O livro de Jonas é considerado um livro profético no cânon hebraico (conjunto dos livros sagrados para os judeus), embora tenha um estilo bem diferente dos demais proféticos. Enquanto a maioria destes escritos aparecem para ameaçar sistemas contraditórios numa determinada realidade e com seus profetas inseridos nesta sociedade padecente, em Jonas o enredo está na conversão de um povo, dos mais odiados por Israel. Jonas não parece estar inserido nesta realidade, nem tão pouco em outra, simplesmente Jonas está fora de qualquer contexto. Dessa forma o livro de Jonas encaixa-se melhor como um livro de teor sapiencial, não histórico, mostrando que a misericórdia de Deus é sem limites e que não se restringe para uma única nação, pois Deus é Deus de todos.
Interpretação
Ainda não há consenso entre os estudiosos sobre a forma de interpretar o livro de Jonas. Muito se tem discutido – ainda hoje – sobre a possibilidade de ter sido histórico, porém a sérios problemas difíceis de superar para que a historicidade pudesse ser possível, como por exemplo, um grande peixe no mar mediterrâneo, a grande e impensável dimensão da cidade de Nínive e a conversão que nunca ocorreu nesta que era a capital da Assíria.
Outra possibilidade de interpretar o livro seria pelo viés alegórico (representativo), considerando Nínive como um mundo pagão; Jonas como Israel (que se recusa a cumprir sua missão missionaria); o exílio representado pelo grande peixe; entre outros elementos. Mas também aqui há obstáculos, pois tais alegorias perdem a sustentação quando alguns elementos não encontram uma representação possível, como por exemplo, quem então são os marinheiros do primeiro capítulo? Israel partiu por vontade própria para o exílio, do mesmo modo que Jonas pede para ser jogado ao mar? Qual significado para a mamoneira? Entre outros questionamentos.
Em última hipótese, a interpretação mais aceita do livro de Jonas entre os especialistas é a parabólica (parábola), cujo texto seria tratado como uma narração com fins didáticos, uma lição a ser aprendida.
Enfim, não há consenso sobre o que, de fato, o livro quer ensinar, mas uma opinião predominante aponta para que Jonas quer trazer a tona a dimensão universal de Deus.
Datação
Para os judeus o texto remonta o século VIII a.C., mas estudos mais apurados apontam para uma obra que nasce no pós-exílio, possivelmente entre o século V e IV a.C., justamente para ser uma reação contra o nacionalismo exagerado de Esdras e Neemias – período em que Deus estava sendo posto como um Deus exclusivo dos judeus. Outra possibilidade seria uma data mais recente, por conta dos elementos folclóricos que foram utilizados na narrativa. Unanime se mantém a opinião de que a redação foi processada antes do ano 200 a.C.
Autoria
Não é conhecido o autor do livro de Jonas. Sabe-se que na época da narrativa, um dos grupos responsáveis pela educação eram os sacerdotes, cuja obrigação era ensinar ao povo a instrução da lei. No geral, os ensinamentos dos sacerdotes estavam mais relacionados ao culto e ao sacrifício. Esse tipo de ensinamento e a centralidade do templo são mencionados no capítulo 2 (Jn 2,5.8.10); trechos retirados de um salmo posterior. Portanto, pode-se presumir que o autor do livro de Jonas não seja do círculo de sacerdotes. Além desse grupo havia outras pessoas que ensinavam ao povo: os sábios. Em Israel, a sabedoria oficial estava ligada ao templo, mas no meio do povo existiam pessoas sábias, comprometidas com a fé e a vida. O autor do livro de Jonas pode ter sua origem entre os sábios de Israel, pois conhecia bem a tradição de seu povo, como a de outros povos.
Mensagem
A cidade de Nínive é a chave de compreensão do texto. Nínive fora a capital do Império Assírio, marcada na consciência de Israel como símbolo da mais cruel agressividade contra o “povo de Deus”, os eleitos1 de YHVH. Possivelmente o maior dos opressores. E justamente a estes é que Deus pede a Jonas que leve uma mensagem de conversão e, a posteriori, o próprio perdão.
Aceitar a mensagem do texto de Jonas não é coisa fácil sem o entendimento de quem é Deus. A narrativa apresenta um Deus que ama também os opressores, ofertando as mesmas possibilidades de salvação para os bons e para os maus. Isto foge da compreensão da época. Israel aguardava a vingança de Deus para com seus inimigos. Esta tendência para a vingança é bem representada pelo fato de Jonas preferir a morte a aceitar misericórdia (Jn 4,1-3). Mas poderia Deus não se compadecer de sua própria criação, uma vez que ela se encontra em estado de plena ignorância (Jn 4,11)? Este é o centro reflexivo proposto no livro de Jonas.
Nota 1) A ideia de povo eleito e santo, que inicialmente possibilitou manter a coesão e a identidade do judeu no exílio, agora, no pós-exílio, provoca fechamento e isolamento de outros povos e até dos judeus que haviam ficado na terra. Conforme a religião oficial, o povo judeu era considerado puro e o estrangeiro, impuro.
Referências VIDA PASTORAL. São Paulo: PAULUS. ISSN 0507-7184 – Setembro/Outubro de 2010, ano 51, n. 274. Páginas 6-13 BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral. São Paulo: Paulus, 2000. SCHÖKEL, L. Alonso. DIAZ, J.L. Sicre. Profetas II. São Paulo: Paulus, 2011, 3° edição
Uma resposta em “Livro de Jonas”
[…] de prosseguir gostaria de mencionar que o diácono Bruno já escreveu sobre o livro de Jonas. Contudo, seu texto traz uma abordagem mais técnica e crítica ao livro. Ao passo que eu me […]