Despertar das Responsabilidades Ecológicas
Faz-se necessário a ampliação do desenvolvimento de atitudes ecológicas incidentes sobre a questão da corresponsabilidade, com vistas à formação da nova mentalidade, transformadora do atual senso comum que desconsidera a importância da preservação da vida e que fomentará iniciativas para impedir a destruição de ecossistemas, desequilíbrios da biosfera, degradação dos espaços rurais e urbanos, quadro que ameaça até mesmo áreas intocadas do planeta; trata-se de uma ação fundamental e de extrema urgência, o diálogo entre os diversos setores da sociedade humana mundial ajudará a apontar caminhos e possíveis soluções. A conscientização a partir desse alerta, quanto mais rápido acontecer, melhor a possibilidade de evitar o fim da nossa espécie, portanto a mobilização envolvendo cidades, áreas rurais, países, governos, educadores e demais agentes de transformação, a qual promoverá ações para consertar os múltiplos estragos em que fizemos, e aquilo que erramos contra a nossa mãe Terra. Nesses últimos séculos, a humanidade tem tratado a Terra sob uma relação de domínio, explorando de forma desenfreada, sem controle seus recursos naturais; agindo com poder, colocou-se os interesses econômicos e os modelos de desenvolvimento, e industrialização acima do uso sustentável dos recursos da natureza, sobrepondo a biodiversidade.
Tal ignorância, causou danos em escala planetária, universal contra a grande comunidade biótica, terrenal e cósmica. Felizmente, hoje, compreende-se que avanços na consciência com base na dimensão ética ecológica tem nos levado a compreender que a nossa sobrevivência depende de caminharmos juntos, de maneira integrativa, com a mãe Terra e os demais seres: a humanidade tem a inadiável tarefa de resolver tais crises. As problemáticas de dimensões globais, advertem para a necessidade de tomada de consciência conjunta, através da qual, as ações do presente contribuirão para evitar a destruição das condições de bem-estar ecológico das gerações futuras.1
Conforme o pensamento de Karl Jaspers, o fundamento ontológico da responsabilidade pela Terra, perpassa pela conversão da razão, “A responsabilidade moral pode dar-se somente por aquilo que nos é confiado”, é sabido que, por Deus, tudo nos foi confiado, todas as coisas existentes, o ser na sua totalidade. Karl Jaspers viveu no período pós-segunda guerra mundial, e seu pensamento foi influenciado em decorrência do medo iminente da humanidade, com uma possível ameaça de destruição nuclear do planeta, através de uma terceira guerra mundial, haja visto que em 1945, ocorrera a tragédia de Hiroshima e Nagasaki. Isto motivou muitos agentes da paz a desenvolver formas para resoluções de problemas, a partir de uma ética que fosse capaz de fomentar um pensamento radical difusamente.
“Faz-se necessário que a humanidade aumente a consciência do presente, a fim de que, sob essa base de conscientização, a razão possa adquirir um novo rumo, uma verdadeira conversão que, para ele, é o pressuposto para toda e qualquer libertação da história da violência. […]. É a intencionalidade da razão que, por amor indissolúvel ao homem e à verdade, está disposta a uma radical conversão de si mesma…”
MANCINI, R. e Outros Autores. Éticas da Mundialidade: O nascimento de uma consciência planetária. Coleção: Ética e Sociedade. Editora Paulinas, São Paulo, 2000. p. 15, 16, 17.
Paul Ricoeur, dentro dessa perspectiva aborda o conceito de consciência a partir de três aspectos centrais: A polaridade, a qual, segundo ele, decorre das experiências do passado, da memória, do conhecimento adquirido, sinalizando as previsões do futuro. O segundo aspecto é denominado troca, da mesma maneira que a polaridade, nasce também das experiências adquiridas, porém, gera no homem uma capacidade de iniciativa, abrindo possibilidade de interferirmos no curso da história, com condições de criar novos valores, novos projetos, e até novos acontecimentos. O terceiro aspecto alerta para um sentido de orientação, o qual nasce de um sonho, uma expectativa que afeta positivamente, quando construtiva, e negativamente, quando revela a falta de sentido. A qualidade da consciência histórica dependerá do sentido de orientação; isto causará a abertura para as inúmeras questões sobre a consciência planetária.2
Precisamos consumir para viver. Mas devemos consumir com responsabilidade e com solidariedade para com os outros. Os governos administram desigualmente os bens públicos, privatizam, planejam políticas públicas e sociais pobres para os pobres e ricas para os ricos e poderosos, sejam indivíduos, empresas ou classes; atendem primeiramente a seus interesses, garantem seu tipo de consumo e são atentos às suas expectativas. Não os incentivam a olhar para os lados onde estão os outros e, assim, fazer e refazer a solidariedade social. Tais governos não realizam a definição mínima de política, que é a busca comum do bem comum e o cuidado das coisas do povo. Por isso, são antiéticos e fautores de atitudes coletivas em contradição com os apelos éticos. Não se orientam pelo outro, que é o princípio fundador da ética básica. Não cuidam da vida, da vida das pessoas, da natureza e da Terra como superorganismo vivo, chamado de Gaia.
BOFF, Leonardo. Do Iceberg à Arca de Noé: O nascimento de uma ética planetária. Editora Garamond, Rio de Janeiro, 2002. p. 96 e 97.
Notas 1) BOFF, Leonardo. Ethos Mundial. Editora Record, Rio de Janeiro — São Paulo, 2009. p. 16 e 17. 2) RICOEUR. Paul. A crise da consciência histórica e a Europa. Lua Nova — Revista de Cultura e Político, São Paulo, n, 33, P. 87 e 88. 1994.
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