que é lenda! Com tantos países vizinhos… Não existirá jaboticaba na Bolívia, Paraguai, Uruguai, Argentina etc.?
Escrever crônica é bom por isso… Os pensamentos vão de agulha a avião a jato num instante. Por mais que se tente, difícil controlá-los ou gerenciá-los.
Falando de carambola e jaboticaba lembrei-me de uma dieta da nutricionista que, para diminuir a taxa de potássio apontada no exame laboratorial, devo conhecer as frutas que apresentam baixo teor de potássio. E dentre a relação consta a jaboticaba. Já a carambola, para quem tem problema renal crônico, como eu, é totalmente proibido.
Rápida pesquisa dinâmica em site de nutrição, um alerta precioso: “Apesar de ser um alimento bastante positivo para a saúde, a carambola não pode ser consumida indiscriminadamente por qualquer pessoa. A substância chamada caramboxina traz problemas para quem vive com alguma doença renal crônica. Quando os rins já estão perdendo a capacidade de filtrar substâncias, a caramboxina não é eliminada e o acúmulo pode causar toxicidade neurológica, levando a sintomas como vômitos, convulsões, confusão mental, coma e, em casos raros, levar a morte.”
Se eu soubesse disso, quando morava na Chácara Esplendor, não teria consumido a carambola que era fruta abundante. Nem atualmente, antes de saber desse aspecto nocivo, comeria em saladas chiques como “estrelas” despontando no prato.
Providencial seria um aviso “O consumo da carambola faz muito mal ao paciente renal crônico. A ignorância pode levar até a óbito.”
Mas, voltando à vaca fria. Na vida de chacareiro por longos dezoito anos não tinha jaboticabeiras no pomar.
Passado quase meio século, na volta do trabalho aqui na megalópole meus olhos amendoados viram uma caminhonete com a carroceria cheia de mudas de plantas. Uma faixa com os dizeres: vendo jaboticabeiras produzindo! O gatilho da memória foi acionado. Inevitável.
Tão logo encontrei espaço para estacionar, não titubeei. Fui lá, confirmei as frutinhas no caule, pechinchei o preço com o produtor e, agora, citadino e na melhor idade, adquiri o que me faltou na flor da idade: jaboticaba.
Ah! É que tenho alguém que gosta de jardim e cuida bem dele e de mim. Simples assim. Quem não tem pomar, plante fruta no jardim! Tudo de bom. Apesar da rima chinfrim!
Voltando ao “a ignorância pode levar a óbito” nesses tempos de pandemia em que todo o cuidado é pouco para evitar se contaminar com o vírus e contaminar o próximo. Nosso Deus é o Deus do impossível, mas não custa lembrar que o possível cabe a cada um de nós.
Não assumir as consequências das nossas decisões equivocadas conscientemente, esperando a Providência do Altíssimo é no mínimo menosprezar a inteligência que Ele nos deu. É ignorar o essencial. É superstição, para não dizer, fanatismo!
A propósito, o coronavírus, lenda ou não, pode ter surgido de uma inobservância de um preceito do Antigo Testamento: “Entre as aves, eis as que tereis abominação e de cuja carne não comereis, porque é uma abominação: a águia, o falcão e o abutre,… o cisne, o pelicano, o alcatraz e a cegonha, toda a variedade de garça, a poupa e o morcego” (Levítico 11, 13-19).
Cuidado com o que consumimos!
O mais saudável é nos alimentar da PALAVRA do Criador.
Não dar crédito a quem é apenas criatura e se opõe por vício, por mais bem intencionada que seja.
7 respostas em “De Jaboticabas a Morcego”
Boa reflexão! Como sempre.
Irineu,
Que belo texto , velhos tempos!
Recordar é viver!
Você me fez lembrar da nossa chácara, onde tivemos oportunidade de passar parte das nossas vidas: infância, adolescência e juventude!
Muito legal e gratificante, mas voltando entre morcego e jaboticaba fico com a fruta, pois com certeza é bem mais salutar!
Um abraço com saudades!
Saudades a parte, agora você tem jaboticabas doces ( já provei delas)no jardim de sua casa.Como sempre, suas crônicas despertam muita reflexão!!
Agora viajei nesse pedacinho do seu mundo…e ainda ficar bem informada com certas coisas, é muito bom.
Parabéns sr Irineu .
Na minha infância, tinha a goiabeira do vizinho e eu, com meus 4 anos, subia nela para me deliciar de seus frutos. Abria-os ao meio, jogava o bicho fora e, mmmmmmm. Deu agua na boca. Até hoje, lembro do gosto da fruta no pé. Hoje, agradeço pelo pão e fruta de cada dia e por aqueles que nos permitem ter o alimento na mesa. Obrigado ao agricultor homem e a Deus, que nos criou.
Excelente memória Irineu, nostálgica. Cabe aí um embate entre a Filosofia clássica e uma máxima do inconsciente coletivo. A primeira, nos diz que a ignorância é uma algema, como retratado no mito da caverna. A segunda, usa o ditado “tem coisas que é melhor não saber”.
Interessante que acabei de ler uma reportagem dizendo que “A grama do vizinho é sempre mais verde!”
Enquanto lia sua crônica meus pensamentos ancoraram em um paraíso: – Chácara Esplendor! Nem sabia com certeza ser este o nome, contudo a associava com um pedaço de paraíso!
E…….as lembranças se encadearam buscando meus amigos de adolescência, Irineu e Clineu, habitantes deste paraiso!
E…..o que poderia a eles faltar?
Jaboticabas!
Inimaginável!
Grande abraço Amigo!