Quem foi João Batista?

Jesus mesmo afirmou no Evangelho de São Mateus1 que, entre os nascidos de mulher (ou seja, entre todas as criaturas da terra), nenhum é maior que João. Opa. Esse tal de João tem moral. Ele foi o último dos profetas que anunciou a chegada do Messias. Então bora conhecer um pouco melhor da história desse fulano tão especial.

O anúncio do precursor

Como ocorre em tantas outras ocasiões especiais na Sagrada Escritura, a chegada de João foi anunciada. O profeta Isaías foi quem deu com a língua nos dentes na seguinte passagem:

Uma voz clama: “Abri no deserto um caminho para o Senhor, traçai reta na estepe uma pista para nosso Deus. Que todo vale seja aterrado, que toda montanha e colina sejam abaixadas: que os cimos sejam aplainados, que as escarpas sejam niveladas!”. Então, a glória do Senhor se manifestará; todas as criaturas juntas apreciarão o esplendor, porque a boca do Senhor o prometeu.”

Is 40,3-5

Tá, tudo bem, o profeta não falou abertamente que se tratava de João. Mas a Tradição da Igreja fez isso. O capítulo 40 do profeta Isaías (versículos de 1 a 5) dão mesmo a entender que, ali, é anunciada a missão do precursor, daquele que virá antes do Messias, preparando o terreno para quando Ele chegar.

Nascimento de João

João Batista, como era de se esperar, está presente nos 4 evangelhos canônicos. Cada um com uma nuance específica. Para falar sobre o nascimento, o Evangelho de Lucas é quem vai nos dar mais detalhes de como tudo aconteceu. E foi assim… Zacarias era o sacerdote que estava escalado para as funções do santuário naquele dia. O Arcanjo Gabriel (mensageiro de Deus) se apresenta a ele no santuário e lhe dá a boa notícia sobre a chegada de um filho, que será importante para todo o povo e que deverá se chamar João. Zacarias, embora sacerdote, homem religioso e de fé, não crê imediatamente, e questiona a mensagem do anjo, dizendo que ele e a esposa já não tem mais idade para ter filhos. Não só isso, Isabel era considerada estéril. E essa informação sobre a esterilidade de Isabel merece um parêntese aqui:


Isabel era estéril, não podia ter filhos, só mesmo um milagre no caso dela (milagre, entendeu?!). Você já deve estar buscando na cachola outros personagens da Bíblia que vieram ao mundo pelo mesmo milagre de uma concepção improvável. Como por exemplo Sara, mulher de Abraão, que era estéril, mas por graça de Deus concebeu Isaac2 (segundo patriarca do povo eleito); Rebeca, mulher de Jacó, era também estéril, mas por graça de Deus concebeu José3 (aquele do Egito); Ana, mulher de Elcana, era igualmente estéril, mas por graça de Deus concebeu Samuel4 (o profeta)… entre outras. É como se Deus usasse daquilo que nós, homens, compreendemos como impossível, para se manifestar, dando a entender que é Ele que está no controle. E quando ocorre gravidez de mulher estéril na Bíblia, é porque vem coisa importante com o nascituro.


Fechando o parêntese, vamos então à resposta de Zacarias ao anjo que, aliás, foi uma tremenda bola fora de Zacarias. Gabriel não gostou nada da resposta e, por conta disso, deixou Zacarias mudo, sem poder dizer uma palavra sequer até que se cumprisse tudo o que lhe havia dito.

Seis meses se passaram da gestação de Isabel e lá foi Gabriel numa nova missão – bem mais especial agora: anunciar à Maria sobre os planos de Deus a ela. E foi ali, no bate-papo com o anjo, que Maria soube da gravidez da sua prima (sim, Isabel e Maria eram primas). E olha o baita exemplo que Maria deixou pra gente: após dar o seu sim ao anjo – o sim mais maravilhoso de toda a história –, aceitando ser a mãe de Deus, Maria se põe a caminho da casa de Isabel para ajudá-la até o parto. Essa atitude de Maria merece um retiro! Ela, que tinha de fato o rei na barriga, foi servir a prima: lavar roupa suja, fazer comida e varrer a casa.

Enfim, chegou a hora do parto e Isabel deu à luz um menino. Tudo beleza até começar o barraco do oitavo dia: o dia de circuncidar o moleque conforme a lei dos judeus. Começou uma discussão sobre o nome que seria dado ao menino. Queriam atribuir-lhe o nome do pai, mas Isabel dizia que o nome seria João. A insistência dos que participavam daquele momento continuou, alegando que não havia nenhum João na família e, por isso, questionaram o pai sobre o impasse. Zacarias, ainda mudo, escreveu numa pequena tábua: “seu nome é João”. Pronto. Nesse exato momento a língua dele desatou e ele voltou a falar.

Missão de João

Pouco se sabe (ou quase nada) sobre a vida de João desde então, apenas que ele passou a viver no deserto5 até o momento do início da sua missão particular, quando passou a proclamar um batismo de arrependimento para a remissão dos pecados. O Evangelho de Marcos informa que João se vestia de peles de camelo e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre (uma dieta nada invejável)6.

João tinha a consciência de que seu trabalho era o início do que seria continuado por alguém ‘mais forte que ele’, do qual não era digno de desatar a correia das sandálias7; tinha um discurso afiado; dirigido a todas as classes sociais; ele não tinha medo em apontar as injustiças de seu tempo, por isso foi admirado por muitos e odiado por outros. Sobrou até para o tetrarca Herodes, acusado por João sobretudo por manter uma relação amorosa com a mulher do seu próprio irmão, Herodíades. E esse pega com tetrarca ainda vai ter um triste desfecho, logo mais.

O batismo de Jesus

Muitos vinham até João para serem batizados no rio Jordão e confessarem seus pecados. Entre esses muitos, o próprio Jesus (que não tinha pecado, tá!). Ao vê-lo, João reconhece nele o Messias e diz “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”8. Jesus se posiciona na água para receber o batismo, mas não sem antes João o interpelar, dizendo que ele é quem precisa ser batizado por Jesus9. Jesus, no entanto, apenas responde pra deixar as coisas como estavam. Dessa forma, recebendo o batismo, Jesus deixa o exemplo, passando ele mesmo pelo que hoje entendemos como o sacramento do batismo e, ainda, se identificando com os pecadores – os mais necessitados da sua vinda.

É curioso pensar que, embora primos de segundo grau, com mães tão especiais, Jesus e João parecem não se conhecer. Provavelmente não cresceram juntos. Bom, pelo menos os Evangelhos não falam nada sobre isso. Foi só uma curiosidade que quis partilhar.

Tendo Jesus recebido o batismo, os céus se abriram e o Espírito Santo desceu como uma pomba, pousando sobre Ele; ao mesmo tempo que uma voz do céu dizia: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. Deve ter sido um verdadeiro espetáculo!

Morte de João

Mesmo Jesus tendo iniciado sua vida pública, João ainda estava por terminar a sua missão. E, lembra daquele desentendimento com Herodes? Pois é, a coisa ficou feia. João o acusava porque não era permitido ter relações com a mulher do próprio irmão (óbvio, né?). Com essas acusações João ganhou um inimigo muito poderoso, mas, ao mesmo tempo, uma sincera admiração por parte de Herodes, que gostava de o escutar10. No entanto foi Herodíades (a tal mulher do irmão de Herodes) quem conseguiu dar fim a João, usando a filha, que ganhara um pedido irrecusável por parte de Herodes, após uma dança bem convincente. O pedido estava em aberto; poderia ser até metade de todo o reino. Mas, pela influência da mãe, a jovem escolheu a cabeça de João, a qual foi servida em uma bandeja11.

Pois esta é a história de João, o batista. Existe ainda alguns ricos elementos que acabei deixando de fora para não se alongar tanto e também porque não estão diretamente ligados com a história de João, mas sim com um aprofundamento teológico. Se desejar, aconselho dar uma lida nesse outro artigo aqui » João Batista, o batizador.

Festa de São João

A festa (natividade) de São João acontece todo dia 24 de junho e é considerada uma solenidade para toda a Igreja. Ah, vale dizer que somente João Batista e Maria são lembrados em seus nascimentos. Os demais santos são lembrados pela data de morte. João, no caso, tem duas comemorações: a segunda (martírio) no dia 29 de agosto.

A tradição da festa veio dos camponeses europeus, com a intenção de celebrar o início do verão. Chegou no Brasil na época da colonização, trazida pelos portugueses que, a exemplo de outras tradições, ditas pagãs, a Igreja foi aos poucos associando a data em questão à sua própria liturgia, ressignificando a festa e dando um caráter religioso.

No Brasil, sobretudo no Nordeste, a festa de São João é a maior festa dedicada a um santo. Se tornou cultura popular, unindo-se a outras celebrações do mês de junho, originando assim as festas juninas.

♪♫ Viva João Batista! Viva o precursor!
♪♫ Porque João Batista anunciou o Salvador.

Notas
1) Mt 11,11
2) Gn 21,1ss
3) Gn 25,21
4) 1Sm 1
5) Lc 1,80
6) Mc 1,6
7) Mc 1,7
8) Jo 1,29
9) Mt 3,14
10) Mc 6,20
11) Mc 6,27-28
Referências
1) BÍBLIA DE JERUSALÉM, São Paulo: Paulus, 2012
2) https://www.cnbb.org.br/24-de-junho-dia-de-sao-joao-batista-o-precursor-de-jesus-cristo/
3) http://www.catequesedobrasil.org.br/noticia/das-mulheres-estereis-a-virgindade-de-maria

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