Após a Ascensão de Jesus ao Céu, é o Espírito Santo quem impulsiona a comunidade cristã a seguir a proposta do Evangelho. Uma proposta que, sem o Mestre, parecia difícil e utópica, mas que se materializou no meio dos simples com sinais maravilhosos: eram perseverantes nos ensinamentos de Jesus, na comunhão fraterna e na partilha do pão. Não havia necessitados entre eles, pois tudo era posto em comum (cf At 2,42-47).
Infelizmente foi por pouco tempo. A experiência máxima da fraternidade cristã ruiu por conta de uma característica humana, herdada desde a saída do Éden: a inclinação egoística pela busca do privilégio. Muitos vieram se juntar aos primeiros cristãos, mas as dúvidas e apegos não permitiram que se comprometessem com a causa (cf At 5,1-11). Por isso a primeira comunidade de Jerusalém foi o protótipo que deu certo, mas que não durou muito.
Sem Deus – por escolha ou ignorância – o homem tende a se tornar fera, sedento por satisfazer os seus instintos. Sem Deus falta a motivação para amar e, sem o amor, o outro se torna objeto e/ou concorrente. Sabendo disso, Basílio de Cesareia – ou São Basílio Magno – exortava a comunidade para um compromisso social, já no século IV, dizendo que “o pão que guardas pertence ao faminto. O manto que conservas no guarda-roupa pertence ao homem nu. O calçado que apodrece contigo pertence ao descalço. O dinheiro que reténs escondido pertence aos miseráveis.”
Forte, não é mesmo? Porém, necessário! São João Crisóstomo, por sua vez, vai dizer que “não há diferença em dar ao Senhor ou dar ao pobre, pois Ele mesmo disse que ‘quem dá a estes pequenos é a mim que dá’”. De fato, sempre houve um chamado para a corresponsabilidade com o outro, o mais necessitado. Contudo, aqui o chamado se torna extravagante. Em suma, o que a Igreja no seu Magistério quer nos dizer é que ninguém se salva sozinho. Pensar diferente disso seria, de novo, um princípio egoísta.
Vamos entender melhor: a Igreja não condena a posse de bens [que bom se você pôde conquistar as suas coisas com dignidade e trabalho]. O problema está no acúmulo, ou seja, quando o indivíduo – aquele que deveria ser senhor do próprio destino – submete a própria existência na busca desenfreada pelo possuir, se tornando indiferente as dores e necessidades do seu próximo que muitas vezes se encontra caído pelo caminho.
Minha gente, a motivação desse artigo não é desolação, pelo contrário, é dizer que é possível ressuscitar a incrível experiência da fraternidade cristã vivida na primeira comunidade. O cristianismo está inclusive em busca disto. E a partilha pode ser o primeiro passo: partilha do supérfluo, do abraço que acolhe, do ouvido que escuta e do amor que não espera nada em troca. Afinal, “que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc 8,36). Ninguém está sozinho nessa causa, estamos todos juntos!
Senão aqui, no Céu a fraternidade será plena. Eu creio.