Um amigo cristão, não católico, pediu-me, respeitosamente, que esclarecesse algo sobre o movimento ecumênico, citando o nome de um documento do Concílio Vaticano II – Nostra Aetate.
Primeiro, esclareci que a Nostra Aetate (Nossa Idade) não trata de ecumenismo e sim de diálogo inter-religioso com as religiões não cristãs. O que aborda o ecumenismo é a Unitatis Redintegratio (Restauração da Unidade).
O ecumenismo, contrariamente ao que pensam muitos protestantes, não foi iniciativa católica, mas sim dos irmãos separados, isto é, deles. Expliquei-lhe alguns outros aspectos do documento (curso de Teologia) e lhe mostrei apontamentos do estudo.
A busca da unidade é um dos principais objetivos do 21º Concílio Ecumênico da Igreja, Vaticano II.
De fato, conforme o proêmio da Unitatis Redintegratio, Cristo fundou uma só Igreja, razoável concluir que a divisão dos cristãos é totalmente contrária à vontade do fundador. E essa indesejada e indesejável divisão dificulta a pregação do Evangelho conforme proposta bíblica.
Os capítulos do Decreto apresentam os princípios católicos do ecumenismo, iniciando-se pela Unidade da Igreja – “Para que todos sejam um, como tu, Pai, em mim e eu em ti: para que sejam um em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo. 17.21). O versículo, por si só, justifica todo o esforço ecumênico. É palavra a todos dirigida. Cala fundo na consciência e no coração dos que dizem professar a fé católica.
Seguem-se rememorações dos momentos de ruptura da unidade, evocando-se os primeiros tempos, as discordâncias, as culpas, as ignorâncias, os pensamentos diversos a respeito da doutrina, da disciplina, da estrutura, e outros que tais que impedem à comunhão plena da Igreja.
Faz considerações apropriadas e verdadeiras a respeito da Igreja do Oriente a quem muito deve a Igreja do Ocidente, inclusive pelos sete primeiros concílios ecumênicos que se realizaram em suas cidades, de Nicéia a Constantinopla, em dois terços do primeiro milênio, como se observa na História da Igreja.
Unidos combateram heresias, formularam a definição trinitária, a natureza das três pessoas, a união hipostática – a que diz respeito às duas naturezas de Jesus – humana e divina e tantos outros conceitos a respeito da nossa fé católica. A prática, a liturgia e a espiritualidade orientais que também provém dos tempos apostólicos representam uma riqueza espiritual e não devem ser desprezadas, ainda mais nos tempos e sonhos ecumênicos.
Unidos pelo batismo em nome do Deus Uno e Trino, pela aceitação de Jesus como Salvador, buscam-se os meios de superar os obstáculos, construir pontes que unam as margens separadas. Há que existir a única Igreja de Cristo com vida da graça, na fé e esperança, na prática da caridade e na vivência sob outros dons do Espírito Santo de Deus. Alguns obstáculos deveriam ser relegados ao esquecimento. Cismas, dissensões e reformas que são fatos históricos justificáveis devem ser revisitados para uma “cura” por amor a Cristo Salvador.
Existem sementes do Verbo espalhadas em variados campos. Há a Sagrada Escritura em comum, com exceção de alguns livros e trechos a menos na Bíblia Protestante, do Primeiro Testamento. Faz-se um “mea culpa” surpreendente de que os católicos não vivem fervorosamente como conviria aos que têm a verdade revelada e os instrumentos da graça de Deus.
Afirma-se que a busca da unidade é trabalho de toda a Igreja. Exige-se conversão do coração, oração pela unidade, conhecimento dos e colaboração com os irmãos separados, exposição com clareza e fidelidade da fé professada e, mais importante do que tudo, testemunhar com atitudes a fé proclamada a toda hora.
Destaque-se a parte final do documento:
“… não se ponham obstáculos aos caminhos da Providência; e que não se prejudiquem os futuros impulsos do Espírito Santo. Além disso, declara estar consciente de que o santo propósito de reconciliar todos os cristãos na unidade de uma só e única Igreja de Cristo excede as forças e a capacidade humana. Por isso, coloca inteiramente a sua esperança na oração de Cristo pela Igreja, no amor do Pai para conosco e na virtude do Espírito Santo. «E a esperança não será confundida, pois o amor de Deus se derramou em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rom. 5,5)”.
Unitatis Redintegratio, 24
Que sejamos sempre iluminados para buscar a unidade da Igreja de Cristo.
4 respostas em “Restauração da Unidade”
Texto muito bom para conhecimento de fatos históricos religiosos e para esclarecer a questão da iniciativa dos “irmãos separados” em relação ao ecumenismo. Mas, infelizmente, se na época em que não existiam tantas vertentes religiosas, muito menos incentivos fiscais já não foi possível a conciliação e a “Restauração da Unidade”, imagine hoje em dia em que as criações de denominações religiosas e até seitas só tem um único e espúrio objetivo: o lucro! Não são apenas igrejas para unir fiéis, com o propósito de propagar a palavra da salvação (quem dera!), são verdadeiras instituições com várias ramificações que “caminham” por todos os setores de nossa sociedade com forte influência política e econômica. Utilizam-se da verdadeira fé de alguns cristãos, geralmente os mais fragilizados e os menos favorecidos, para benefício de muito poucos, dentre eles, os conhecidos e famosos charlatães e falsos profetas que poluem a nossa rede aberta televisiva e que continuam, literalmente, “tirando sarro de nossa cara”, sob o manto do direito constitucional da liberdade religiosa. Um verdadeiro circo de horrores! Estes poucos não são nossos “irmãos separados”. Os demais são e serão bem-vindos para o fortalecimento da unidade da Igreja de Cristo!
Caro Irina, com o brilho de sempre e a paz de espirito segue brindando a todos nós com algo vem da tua alma. Sinceramente muito obrigado.
Irineu,
Sempre nos brindando com conhecimentos, informações valiosas e esclarecimentos ímpar!
Obrigada! Que Deus o abençoe!
Olá Irineu! Mais um texto muito criativo, com muita informação! Muito bom segui-lo e ver você levando conhecimento para muitas pessoas! Abraços fraternos!