História do Sagrado Coração de Jesus, a partir de Santa Margarida Maria

Existe uma clássica afirmação da teologia que se expressa assim: “A Revelação encerrou-se com a morte do último apóstolo”. Talvez fosse necessário explicitar melhor que Revelação é esta que termina, se encerra. Acho justo supor que seja a plenitude da Revelação que foi manifestada em Jesus Cristo. Sim, esse pensamento me parece sensato. Entretanto a revelação do amor de Deus nunca irá se esgotar.

A festa do Sagrado Coração e tantas outras manifestações do divino aconteceram a partir de revelações particulares, ou seja, Deus (ou Nossa Senhora) escolhe pessoas e lugares para transmitir uma mensagem transformadora para o bem da Igreja e para o bem do mundo.

A saber, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus vem de tempos mais antigos daquele que iremos nos deter. Essa devoção cresceu também por alguns princípios bíblicos, como estes dois:

  1. O coração que acolhe, como quando João reclina a cabeça sobre o peito de Jesus na última Ceia (Jo 13,22ss).
  2. O coração que sofre e é perfurado pela lança do soldado na cruz (Jo 19,31ss).

Quando se fala do ‘coração’, é verdadeiro o pressuposto – e um tanto romântico – de que este órgão vital do corpo humano sempre foi visto como aquilo que de mais puro o ser humano possui, procedendo do coração todos os bons sentimentos, inspirados por Deus e pelo próprio homem.

Bom, acredito que tudo bem até aqui. Vamos agora ao prato principal, que é a história que deu origem a conhecida festa e devoção do Sagrado Coração de Jesus, viajando lá para o século XVII, contando um pouco da nossa principal personagem…

Santa Margarida Maria Alacoque

Margarida nasceu na Borgonha, França, em 1647, em uma família rica, sendo a quinta de sete filhas de um tabelião da cidade. Desde cedo a menina sentia o chamado à vida religiosa: aos cinco anos de idade Margarida se consagra a Deus, fazendo voto de castidade; aos nove anos recebeu a primeira comunhão. A história dessa santa traz um fato curioso de quando ela se preparava para o seu Crisma: conta que Margarida gastou 15 dias anotando num caderninho a lista dos seus pecados para, só então, se confessar e assim receber o sacramento da confirmação. Ninguém pode negar que foi um belo exame de consciência!

Era nítido que a vocação daquela menina se dava mesmo para a vida religiosa, só que isso não seria algo fácil, principalmente depois da morte do pai, quando Margarida tinha 12 anos. O desejo de sua mãe era ver Margarida casada com um bom homem. Mas sua resistência a tudo que ia na contramão do seu sonho venceu e, aos 24 anos, Margarida entra para a Ordem da Visitação, de Paray-le-Monial, fundada por São Francisco de Sales. Ah. Foi também nesta ocasião que ela acrescentou ‘Maria’ ao seu nome, passando a ser conhecida como Margarida Maria.

As visões

A noviça Margarida Maria Alacoque era toda de Deus, suas orações mais pareciam êxtases. Era comum encontrá-la rezando por horas a fio na capela, imóvel. Esse seu fervor pelo divino lhe rendeu visões frequentes, mas nunca disse nada a ninguém sobre isso. Sua alma estava mais ligada ao transcendente que nas situações ordinárias do convento. Não demorou até que começassem os comentários entre as freiras e as superioras, dando a entender que Margarida Maria estava doente ou louca.

O padre jesuíta Cláudio de la Colombière, seu diretor espiritual indicado pela providência de Deus, era muito respeitado no tratamento de experiências místicas. Padre Cláudio foi um dos poucos que teve acesso aos segredos que Margarida guardava sobre as visões e sugeriu que ela escrevesse todas as experiências místicas que vinham desses encontros.

Foi então no ano de 1673, em adoração diante do Santíssimo Sacramento, que Margarida Maria teve a primeira das visões com Jesus. Visões estas que se repetiriam depois, sempre na primeira sexta-feira de cada mês. Em um desses encontros, Jesus se apresentou com o peito aberto e, apontando para o coração disse: “Eis o Coração que tem amado tanto aos homens a ponto de nada poupar, até exaurir-se e consumir-se para demonstrar-lhes o seu amor. E em reconhecimento não recebo senão ingratidão da maior parte deles”.

Jesus pediu algumas coisas à Margarida, como por exemplo:

  • Comunhão a cada primeira sexta-feira do mês (sexta-feira foi o dia da crucificação de Jesus) em reparação aos pecados da humanidade, especialmente em reparação aos pecados dos consagrados (por isso que na solenidade do Sagrado Coração de Jesus se celebra também o Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes);
  • A sexta-feira após a oitava de Corpus Christi fosse dedicada ao Sagrado Coração – e é assim que fazemos até hoje.
  • Que Margarida Maria fosse até rei da França, Luís XIV, para que este consagrasse o país ao Sagrado Coração. Porém, a Santa não recebeu retorno do rei.

Promessa (devoção) do Sagrado Coração de Jesus

A religiosa recebeu de Jesus uma grande promessa que se estende a todo o povo: quem receber a comunhão, por nove meses consecutivos, na primeira sexta-feira do mês, esses receberão o dom da penitência final, ou seja, a isenção das penas contraídas pelo pecado durante a vida. Como o prêmio oferecido aqui é grande, justifica a propagação desta santa devoção.

Morte

Jesus apareceu a Margarida Maria por 17 anos, até o dia da sua morte, quando a tomou pela mão para levá-la consigo. Ele a chamava “discípula predileta”. Margarida Maria Alacoque faleceu em 17 de outubro de 1690, foi beatificada em 1864 por Pio IX e canonizada por Bento XV, em 1920.

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