Na quarta-feira (25/11/2020) a triste notícia da passagem do “endeusado” Diego Armando Maradona, o maior jogador de futebol argentino, comoveu o mundo todo. Lendo um depoimento de quem jogou na defesa de time contrário, soube-se que para barrar o Maradona só se pudesse construir um muro ao redor dele, tais a esperteza, técnica e velocidade que demonstrava no campo.
Ao compulsar o jornal de quinta-feira, cuja manchete principal era “Morre Diego Armando Maradona”, um artigo cujo título era “O muro invisível do racismo” aguçou a minha curiosidade. O tema abordado era o racismo estrutural, tão em alta neste Brasil varonil.
A crônica política usara a expressão o muro separando a direita e esquerda cada vez parece aumentar de tamanho.
Tudo isso me levou a revisitar o texto que escrevera há três anos com o título O MURO, a partir da queda do Muro de Berlim.
Em 9 de novembro de 1989, caía o Muro de Berlim, construído em 1961. Berlim, a cidade dividida ao meio. Uma muralha gigantesca de quase setenta quilômetros de extensão abrigava 302 torres de observação, quase 130 redes metálicas eletrificadas e mais de 250 pistas para ferozes cães de guarda. Não só dividia a capital alemã. Expunha a divisão do mundo em dois grandes blocos: capitalismo e socialismo. A Alemanha Oriental, socialista, construiu o muro. Do outro lado a Berlim Ocidental, capitalista. País dividido pela barreira física e ideológica.
Era o tempo da Guerra Fria. Tensão constante pairava no ar. Os protagonistas do clima beligerante: norte-americanos e soviéticos. Em litígio permanente: socialismo e capitalismo. Os tentáculos do poder de ambos se alastravam.
Com a queda do muro de Berlim, rompeu-se a odiosa divisão. A unificação fez-se realidade. Há muitos outros muros que o homem construiu no mundo inteiro, para separar ou se proteger. Há a Grande Muralha da China que pode ser vista da lua. Visava à proteção contra as invasões dos nômades, principalmente dos mongóis.
O Muro das Lamentações em Jerusalém era de arrimo. Sustentava uma das paredes do Templo, local que guardava a Arca da Aliança e cultuava a Deus. Um muro bem alto e robusto posto abaixo: “Porque é Ele (Cristo) a nossa paz. Ele que de dois povos fez um só, destruindo o muro de inimizade que os separava”. Judeus e gentios unidos. Advertência do apóstolo Paulo aos efésios (2,14).
Rompendo a divisão: O homem nasceu para ser livre. Nenhuma barreira pode destruir o sonho de liberdade. Nada, absolutamente nada, é mais forte do que o anseio justo de todo um povo. Um projeto de felicidade jamais sucumbe. Deus o sustenta.
Que tal começar agora a obra de desconstrução daquilo que nos priva da verdadeira liberdade? Convém jamais nos esquecer de que o homem foi criado como um ser perfectível. Não é obra fechada, completa. É necessário o empenho firme em dar um toque ou acabamento à obra. Coerente com o traçado e a beleza do Criador. Remover o que em nós se mostra feio ou provoca divisão.
No almoxarifado divino equipamentos e instrumentos encontram-se à disposição. Bastará solicitar o necessário. Podemos colocar o tijolinho na construção do Reino de Deus, aqui e agora. Podemos construir um muro de ódio com todas as pedras que nos atiraram no caminho. A colher de pedreiro, o prumo, a trena e todas as ferramentas encontram-se no mesmo depósito onde repousam as marretas e as picaretas que podem destruir esse imenso muro que nos divide ao meio.
A opção é livre, o livre-arbítrio é soberano, a decisão é nossa! Perdeu sentido a existência do muro de divisão. As marcas no chão não precisam ser preservadas ou lembradas.
Dirijamos o olhar para o alto. É lá que se encontram os valores do Reino de Deus que podem ser vividos desde já. Há que implodir o muro. Em seu lugar plantar um jardim de flores. De todas as espécies e cores. Simples margaridas e violetas ao lado das mais sofisticadas orquídeas e tulipas convivem em harmonia. O perfume a dominar o imenso jardim. A beleza jorrando da natureza que desabrocha em flor.
A decisão sempre é pessoal. É minha, é sua. Qual o muro mais fortificado que existe na vida que nos impede ser livres? A ganância, a luxúria, a soberba, a inveja, o ressentimento, a preguiça? É preciso derrubá-lo! Temos o poder suficiente, não importa o tamanho!
“Que a Paz de Cristo cresça em nós sem cessar”. Deixe no chão o muro que divide e traz sofrimentos.
O momento ideal? Agora! O “depois” pode não chegar.
Avante!
12 respostas em “O muro invisível”
Quem tem um Deus grandioso como temos, podemos usar o mundo físico, a exemplo da muralha da China, para que do alto dela, possamos ver e analisar: 1 _ primeiro que sua construção não se prestou aos desígnios do Criador, posto que demonstrou um instrumento de separação;
2_ que de sua parte mais elevada dá muito bem para se ter uma dimensão da obra de Deus que são as planícies e montanhas construídas pelo Criador.
Que tal preencher todas as muralhas e barreiras com lindas portas de transposição enchendo-as de flores e trepadeiras, para transforma-las em obras de arte, provando com isso que o inicuo perante Deus pode se curvar passando a ser algo que representará um passado inóspito, hoje, algo alvo das nossas lembranças. As muralhas mentais por serem apenas virtuais são e serão mais fáceis de serem transformadas, apenas com nossas mãos de obras, dispensando trabalhadores braçais. Se pensarmos que no termo Deus tem um “eu” entre o D e o s, seremos capazes de destruir toda e qualquer muralha, mesmos as físicas. Obrigado Irineu, por me mostrar o deposito divino e, apanhar uma ferramenta útil para transpor e vencer qualquer muralha sem preconceitos, embora, penso que jamais os tive.
Muro invisível de cunho social, racial, religioso, ideológico, econômico pairam à Nossa volta sem darmos conta da sua presença nefasta.que só desagrega, discrimina gerando dor, injustiça e transtornos
Tudo isto longe dos ideais de uma sociedade justa,fraterna, de amor, de misericórdia, e de solidariedade.
Cabe à cada um de nós quebrar essa barreira ( muro invisível) e batalhar para a construção de um mundo melhor, visando o bem comum.
Bela crônica Irineu!
Obrigada, e que Deus o abençoe!
Hora da gratidão. Filho, Pai e Homem; sempre com textos muito reflexível e vale salientar, são escritos sem murros, isto diz, o escrito é pra todas as idades e por fim com base na boa teologia. Até nos lembra cartas de Paulo, do M.Diassis (a pedra…)rsrs. Não vou dizer Irineu que vc é o cara pode se sentir ofendido, mas sou livre e por fim, digo sou feliz por ter na lista das minhas orações e amizade. Deus obg por este anjo e todos: Rodrigo, Maria, Vinicius, João, Ana, Joel, Vera… feliz 3°f a todos participantes.
O muro do medo existe em nós, assim somos o próprio divisor. Para derrubarmos é preciso construirmos um novo coração com amor intenso. Irineu seu texto é excelente como os demais.
Texto excelente, como sempre! Há muitos muros a serem derrubados, muros invisíveis que construímos em nossos corações. “Que a Paz de Cristo cresça em nós sem cessar”
Prezado Amigo gostei do seu almoxarifado! Ele detém todas as ferramentas para construir muros e para derrubá-los. E…existem aquelas para construir pontes!
Ao final fico a refletir sobre “o que nos impede, coletivamente, de buscar apenas e tão somente soluções?”
Grande abraço!
O muro do medo da solidão.
A sensação de perdas, perdas, perdas, tem feito eu refletir sobre solidão, estar só, ser só, ter que viver só. Ontem no velório o padre disse: muitos se incomodavam com uma senhora que ia a missa com seu cachorrinho, ele era a sua companhia, ela tinha vida sem cuidar dele. Ao falecer o padre ser referiu a família: quem iria cuidar do cachorrinho?
Fica aí o medo…
a luta é sempre grande para vencermos os muros que nós mesmos pela nossa ganância criamos. o texto me lembra o como é dificil criar uma amizade, amor , paz, alegria…. do que a facidade de criar inimizade, desamor,…. sempre as suas colocaçoes interpela minha consciencia e me leva sempre a refletir sobre a minha trirelaçao de vida. com Deus comigo mesmo e com o outro ou seja a sociedade. parabens pai pelo texto. vc é um génio.
Texto perfeito!
Observando nos noticiários o Muro de aglomeração dos fãs para o velório do “endeusado” jogador e o descaso com a Pandemia, me desencanta constatar que a humanidade está se perdendo, deixando de adorar o Deus verdadeiro, que sonhou para nós um jardim com flores e árvores que produzem frutos o ano todo, onde podemos nos alimentar e nos aninhar..”como ensina a Palavra da liturgia de hoje”. A escolha é nossa! Ao invés de construirmos Muros da desobediência , escolhamos a liberdade e nos deixemos moldar, lutemos para derrubar o Muro invisível que nos afasta de Deus!
Obrigada Irineu pela reflexão
Grande abraço
Faço das palavras do Sr. Rodrigo Uebara as minhas 👏👏👏👏👏👏👏👏👏
Em um mundo tão interativo, tão conectado, chego apenas a uma conclusão: Os idiotas criam muro; os inteligentes criam pontes … Acredito que Deus, em toda a sua sabedoria, escolhe sempre alguns para se destacarem nas suas vidas profissionais e pessoais …..Creio que Maradona foi um desses ….
Deixar “no chão o muro que divide e traz sofrimentos” e “olhar para o alto” é o que devemos fazer.
Mas enquanto isso…
É triste constatar que em nosso mundo a adoração a pretensos e denominados “deuses”, “ídolos” e até a “mártires” criados, de um dia para o outro, está do avesso.
Deus só Jesus Cristo, ídolos deveriam ser nossos pais, avós, quem nos criou e nos ajudou a formarmos nosso caráter e mártires aqueles que morreram defendendo uma causa digna cristã ou no lugar de alguém.
O homem que vive uma vida comum, simples, digna, sem escândalos é apenas mais um para as estatísticas, já outros tantos com polêmicas e atitudes que não serviriam de exemplo, para ninguém em sã consciência, recebem homenagens, tributos e manchetes desproporcionais.
Boa parte da imprensa é que cultiva e incentiva que episódios assim se multipliquem.
Por falar dela, ultimamente vem sendo cultivado e criado o muro invisível – para muitos – da falta de imparcialidade jornalística: um negro morto por brancos é racismo, um branco morto por negros é um mero homicídio!
Esse muro propagado pelos mais radicais, incluindo os infiltrados em parte da imprensa, não tem legitimidade para definir o que, ou quem, faz parte de seu lado direito ou esquerdo, muito menos qual a pauta que o definem.
Aliás, em tempos de eleição, tem quem apoie e defenda os “puladores” de muros alheios, sob o argumento de que é para o bem dos mais necessitados e desabrigados. Talvez quem defenda não corra o risco de pularem o seu muro!
Mas se considerarmos essa pauta de divisão do muro da forma como propagada, sem entrar no mérito das peculiaridades e abusividades existentes, em ambas, e tivéssemos que escolher um dos lados – até para sair de cima do muro – lembraria, como cristão, da oração de parte do credo: “Creio em Deus pai todo poderoso, criador do céu e da terra, e em Jesus cristo seu único filho, nosso senhor que foi concebido, pelo poder do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria, padeceu sob pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu a mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia subiu aos céus e está sentado a direita de Deus pai todo poderoso donde há de vir e julgar os vivos e os mortos.”.