O presente artigo, continuação do anterior, apresenta, as duas últimas viagens que Paulo realizou, levando o Evangelho de Jesus Cristo. Algumas comunidades foram fundadas por ele, outras, já haviam embriões do cristianismo, que Paulo fortalece com suas pregações.
Descrevemos com alguns detalhes, as cidades percorridas por Paulo e seus companheiros, para que fique mais claro, ao leitor, as diversas situações: políticas, sociais, econômicas, de perigo, mas também, de sucesso, que ele viveu ao, destemidamente, cumprir a missão que lhe foi delegada pelo próprio Cristo.
Terceira Viagem
A terceira viagem de Paulo inicia, como as anteriores, em Antioquia da Síria. A finalidade dessa viagem é visitar as comunidades já fundadas, a fim de fortalecer os discípulos (At 18,23). Em Atos dos Apóstolos (At) não são fornecidos maiores detalhes da primeira etapa dessa viagem. A preocupação de Lucas é concentrar a atenção nos acontecimentos de Éfeso, para chegar a essa cidade, Paulo percorreu o caminho da Segunda Viagem: Antioquia da Síria, Tarso, Derbe, Listra, Icônio, Antioquia da Pisídia. Passou novamente pela região da Galácia e da Frígia, para chegar a Éfeso, o terceiro centro de difusão do cristianismo, depois de Jerusalém e Antioquia.
Éfeso: Era a capital da Ásia Proconsular, Paulo se detém nessa cidade por mais de dois anos. As informações dos At são incompletas a respeito do que aconteceu ao apóstolo nessa cidade. Provavelmente Paulo esteve preso. É um tempo de intensa correspondência com as comunidades. Com muita probabilidade, é nesse período que escreve aos filipenses (a Carta aos Filipenses é uma coleção de bilhetes escritos nessa época, mas em ocasiões diferentes). A correspondência com a comunidade de Corinto é desse tempo. Também a Carta aos Colossenses e a Carta a Filemon pode ser desse período, se aceitamos o princípio de que Paulo esteve preso em Éfeso. Provavelmente também a Carta aos Gálatas foi escrita nessa cidade.
Éfeso era uma cidade importante, pois constituía o entroncamento das rotas comerciais entre o Ocidente e o Oriente. Uma das sete maravilhas do mundo antigo era o templo da deusa Ártemis, em torno da qual girava toda a religião da cidade. Grande parte do comércio vivia às custas do culto a essa deusa. Éfeso era, por isso, um centro de peregrinações. Além disso, havia muitos magos na cidade.
É dentro desse contexto que devemos situar a atividade missionária de Paulo em Éfeso. Por essa cidade havia passado Apolo (At 18,24), que foi instruído por Áquila e Priscila ou Prisca (At 18,26). Paulo encontrou aí uma comunidade incipiente, pois seus membros conheciam somente o batismo de João (At 19,1-7).
A pregação de Paulo em Éfeso tem duas etapas: durante três meses prega na sinagoga (At 19,8), onde poucos judeus acolhem a mensagem; durante mais de dois anos (At 19,9-10) anuncia a Palavra aos pagãos, com enorme sucesso. Alguns episódios pitorescos marcaram esse período (At 19,11-20).
Paulo pretendia voltar a Jerusalém, a fim de levar àquela igreja pobre a coleta feita nas comunidades da Macedônia e da Acaia. por isso visita essas comunidades. Depois de Jerusalém, pretende ir a Roma (At 19,21).
A Boa Nova em Éfeso provocou crise política, econômica e social (At 19,23-41). Os fabricantes de lembranças da deusa Ártemis suscitaram um tumulto sem precedentes na cidade e Paulo se viu forçado a abandoná-la às pressas (At 20,1).
Os At nada falam da visita do apóstolo às cidades anteriormente visitadas: Trôade, Filipos, Anfípolis, Apolônia, Tessalônica e Beréia. Contudo, Paulo refez, ainda que rapidamente, esse caminho.
Corinto: A Cartas aos Coríntios haviam serenado os ânimos da comunidade, de sorte que Paulo pôde passar aí alguns meses (At 20,3). Pode ser que a Carta aos Romanos foi escrita aqui.
Paulo tencionava voltar logo a Antioquia da Síria, mas ficou sabendo que os judeus lhe teriam armado uma emboscada. Por isso decidiu voltar por terra, revendo novamente as comunidades da Macedônia: Beréia, Tessalônica, Apolônia, Anfípolis, Filipos e Neápolis (At 20,3-5).
Trôade: Cinco dias depois de terem partido de Filipos, chegaram a Trôade (At 20,6). Nesta cidade Paulo celebra a Eucaristia com a comunidade e ressuscita o jovem Êutico (At 20,7-12). Uma semana depois, Paulo parte para Assos, onde toma um navio para Mitilene (At 20,13-14). No dia seguinte, chegaram à ilha Quio, e um dia depois aportaram em Samos. Com mais um dia de viagem chegaram a Trogílio, e dali a Mileto (At 20,15).
Mileto: Paulo não quis voltar a Éfeso, que ficava perto de Trogílio, para não se atrasar, pois queria estar em Jerusalém para a festa de Pentecostes (At 20,16). De Mileto mandou chamar os líderes de comunidade de Éfeso, para se despedir deles (At 20,17-38).
De Mileto navegaram para a ilha de Cós. Passando por Pátara, na Lícia, encontraram um navio pronto a partir para a Fenícia. Deixando a ilha de Chipre à esquerda, navegaram até Tiro (At 21,6).
No plano de At, o fim da atividade paulina em Éfeso marca o início da “paixão” de Paulo: a partir daquele momento ele é “prisioneiro de Cristo”. Jerusalém poderá ser o lugar onde será morto. Os amigos de Paulo fazem previsões sinistras. Ele, contudo, está disposto a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus (At 21,7-14).
Quarta Viagem
Jerusalém: Paulo é preso no Templo pelos mesmos judeus que o haviam perseguido na Ásia (At 21,17). Depois de preso, foi levado diante do Sinédrio, a corte suprema dos judeus. Paulo usou de muita habilidade, fazendo com que os membros do Sinédrio brigassem entre si por causa da questão da ressurreição dos mortos (At 23,1-10). De fato, o Sinédrio era composto de fariseus e saduceus, que tinham opiniões contrastantes a respeito da ressurreição dos mortos.
Depois disso, um grupo de judeus jurou nada comer até que Paulo fosse morto. Sob pretexto de novo interrogatório diante do Sinédrio, haviam montado uma conspiração. Um sobrinho de Paulo ouviu a trama e salvou o tio da morte, pois o tribuno Cláudio Lísias, sabendo disso, enviou o apóstolo a Cesaréia, de noite, fortemente escoltado (At 23,12-23). No dia seguinte, Paulo chega a Antipátrida (At 23,31) e dali a Cesaréia.
Cesaréia: Em Cesaréia morava o governador Félix. Ele esperou a chegada dos acusadores para dirimir a questão. Paulo permaneceu preso nessa cidade de 58 a 60. As acusações levantadas contra ele não tinham fundamento. A morosidade do governador e seu desejo de conseguir dinheiro de Paulo fizeram com que seu caso fosse protelado (At 24,22-26).
Passados dois anos, Félix foi substituído por Pórcio Festo (At 24,27). Os perseguidores de Paulo logo trataram de reacender a questão; queriam que ele fosse levado a Jerusalém, onde o matariam numa emboscada (At 25,1-3). Festo tratou de resolver logo a questão. Querendo ser condescendente com os judeus, tencionava devolver o apóstolo a Jerusalém. Mas ele apelou a César (At 25,6-12). Antes de partir para Roma, Paulo se encontrou com o rei Agripa e Berenice, sua esposa (At 25,13-26,30). Todos foram unânimes em considerar Paulo inocente (At 26,31).
Viagem para Roma: As peripécias da viagem que vai de Cesaréia a Roma são narradas com pormenores em At 27,1-28,14. A primeira escala foi em Sidônia, onde Paulo se despediu dos amigos (27,3). Em Mira, na Lícia, Paulo e seus companheiros foram transferidos para um navio que se destinava à Itália (At 27,5-6). A Partir daí a viagem se tornou extremamente arriscada, pois durante o inverno as viagens por mar ficavam suspensas. Depois de breve permanência em Bons Portos, na ilha de Creta (At 27,8), o centurião decidiu prosseguir viagem. Um furacão chamado Euroaquilão arrastou o navio, que perdeu a direção, navegando à deriva por catorze dias (At 27,13-27). O navio foi encalhar nas costas da ilha de Malta (At 27,28-44). Nessa ilha Paulo se salva da picada de uma víbora (At 28,1-6) e cura o pai do governador de Malta (At 28,7-10).
Três meses depois embarcaram num navio que faria escala em Siracusa, na Sícilia. Três dias depois, o navio partiu para Régio e, com mais dois dias, aportou em Putéoli. Paulo se deteve uma semana com os cristãos daquela cidade e, a seguir, por terra dirigiu-se à Roma.
Roma: Os cristãos de Roma foram receber o apóstolo em Foro de Ápio e Três Tabernas. Paulo chegou, assim, ao centro do Império Romano. Ali, ele se dirigiu mais uma vez aos judeus, que rejeitaram sua mensagem (At 28,17-28). Dos anos 61 a 63 viveu sob custódia militar. Trabalhou e consegui alugar uma casa (At 28,30). Alguns estudiosos propõem esse período como a época em que ele teria escrito aos colossenses, aos efésios e a Filemon.
No ano 63 Paulo foi posto em liberdade. Alguns estudiosos sustentam que ele teria viajado à Espanha, como era seu desejo (Rm 15,24s). Há quem afirme que teria, pelo ano 65, voltado a Éfeso (cf 1Tm 1,3) e a Creta (cf Tt 1,5), passando depois pela Macedônia, de onde teria escrito a primeira carta a Timóteo (cf 1Tm1,3) e a carta a Tito. Os Atos dos Apóstolos silenciam a respeito.
Cerca do ano 67, Paulo está novamente na prisão em Roma. Por essa ocasião teria escrito a segunda carta a Timóteo, qual testamento espiritual. Logo depois é decapitado.
Referências Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2012. Mapas da Bíblia. São Paulo: Paulus, 1987.
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4 respostas em “As viagens de Paulo (Pt 2)”
Caro irmão Jairo, Obrigado pelo rico material disponibilizado. gosto de seu ponto de vista em não polemizar os pontos que por si já são polêmicos, deixando a cargo do pesquisador tirar suas conclusões.
que Deus o abençoe ricamente.
amei o seu texto e suas pesquisas, que certamente desprenderam bastante tempo para nos dar um material fantástico. obrigado.
Prezado Irmão Francisco. Paz e bem.
Muito obrigado por suas palavras, são incentivadoras para que continuemos nosso trabalho de levar um pouco de teologia para quem desejar algum conhecimento teológico de forma simples, sem rebuscamentos. Ficamos a disposição se você tiver sugestões de temas a serem tratados no site. Forte abraço. Que a Luz da Santíssima Trindade esteja sempre contigo.
Meu amigo teólogo, eu particularmente falo em três viagens de Paulo, já que a quarta viagem ele era prisioneiro e fez sua viagem encarcerado. Em relação a ida a Espanha eu não acredito que ele foi, por uma questão até racional. Baseado em tudo que estudamos sobre o império Romano, acho pouco provável Paulo ter sido libertado para ir até a Espanha e depois retornou para o cárcere. É apenas minha visão, inclusive seria muito bom nos reunirmos para debater.
Olá Fábio, mais uma vez, obrigado pela visita e pelo rico comentário.
Embora Paulo estive como prisioneiro na viagem à Roma, eu penso que podemos nomeá-la de quarta viagem e viagem evangelizadora; pois por onde Paulo passa, sempre deixa a Boa Nova de Jesus. Mesmo encarcerado ele continua a falar de Jesus Cristo. Isso fica claro em At a partir de seu cárcere, mesmo ainda em Israel. Para se ter uma ideia da força pregadora de Paulo durante a quarta viagem a Ilha de Malta, até hoje celebra no dia 10 de fevereiro a festa do naufrágio que ele sofre e vai para nessa ilha, mesmo ali, ele faz sua pregação, durante 3 meses em que fica na ilha (cf At28). Alias a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, no hemisfério norte é celebrada entre 18 e 25 de Janeiro, por ser a data de memória da conversão de Paulo. Mesmo em Roma, onde, segundo At, ele permanece por dois anos, nunca deixou de proclamar a Boa Nova de Jesus. Por tudo isso, penso, sim que podemos chamar a sua última viagem como quarta viagem apostólica.
Com Relação a viagem à Espanha, há pensadores que digam que sim, há os que negam. Eu preferi colocar, porque há controvérsias sobre o assunto, daí poder criar o desejo de quere pesquisar mais. O artigo não encerra em si a polêmica.
Devemos lembrar que durante o Império Romano, haviam momentos de perseguição aos cristãos, (e não só aos cristãos, mas aos judeus, e outras religiões que se negavam a adorar o imperador), mas também haviam momentos de relativa paz, em que não haviam perseguições. Eventualmente, num desses períodos Paulo, pode ter sido solto, feito a viagem, como desejava, e ter sido preso e perseguido novamente.
O que importa de fato, é a grande figura de Paulo, que uma vez, feita a experiência de Jesus, ressuscitado, acreditou Nele, e levou, leva e levará a Boa Nova “até os confins da terra”. Forte Abraço.