O Livro do Apocalipse (Pt 1)

Esta é a primeira parte [de 9] do estudo do livro do Apocalipse. Para uma melhor compreensão do todo, sugerimos acompanhar as demais partes indicadas e numeradas abaixo. Bom proveito!

Apo-calipse vem do grego e significa re-velação: isto é: tirar o véu. Ao tirar o véu que recobre os acontecimentos, o Apocalipse clareia o caminho da esperança. Mas não é este o sentido que a palavra tem na boca do povo. A palavra “apocalíptico” geralmente é empregada no sentido catastrófico. Sugere confusão, desastre, fim do mundo, algo que ninguém é capaz de evitar, porque vem de forças ocultas e incontroláveis, coisas que não se podem decifrar, mas são fatais. Por isso provoca medo que faz recuar. Alguns dizem que vem de Deus. Por isso provoca o fatalismo que faz ficar parado sem participar. Sugere visões ou revelações, recebidas e interpretadas por videntes, como aqueles três sinais que apareceram na parede do palácio do rei Baltazar (Dn 5,5.25-26). Por isso provoca o fundamentalismo que interpreta tudo ao pé da letra. Sugere ainda um certo fanatismo que pode levar as pessoas a cometer desatinos. Por exemplo, a leitura errada do Apocalipse já provocou o suicídio de muita gente, tanto ontem com hoje em dia.

O Apocalipse de João é um livro enigmático, cheio de visões estranhas, descritas em linguagem obscura, que provocam nossa curiosidade. Sobretudo hoje em dia, nestes tempos apocalípticos!  Essas visões mal interpretadas podem ser usadas para fins contrários ao Evangelho, como já aconteceu e acontece. Visões terríveis do fim do mundo e da besta fera! sem um entendimento, só dá medo. Além disso o livro pode ser mal-usado, alguns o usam para condenar pessoas e religiões. Outros, ainda, acham que o Apocalipse aconselha os pobres a desistir da luta por uma vida digna, pois só na outra vida é que as coisas poderão mudar.

A palavra apocalipse ou apocalíptico passou a ser um nome genérico para indicar um determinado tipo ou gênero literário, assim como existem vários gêneros literários na Sagrada Escritura, tais como: mitos, narrativas, poemas, canções, novelas.

O Apocalipse não prediz o fim da história nem fala do fim do mundo. Ele foi escrito para iluminar a situação de sofrimento e reanimar a fé, a esperança e o amor das comunidades a partir da ressurreição de Jesus Cristo e recorrendo à memória das maravilhas operadas por Deus, guardadas no Antigo Testamento; procura situar o momento difícil que o povo cristão está vivendo, trazer-lhe conforto e dar-lhe coragem para resistir e perseverar na fidelidade ao plano de Deus. O Apocalipse é um livro do seu tempo, e escrito para o seu tempo. Mas por sua perene atualidade, é válido para todos os tempos. É a grande epopeia da esperança cristã, o canto de triunfo dos cristãos perseguidos.

Na aparência o livro é obscuro. Mas na verdade, transmite uma mensagem simples de esperança. Orienta o percurso da ação e indica o conteúdo do testemunho cristão no mundo, dominado por poderes absolutos e por ideologias que promovem a morte e não a Vida. 

Esperamos que ao longo deste artigo, dividido em nove partes, ajude a compreender melhor o seu apelo. Neste sentido, é necessário que a mensagem do livro venha a questionar a maneira de ver os fatos, e, sobretudo, venha mudar a maneira esquemática e parcial de julgar a realidade a partir das ideias recebidas de uma cultura ou determinada condição social.

Desejamos que a leitura abra os nossos olhos para vermos de novo a realidade que nos cerca, e indicar como agir nos moldes do testemunho dos primeiros cristãos. Recomendamos que leia o Livro do Apocalipse simultaneamente a leitura do artigo.

Uma coisa já se clareia à nossa frente: apocalipse não é para botar medo, mas para abrir os olhos, ler a realidade de modo crítico e alimentar a esperança. Mas, para que se torne isso mesmo, vamos tentar entender melhor, tendo em consideração três aspectos: o contexto histórico, o movimento apocalíptico e o gênero literário apocalíptico.

Motivos que geraram o movimento apocalíptico

Antes do cativeiro na Babilônia (585 – 538), o povo israelita via o mundo limitado ao território nacional e a sua referência básica era a fé em Deus Único e o compromisso com a Aliança, como força capaz de conter os abusos do rei e mudar o rumo da história. Nesse clima, nasceu a profecia.

Mas agora, desenraizado, diante do império, sente-se ao sabor de um mundo ilimitado e encapelado, em que Deus Único e a Aliança não contam. O mundo em que vive lhe é hostil. Já não tem defesa e o medo o invade.

Mesmo sem ter onde se agarrar, os pobres continuam acreditando que Deus é o dono do mundo, o Senhor da história e saberá realizar o seu projeto. A fé no mesmo Deus dos profetas assume agora a forma de entrega e abandono de quem crê na promessa. É a teimosia dos pequenos que assim se expressa! E essa fé, além de teimosa é concreta. Tem de encontrar sinais palpáveis e sugestivos. Dessa necessidade que sentem os pequenos de alimentar sua teimosa fé com sinais concretos é que nasce o mundo visionário do movimento apocalíptico.

O movimento apocalíptico nasce do lado de quem sofre a história e não de quem parece conduzi-la: os poderosos. Traduz a experiência dos pobres e oprimidos que, apesar de sua impotência diante do rolo compressor do império, não entregam os pontos e não perdem a esperança. Nasce dentro do medo do caos, como tentativa de manter a fé no Deus dos pais e dos profetas. Para os apocalípticos, os opressores do povo, por mais que gritem e explorem, já perderam! Mesmo que, por algum tempo, ainda deva continuar a sofrer, Deus já ganhou! As coisas vão mudar porque Deus é o Senhor e tem nas mãos as rédeas da história.

A literatura apocalíptica é explosiva e incontrolável como um vulcão. Talvez por isso somente uma pequena parte, quase só algumas amostras, figuram na Bíblia. Nela aparece quase sempre o mesmo esquema de pensamento, o mesmo quadro visionário, cujo eixo principal é a espera da chegada do “Dia de ADONAI” [Usamos aqui Adonai ao invés do tetragrama, para não ferir o Segundo Mandamento].

O “Dia de ADONAI” era esperado como o dia da manifestação da justiça de Deus contra a rei infiel e a sua corte (Is 2,12-21; Am 8,9-10; Sf 1,14). Desastres, pragas e derrotas eram interpretados como expressões de poder da ira e da justiça divinas, por exemplo: pragas do Egito, secas, terremotos.  Aos poucos, eventos históricos e pragas da natureza ganham um sentido simbólico (eclipse solar, queda de estrelas), tornam-se sinais de Deus. São a prova de que Deus protege o “pequeno resto” (Sf 2,3; 3,11-13; Ml 3,19-23; Jr 30,7) e que a infidelidade do rei e do povo põe em perigo a integridade da criação (Am 8,8-10; Sf 1,14-18; Jr 4,23-24; Jl 1,15-20).

O enfoque vai mudando. Para os apocalípticos, o “Dia de ADONAI” continua sendo o dia da justiça divina, mas já não só contra o infiel de Israel, e sim contra o império que oprime o Povo de Deus e seus aliados. Esse dia já não manifesta em acontecimentos históricos no decorrer dos anos e dos séculos, mas é a marca divina que põe um fim à história deste mundo terrestre. Os sinais cósmicos simbolizam a chegada desse fim. Prefiguram a desintegração da antiga criação e o começo de uma nova Criação (Ap 20,11-21,5).

Os apocalíticos dividiam o mundo em dois planos: o mundo de baixo (terrestre) e o mundo de cima (celeste). O mundo de baixo recebe influência do mundo de cima. Jesus dizia aos judeus: “Vós sois daqui de baixo e eu sou do alto. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo.” (Jo 8,23). No mundo de baixo, as comunidades cristãs eram perseguidas pelos poderosos da terra, sem terem como defender-se contra o império, pois as forças do mal eram mais fortes. Mas no mundo de cima, isto é, no projeto de Deus, a vitória já estava garantida. Por isso, os pobres tinham os olhos fixos no mundo de cima que não ia demorar para irromper no mundo de baixo. O “Dia de ADONAI” será o dia da grande intervenção de Deus, em que o mundo cá de baixo, com todos os seus projetos que oprimem os pobres e os explorados, vai desaparecer e ceder lugar ao mundo que vem de cima.

Autoria do Livro do Apocalipse

No prólogo o autor se diz chamar João, no entanto era costume dedicar uma obra literária a um personagem importante do passado, existem vários exemplos na Sagrada Escritura, um dos casos mais típicos é do profeta Isaias. O autor do Livro do Apocalipse invoca para si o título de “servo de Deus” (1,1b), e como profeta (1,3), mas não se autodenomina como apóstolo ou discípulo de Jesus Cristo.

Alguns autores da Igreja primitiva definiam o autor do Apocalipse como sendo João, o discípulo, filho de Zebedeu, no entanto, outros autores da mesma época dirão que o autor era um Ancião ou Presbítero. A questão da autoria fica em aberto, mas o importante é que o autor se considera um profeta e que recebeu algumas revelações decisivas por parte de Deus, e que o encarregou de comunicar às suas comunidades para animá-las a conversão e a esperança de dias melhores.

Data e local da redação          

O mais provável é que o Apocalipse tenha sido escrito até o final do reinado do imperador Domiciano (81-96 d.C.), em um momento em que os cristãos se negavam a adorar Domiciano como adoravam ao Senhor, isso acarretava acirradas perseguições por parte das autoridades romanas na Ásia Menor.

As características das Igrejas em Ap 2-3 refletem uma situação que, pelo que sabemos, concorda com a situação política, econômica, social e religiosa da Ásia Menor no final do Século I d.C.

Sete chaves para ler o livro do Apocalipse

Primeira chave: Apocalipse, livro da resistência:

Este gênero literário era muito comum nos dois séculos antes de Cristo e dois séculos depois de Cristo. O mais importante escritor apocalíptico foi o autor do livro de Daniel. Ele viveu na época da dominação selêucida na Palestina, mais especificamente no tempo de Antíoco Epífanes IV (175-164 a.C.). Esse rei impôs, pela força, a cultura e a religião dos gregos. Esse fato provocou a revolta dos Macabeus (recomenda-se a leitura desses livros). A função do livro de Daniel era apoiar e incentivar a resistência do Macabeus contra a dominação estrangeira. Tempos difíceis aqueles. O livro do Apocalipse de João se inspirou no livro de Daniel, pois foi escrito sob dominação romana, que também impunham sua cultura e religião aos israelitas e a recém-formada comunidade cristã. O livro do Apocalipse quer abrir os olhos das pessoas e torná-las conscientes da opressão e exploração a que são submetidas, estimulando-as à resistência, por isso o livro do Apocalipse é um livro de resistência. 

Segunda chave: Apocalipse, livro de denúncia:

O Apocalipse é um livro, também, de denúncia, pois logo no início (1,3) se diz, que além de ser um livro de resistência, esse livro é igualmente profecia. A profecia e a resistência caminham juntas. No AT a profecia apenas denuncia as injustiças sociais provocadas pelos poderes civis, religiosos e militares contra o povo. A apocalíptica vai além: organiza o povo a denunciar e a resistir a opressão e as injustiças causadas pelos poderosos. Há que profetizar como está escrito em 10,11.

Terceira chave: Apocalipse, livro de celebração:

Feliz o leitor e os ouvintes das palavras desta profecia, se observarem o que nela está escrito, pois o Tempo está próximo” (1,3). Com as palavras acima grifadas, pressupõe-se um clima de celebração. Celebração pela vitória de Jesus sobre a morte (cordeiro de pé, como que imolado, conforme 5,6). Essa vitória de Jesus projeta a comunidade para o futuro da nossa história: mediante a profecia e a resistência, com a força da fé e com a coragem do testemunho, chegaremos a criar com Deus “um novo céu e uma nova terra” (21,1), isto é, uma sociedade de acordo com o projeto de Deus.

O Apocalipse não deixa dúvidas: a nova sociedade não é algo que Deus prepara na outra vida; pelo contrário, ela tem suas bases em nossa história. É aqui e agora, mediante a denúncia e a resistência, que a Nova Jerusalém irá acontecer. É por isso que ao longo do livro encontraremos muitos hinos que ajudam a celebrar essa vitória. São louvores, trechos de cânticos de vitória que as comunidades primitivas cantavam em suas celebrações. Exemplos: 4,8b; 4,11; 5,9b-10; 5,12b; 5,13b.

Quarta chave: Apocalipse, livro do testemunho:

Os primeiros cristãos jamais abriram mão da sua fé em Jesus, o único Senhor. O que fazer diante da pressão e opressão dos poderosos? Resistir, ainda que isso custasse a própria vida. É por isso que o livro do Apocalipse é um livro de martiria (palavra grega que significa testemunho). A resistência ao poder opressor, a denúncia das injustiças que ele provoca na sociedade, e a celebração da fé em Jesus Ressuscitado, o único Senhor, levavam as comunidades a enfrentar o martírio.

Quinta chave: Apocalipse, livro da felicidade:

O autor ao espalhar ao longo do texto sete bem-aventuranças, (1,3; 14,13; 16,15; 19,9; 20,6; 22,7; 22,14) deixa claro que o livro do Apocalipse é o livro da felicidade. O número 7 é sinônimo de perfeição, totalidade, portanto as sete bem-aventuranças falam de uma felicidade possível e realizável, que se encontra na proposta que o livro apresenta. A mais importante de todas está em 19,9: a verdadeira felicidade é, mediante a resistência, a denúncia, a celebração e a martiria, participar do banquete do casamento do Cordeiro, tornando-se esposa dele, ou seja, criando uma sociedade justa e fraterna.

Sexta chave: Apocalipse, livro urgente:

Quando o autor escreve que o Tempo está próximo (1,3), até o ponto em que não haverá mais Tempo (10,6), pois tudo está realizado (16,17), não quer dizer que ele pensava no fim do mundo. O Tempo de que fala é o tempo da resistência, da denúncia, da celebração e da martiria que geram a felicidade de ver realizado o projeto de Deus na história da humanidade. O livro do Apocalipse, portanto, é um livro urgente, urgentíssimo, pois a Nova Jerusalém precisa acontecer, esse é o desejo de Deus. Sendo assim o livro continua sendo urgente também para nós.

Sétima chave: Apocalipse, livro da esperança:

Ao contrário do que se pensa, o Apocalipse não é um livro para se temer, mas é o livro da esperança, ele devolve a esperança às comunidades que lutam por um mundo melhor, um mundo novo. De onde vem essa esperança? Em primeiro lugar, da visão do trono no capítulo 4: Deus é o Senhor da história e a governa segundo o seu projeto. Em segundo lugar, a esperança vem do capítulo 5: O Cordeiro (Jesus Ressuscitado) vence para sempre a morte. Em terceiro lugar, dos capítulos 21 e 22: a Nova Jerusalém, símbolo da sociedade plenamente fraterna, desce do céu para a terra, para o meio da nossa história e caminhada. O ponto alto de todo o livro é seu final, o surgimento da cidade extraordinária (Nova Jerusalém), que nos faz sonhar com o paraíso terrestre. O paraíso não está nas nossas costas, e sim à nossa frente, no horizonte de nossa história. É para lá que caminhamos. É para lá que se dirige nossa esperança.

Perigos e limites do movimento apocalíptico

Perigo do fundamentalismo           

O fundamentalismo é a tendência de pegar a Bíblia, interpretar tudo ao pé da letra e procurar nela explicação para tudo. É uma tentação em épocas de incerteza e insegurança. O texto é separado da vida e da história do povo e absolutizando-a com a única manifestação da Palavra de Deus. A vida, a história do povo, a comunidade já não terá mais nada a dizer sobre Deus e a sua vontade.   É a ausência total de consciência crítica. Distorce o sentido da Bíblia e, na sua interpretação, alimenta o moralismo, o individualismo e um espiritualismo alienado. Agrada aos opressores, pois impede que os oprimidos tomem consciência da iniquidade do sistema montado e mantido por eles. Ao recusar uma visão crítica e o bom senso, o fundamentalismo pode provocar tragédias. Por exemplo, os suicídios coletivos de grupos religiosos, têm acontecido em nossos tempos. Muitos atentados e violências são atribuídos a grupos religiosos de diversas denominações. Os horrores da Inquisição na Idade Média e das Cruzadas têm a ver com o fundamentalismo.

Ora, na obscuridade das visões que, às vezes, nem o próprio vidente entende (Ap 7,14; Dn 8,15) e a ansiedade das pessoas, sufocadas pela crise, podem provocar a tentação do fundamentalismo.

Perigo do imobilismo e do fatalismo

O movimento apocalíptico ensina e sugere que o Plano da Salvação já está pronto e definido no mundo de cima. Então nós, aqui no mundo de baixo, não teríamos nenhuma contribuição a dar. Só nos resta cruzar os braços e esperar. Daí o perigo de alimentar o imobilismo e o fatalismo, impedindo a participação na luta por um mundo melhor. A comunidade de Tessalônica estava preocupada com o fim do mundo e essa preocupação criava confusões. Havia até alguns que ficavam à toa. (2Ts 3,11). Paulo tenta mostrar que a vinda do Senhor não está próxima e aconselha que “trabalhem na tranquilidade para ganhar o pão com o próprio esforço” (2Ts 3,12). Ganhar o pão para nós, mas também para os que tem fome e estão impossibilitados de ganha-lo pelo nefasto sistema capitalista, exacerbado pelo neo liberalismo, isto exige dos cristãos e das cristãs uma militância social e política baseada nos valores do Evangelho de Jesus que se configura pela justiça, solidariedade, fraternidade.

Perigo de isolamento

O movimento apocalíptico ensina e sugere que os pobres e perseguidos são os “Santos do Altíssimo” (cf. Dn 7,22-25; Ap 11,18; 12,11; 16,6), que serão salvos no “Dia de ADONAI”. São o povo eleito. Ora, essa eleição pode ser considerada um privilégio e os que se acham salvos podem ser levados a isolar-se e evitar os outros que, a seu ver, serão condenados, como se nota em alguns movimentos cristãos, inclusive católicos. Em vez de difundir o Reino, preservam-se, escondem-se, individualizam-se, dizem não à comunidade e a comunhão ou criam guetos. Em vez de realizar a missão de servir à humanidade e com os dons que Deus lhes deus e ser “luz das nações” (Is 42,6; 49,6; At 13,47), passam o tempo só orando, enquanto esperam a vinda de Jesus. Na ascensão de Jesus, “os dois homens vestidos de branco” não deixaram que os apóstolos ficassem parados, com os olhos fixos no céu (At 1,11), porque tinham uma missão a cumprir (At 1,7-8).

O perigo da manipulação

Se a experiência de Deus, de um lado, pode levar ao êxtase, de outro lado, pode apavorar. O medo é que leva o povo a dar à palavra “apocalipse” um sentido catastrófico.

Com suas visões fortes e violentas, com suas ameaças implacáveis, o Apocalipse quer imprimir medo nos opressores, e conforto aos perseguidos, mostrando que aos seus perseguidores é reservado um triste destino, se não se converterem ao amor de Deus. No entanto, numa pastoral moralista, o Ap é usado para intimidar o povo. Mas Deus não quer que a revelação dos castigos aos perversos amedronte aos fiéis. Sem cessar, procura, antes, confortá-los: “Não tenham medo!” (Ap 1,17), “Não chore!” (Ap 5,5). Por causa dos eleitos, Deus até abreviou as dores do fim dos tempos (Mc 13,20).

Os Setenários

O livro do Apocalipse apresenta cinco setenários, ou seja, cinco itens com sete elementos cada um deles. Assim temos relatados as sete cidades, sete selos, sete trombetas, sete taça, e sete bem aventuranças. Os setenários serão apresentados na medida em que formos desenvolvendo cada um deles.

Como é sabido o número sete representa a totalidade, a plenitude, a perfeição, portanto, o autor ao apresentar sete itens está relacionando a abrangência que tem cada um dos temas tratados, como veremos ao longo desse estudo.

Referências
AUTORIA COLETIVA. Evangelho de São João e Apocalipse, roteiros para reflexão IX. São Leopoldo: CEBI – Centro de Estudos Bíblicos. São Paulo: Paulus, 2000.
BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2010.
BÍBLIA DO PEREGRINO. 2ª Ed. São Paulo: Paulus, 2006.
BORTOLINI, José. Como ler o Apocalipse – Resistir e Denunciar. 8ª Ed.São Paulo: Paulus, 2008.
BROWN, Raymond E. Introdução ao Novo Testamento. 2ª Ed. São Paulo: Paulinas, 2012.
CORSINI, Eugênio. O Apocalipse de São João. São Paulo: Paulinas, 1984.
FITZMEYR, Joseph A.; MURPHY, Roland E; BROWN, Raymond E. (Orgs.) Novo Comentário Bíblico São Jeronimo: Novo Testamento e Artigos Sistemáticos. Santo André: Academia Cristã; São Paulo: Paulus, 2011.
MESTERS, Carlos. OROFINO, Francisco. Apocalipse. 2ª Ed. São Paulo: Fonte editorial; Aparecida: Santuário, 2013. TUÑI, Joseph-Oriol. XAVIER; Alegre. Escritos Joaninos e cartas católicas. 2ª Ed. São Paulo: Ave Maria, 2007.

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