Nossas jovens vidas

Você pode também escutar esta crônica na voz de “Gilberto Macedo”

Você pode nos contar como viveu os tempos da juventude em Andradina?

O pensamento se perdeu, mas, a lembrança dos idos tempos me transportou à felicidade. Sim, felicidade como um estado durável de satisfação e equilíbrio físico e psíquico, estado de contentamento, de alegria, bem estar espiritual, paz interior. Os gregos chamavam de eudaimonia, um termo ainda usado em ética. Os filósofos preferem utilizar a palavra ‘prazer’ para definir as emoções ligadas à felicidade.

Fiz um mix entre as concepções sobre a felicidade, conforme a evolução histórica e filosófica e aquilo que durante os tempos da Comunidade dos Jovens Cristãos vivenciávamos. Não tínhamos conhecimentos de filosofia, não refletíamos sobre a felicidade. Tínhamos ideais sim: caritativos, altruístas e esperançosos como propunha Maomé no século VII.

Praticávamos o altruísmo e solidariedade que formavam a religião da humanidade, conforme o positivismo de Auguste Comte. Tínhamos atitude sim: procurávamos formar comunidades de evangelização como viviam os primeiros cristãos. Jesus era (e é) o fundamento de nossas vidas. O Padre que dirigia a Comunidade era a seta que apontava para Jesus Cristo, 100% homem, 100% Deus.

Construíamos casas aos que não tinham teto: precursores dessa preocupação. Formávamos comunidades. No fundo, éramos felizes o que dá razão a Aristóteles que afirmava ser a felicidade resultado da prática da virtude, do bem. Não propúnhamos manifestos violentos, éramos favoráveis à paz, à serenidade, à sabedoria, à cortesia, à generosidade como defendiam Confúcio e mais recentemente, Mahatma Ghandi.

Algumas vezes, agíamos para superação de todos os desejos como propõe o budismo. Éramos zen. Zen dinheiro, principalmente. Às vezes, zen vergonha! Outras vezes, buscávamos a satisfação dos desejos, conforme modo de vida feliz defendida pelos epicuristas, sempre de forma equilibrada, diga-se de passagem. Em algumas situações éramos tranquilos e aceitávamos o “destino” conforme pensavam os estóicos.

Tínhamos o jornalzinho Pagão, feito em mimeógrafo: cheirinho gostoso de álcool! Um fazia as ilustrações, com o dom que Deus lhe deu; nossos escritos propunham uma sociedade igualitária, mais ou menos como aquela sonhada por Marx, só que abominando o ateísmo, sem tantas diferenças entre os homens em que se respiraria felicidade.

Tínhamos os ensaios dos jograis, das encenações, das interpretações, tínhamos os momentos de bebedeiras, serestas e cantorias nos quatro cantos da pequena Andradina, como verdadeiros aventureiros.

Tínhamos o carnaval do clube do Bolinha nos encontros de pescaria em que peixe mesmo era ilustre ausente! Aliás, Rousseau afirmava que originalmente, o homem era feliz sendo que a civilização é que estragara esse estado de harmonia. E Freud tinha razão pois vivíamos o princípio do prazer na busca da felicidade, mas havia momentos de crise quando tínhamos consciência do princípio da realidade que nos conscientizava da impossibilidade de satisfação de todos os nossos desejos, restringindo-nos à felicidade parcial, aos momentos felizes.

Passeávamos alegremente pela Praça da Cidade e pela principal Rua, no inocente rolezinho, cantando: “Estava na tristeza que dava dó, vivia vagamente, andava só, (…) azul é a cor do céu e do seu olhar também. Então, a minha vida se transformou. Vesti azul e minha sorte então mudou!” Eu acho que o Roberto Carlos conheceu a nossa história e cismou com o azul, mandando as outras cores pro inferno!

Bradávamos contra a guerra (do Vietnã, sei lá) contra a violência, a favor da paz! E hoje ainda somos bombardeados com as notícias sobre a guerra palestino-israelense, guerra na Síria, contra o tráfico de drogas e pessoas, contra a corrupção institucionalizada, contra a fome e, agora contra esse mal que a todos atormenta, dia e noite, chamada Pandemia do Covid-19 e tantas outras que são por nós mesmos promovidas, quando queremos nos colocar como Deus Todo-Poderoso!

E hoje cá estamos: setentões, meditativos, experientes, celebrando à vida, celebrando o presente que é sempre o melhor momento pois é nele que atuamos, é nele que podemos fazer a diferença, é ele o presente que o Senhor nos doa a todo instante!

Não deixamos de viver intensamente, cada hora, cada minuto e cada segundo, celebrando o encontro da amizade, motivo bastante e suficiente para a felicidade. Construtores do Reino, cada qual em seu lugar, lutando contra as injustiças, buscando o aperfeiçoamento contínuo, construindo a cada dia o futuro que acolherá nossos filhos, netos e as futuras gerações.

[Se você se identificou com algo, não é coincidência. É comunhão universal de vivências comunitárias]

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14 respostas em “Nossas jovens vidas”

Eu também vivi esse tempo…zen dinheiro, zen brinquedos, zen nada .
E ao mesmo tempo com tudo, tinha felicidade, enxergava ela em tudo….
Aqui, no meu pequeno Piauí, interiorzinho, viajei com sua história sr Irineu…
Onde um dia sua irmã Lúcia me deu o prazer de vir conhecer esse pequeno lugar, e olha que ela gostou….
Mas hoje, vivemos o presente…e as vezes nesse mundo tão conturbado, deixamos de viver momentos maravilhosos, mesmo diante de tantas circunstâncias que nos cercam….

Recordar é viver!
Que lindo essa passagem da sua juventude, compartilhada com seus velhos amigos da época!
A juventude é uma fase de fé sonhos, esperanças que resulta em felicidades!
E aqui transcrevo uma parte do texto de Chico Xavier:
” A vida na terra é uma passagem, o amor uma miragem, mas a amizade é um fio de ouro que só se quebra com a morte”
E vocês estão aí para comprovar essa verdade!
Parabéns! Que Deus os abençoe!

Irineu
Vivi estes tempos com vocês.isso é pra mim uma dádiva ter convivido com vocês todos.E com muita alegria que você nos faz retornarmos a nossa querida ANDRADINA, terra que tenho orgulho de ter nascido.
E este grupo é maravilhoso,e temos que agradecer a DEUS esta oportunidade que tivemos e dizer somos previlegiados.

Irineu Uehara, meu amigo acabei de passar por uma sessão de regressão
Participei ativamente de tudo isso em nosso grupo CJC, estive presente desde a época do Oswaldo, irmão da Amélia, hoje esposa do Boca.
Depois da missa tínhamos reunião em uma das salas, sempre havia um assunto a discutir.
Da revistinha o Pagão, nesta época eu fazia o curso de datilografia, vários amigos participavam na confecção, o Boca com seus desenhos, e caricaturas, a Israild com suas receitas, muitas vezes eu datilografava os textos, e depois tínhamos que rodar no mimeógrafo
Participei de construção de casas, fui Chacrinha em uma época, essa função era de proporcionar lazer e passeios, o transporte mais barato era de caminhão.
As missas cantadas com guitarra e violão
As quermesses no salão paroquial, os bailes
Tudo de bom !
Foi uma fase de vida, uma juventude invejável
Obrigado amigo Irineu, por nos proporcionar este retorno, essas lembranças que marcaram nossa época
Que Deus te abençoe hoje e sempre amigo

Eu vivi e convivi bom queridos amigos tudo isso e mais um pouco.
Cantei muito essa música de RCarlos, com você IRINAS, pena que nunca vesti azul, pois estava sempre “ZEN” grana….kkkkk
Querido IRINAS, você fez passar um belo filme em minha mente.
Muitassssss recordações !
Muita LUZ em seu caminho.
Obrigado, obrigado, obrigado

Também tive a sorte de participar desse grupo, nesse tempo de imenso ganho pessoal.
O texto do amigo Irineu, trouxe a saudosa lembrança de fatos que nos fizeram pessoas melhores.
Obrigado Irineu.

Vivi esse tempo, foram poucos anos mas marcantes. Lembro do Pagão, dos baixinhos no salão da igreja, de ir nas comunidades pra fazer comidas, onde aprendi que ao cozinhar o feijão se a panela não for de ferro, pegar um prego amarrar num barbante, colocar o prego pra cozinhar no feijão (até hj não sei se isso é bom pra anemia), lembro tbm de ir na casa das freiras missionárias prá fazer hóstia. Tempo bom.

Amigo Irineu você, trouxe o passado lindo e maravilhoso que vivemos. Como é bom recordar. Viver novamente nos pensamentos e sentimentos. Obrigado Amigo

Vivi a época. Revivi agora, inspirado pelo texto. Lembrei-me do que foi relatado e de muitas outras experiências. Todas colaboraram para eu ser o que sou. Imagino que os demais amigos tenham tido a mesma sensação. Obrigado, Irineu, por nós lembrar.

Me achei em várias passagens da sua narrativa. Fui transportado para nossa querida Andradina, e as lembranças fluiram com bastante nitidez. Me recordo de participar de construção de casas para carentes, na região da Vila Mineira, outrora chamada de “Maquininha”, em homenagem a uma beneficiadora de arroz, que lá existia. Se minha memória não estiver me traindo, estavam comigo nessas obras, Israild, Cazuza, além de outros (as).Parabéns Irineu.

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