Vem, Espírito Santo!

…Tinham um coração como tu como eu, que uma mão de gelo apertava; tinham os olhos cheios de lágrimas e um rosto triste de febre e de medo. Pensavam, sem dúvida, no amigo perdido; na mulher deixada à porta da casa; na cruz levantada no alto do monte…1.

Assim, Kiko Arguello, um dos iniciadores do Caminho Neocatecumenal retrata a narrativa de João 20,19 que diz: “Ao entardecer desse dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam com as portas bem fechadas, por medo dos judeus…”

Os discípulos de Jesus, seus amigos, aqueles que tinham caminhado um bom tempo com Ele, estavam abatidos, desconcertados, tinham medo. Viviam algo novo, não compreendiam o que estava acontecendo. Conversavam sobre o ocorrido, as promessas, os milagres, as palavras e, principalmente, sobre como o Senhor os ensinava. Como era possível? Como continuar vivendo depois de tamanha dor? Como pôde acontecer isso?

“A paz esteja convosco”

De repente Jesus chegou, pôs-se no meio deles e lhes diz: “A paz esteja convosco” e mostrou-lhes as mãos e o lado. A seguir, em um abrir e fechar dos olhos, toda a realidade mudou e eles se alegraram. “E Jesus soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22).

Refletindo sobre essa passagem, percebemos que a nossa fé está mergulhada nas raízes da Palavra do Deus fiel que proclama constantemente a todos os quadrantes da história humana: Não temas! Porque “Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!” (Mt 28,20).

Cristo Verdadeiramente Ressuscitou

A ressurreição de Jesus é, para nós, a razão última e a força diária de nossa esperança. “Cristo Verdadeiramente Ressuscitou” e foi ao encontro dos seus amigos, não os abandonou, não nos abandonará. Ele venceu e nós também somos vencedores com Ele. Seguindo os passos daqueles que foram testemunhas vivas desse acontecimento, temos alento para trabalhar por um mundo mais humano, segundo o coração de Deus. No Ressuscitado descobrimos a intenção profunda de Deus confirmada para sempre: uma vida plenamente feliz para toda a criação, uma vida libertada para sempre do mal. A vida vivida a partir de sua Fonte.

O encontro com Jesus Cristo vivo transformou o medo de Pedro e dos outros discípulos em coragem e a tristeza deu lugar à alegria. A experiência vivida e a consequente transformação por que passaram os discípulos se deu pela ação do Espírito Santo, derramado que foi em Pentecostes. O Espírito Santo foi preparando os corações dos discípulos conforme eles mesmos, aos poucos, abriam espaço, a partir do desejo e saudade que tinham de estar com Jesus. Jesus se aproxima dos seus de maneira tranquila, sossegada e despercebida. O Espírito Santo é que capacita os discípulos a criar espaço de diálogo e confiança.

Entre os dons do Espírito, está o dom da fortaleza, da firmeza e da coragem

Os evangelhos estão marcados pela experiência que os discípulos de ontem fizeram do sofrimento. Já no discurso de despedida, na “Última Ceia”, Jesus revela as dificuldades que os discípulos haverão de enfrentar. Dificuldades que nem sempre provêm dos adversários externos, mas também das tentações, dúvidas, divisões e inimizades que penetram no seio da própria comunidade cristã.

Sabedor das dificuldades que os discípulos de ontem e de hoje haveriam de enfrentar, Jesus promete o Paráclito, o Consolador, a ajuda eficaz do Espírito Santo.2

“Depois do pecado original, a miserável descendência de Adão sofre pela dor, consequência não apenas do primeiro pecado, mas também das obras cometidas por nós mesmos. Ora, o Espírito Santo, que é Amor, não deixará sofrer seus amados sem derramar sobre eles muitíssimas consolações. E é porque Ele nos consola, que a Igreja O chama de “Consolador Perfeito”, e possui para Ele os mais doces nomes, como: “Pai do Pobres”, “Repouso no Cansaço”, “Doce Refrigério”, “Alívio no Pranto”. É verdade que Ele não nos tira das mãos aquele cálice da amargura que devemos beber à semelhança do Salvador. Contudo, o Espírito Santo sabe misturar sua doçura às nossas amarguras nas dores que nos vêm da parte das criaturas, Ele nos dá o conforto da Sua graça; nas desgraças, um doce e tranquilo impulso para nos conformarmos. Em cada sofrimento, o Espírito nos dá um raio de Sua luz que nos faz entender que, por detrás daquele mal, existe um bem e uma voz de verdade, que nos recorda as eternas recompensas por sofrermos; e com Aquela voz de verdade, a alma atribulada é consolada pelo Perfeito Consolador que a ela se entrega”.3

O Espírito é presença de Deus nos caminhos da história por meio da Igreja, que é movida por Ele.

A missão do Espírito que nos foi dado, nos leva à verdade completa, faz-nos entrar em comunhão com os seres humanos e com Deus. Ao unir os seres humanos no amor, o Espírito nos dá a certeza do que será, no final dos tempos, a comunhão plena no Reino de Deus. Por causa desse amor que nos põe em comunhão, há partilha dos bens, há oração sincera, há evangelização.

Em função da comunhão, o Espírito nos faz falar e compreender todas as línguas, porque a língua universal é o amor e, sem ele, somos apenas “sinos que retinem” (1Cor 13,1). Por isso, crer no Espírito significa crer no futuro da vida, na renovação radical de toda a terra, no caminho do amor que supera as dificuldades deste mundo e nos dirige ao amor em plenitude.4

Veni Sancte Spiritus5

Acolhendo a mensagem da Beata Elena Guerra meditemos sobre o hino “Veni Sancte Spiritus” e imploremos ao Espírito Santo “curai o que está enfermo” e “encaminhai o que está perdido”, sempre e sobretudo nesses tempos que vivemos, tempos de incertezas, de morte e desespero.

Vinde, Santo Espírito,
e enviai dos céus
um raio de vossa luz.
Vinde, pai dos pobres,
vinde, doador dos dons,
vinde, luz dos corações.
Consolador magnífico,
doce hóspede da alma,
doce refrigério.
No labor descanso,
no calor aragem,
no pranto consolo.
Ó luz beatíssima,
enchei o íntimo dos corações
dos vossos fiéis.
Sem vosso auxílio
nada há no homem,
nada de inocente.
Lavai o que está sujo,
regai o que está seco,
curai o que está enfermo.
Dobrai o que é rígido,
aquecei o que está frio,
conduzi o que está errante.
Dai aos vossos fiéis,
que confiam em vós,
os sete dons sagrados.
Dai o mérito da virtude,
dai o êxito da salvação,
dai a perene alegria.
Amém. Aleluia.

Notas
1) RESSUSCITOU. Canto nº129 de Kiko Argüello – Para as comunidades Neocatecumenais. Brasília: Editora Centro Neocatecumenal, 6ª edição, 2019
2) ANTONIAZZI, Padre Alberto. Redescobrir os Atos dos Apóstolos. Revista Vida Pastoral - Ano: 59 - Número: 322-Jul-Ago/2018.
3) GUERRA, Beata Elena. Novena em honra ao Espírito Santo. 1895. Disponível em: http://www.agapeterapia.com.br/portfolio/beata-elena-guerra/ Acesso em: 20/05/2029.
4) ANDRADE, Aíla Luzia Pinheiro. Pentecostes. Revista Vida Pastoral - Ano: 59 - Número: 321-Mai-Jun/2018.
5) VIRMOND, Marcos da Cunha Lopes; NOGUEIRA, Lenita Waldige Mendes. Veni Sancte Spiritus: um moteto de José Maurício Nunes Garcia. http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/27382 - Visitado em 20/05/2020.
Referências:
ANDRADE, Aíla Luzia Pinheiro. Pentecostes. Revista Vida Pastoral - Ano: 59 - Número: 321-Mai-Jun/2018.
ANTONIAZZI, Padre Alberto. Redescobrir os Atos dos Apóstolos. Revista Vida Pastoral - Ano: 59 - Número: 322-Jul-Ago/2018.
BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.
Bíblia do Peregrino. São Paulo: Paulus, 3ª edição, 2017.
GUERRA, Beata Elena. Novena em honra ao Espírito Santo. 1895. Disponível em: http://www.agapeterapia.com.br/portfolio/beata-elena-guerra/ Acesso em: 20/05/2029.
RESSUSCITOU. Canto nº129 de Kiko Argüello – Para as comunidades Neocatecumenais. Brasília: Editora Centro Neocatecumenal, 6ª edição, 2019
VIRMOND, Marcos da Cunha Lopes; NOGUEIRA, Lenita Waldige Mendes. Veni Sancte Spiritus: um moteto de José Maurício Nunes Garcia. Disponível em http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/27382. http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/27382 - Visitado em 20/maio/2020.

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